Prisão de Queiroz foi “espetaculosa”, diz Bolsonaro

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O presidente da República, Jair Bolsonaro. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

São Paulo, 19 de junho de 2020 – O presidente Jair Bolsonaro disse que a prisão de Fabrício Queiroz – ex-assessor de seu filho, Flávio Bolsonaro – foi “espetaculosa” porque ele não estava foragido nem demonstrava falta de cooperação com a justiça. O presidente, porém, não comentou sobre o fato de Queiroz ter sido encontrado num imóvel de Frederick Wassef, advogado próximo da família Bolsonaro que chegou a dizer em entrevistas à imprensa não saber onde estava o ex-assessor.

“Deixo bem claro, não sou advogado do Queiroz e não estou envolvido neste processo, mas o Queiroz não estava foragido e não havia nenhum mandado de prisão contra ele”, disse Bolsonaro ontem à noite durante uma transmissão em suas redes sociais.

“Foi feita uma prisão espetaculosa”, afirmou o presidente, acrescentando que “parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da terra. Que a justiça o diga, siga o seu caminho. Repito: não estava foragido e não havia nenhum mandado de prisão contra ele.”

Bolsonaro chegou a comentar que Queiroz estava em Atibaia porque faz tratamento contra o câncer naquela região do interior paulista, mas não fez nenhum outro comentário a respeito do local onde Queiroz foi encontrado.

Queiroz foi assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) quando o filho do presidente tinha mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro. Ele foi preso ontem numa operação relacionada ao inquérito que investiga se servidores da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) devolveram parte do salário que recebiam a Flávio durante seu mandato de deputado – prática conhecida como “rachadinha”.

As investigações em torno de “rachadinhas” na Alerj começaram em janeiro 2018 após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviar ao MP-RJ informações sobre movimentações financeiras suspeitas envolvendo deputados estaduais e membros de seus gabinetes.

Em maio daquele ano, surgiram os primeiros elementos vinculando as operações de Queiroz a Flávio Bolsonaro, e em dezembro Queiroz foi notificado a prestar depoimento pela primeira vez, mas não compareceu. Até 2019, ele faltou em pelo menos mais três audiências com os promotores, alegando motivos de saúde.

Neste ínterim, a imprensa teve acesso aos dados do relatório do Coaf que motivou as investigações e mostrou que o documento apontava movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz fora exonerado do gabinete de Flávio em outubro de 2018.

No relatório, o Coaf também apontava que Queiroz havia feito um cheque de R$ 24 mil para atual primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro chegou a comentar que o valor era parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que havia feito a Queiroz.

O documento dizia também que, em 2017, Queiroz fez 10 transações fracionadas no total de R$ 49 mil, numa possível tentativa de contornar regras que determinam a notificação de operações de alto valor ao Coaf.

Dias depois dos dados virem à tona, em dezembro de 2018, Flávio Bolsonaro disse não ter feito “nada de errado” e que era “o maior interessado em que tudo se esclareça”. Ele também disse que conversou com Queiroz e que o ex-assessor contou “uma história bastante plausível” e sem “ilegalidade” para explicar as transações apontadas pelo relatório do Coaf.

No final daquele mês, Queiroz disse em entrevista ao SBT que comprava e revendia carros como justificava para as movimentações atípicas em sua conta.