Bolsa fecha em queda pelo 3º dia consecutivo e dólar sobe com risco fiscal e receio de estagflação

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda pelo terceiro dia consecutivo em que o cenário político e econômico preocupa os investidores com os riscos fiscais devido à abertura de espaço para romper com o teto de gastos e o receio com a estagflação no Brasil.

Mais cedo, o Ministério da Economia revisou as estimativas para o PIB para este ano e 2022 e inflação, melhores que do mercado.

As empresas varejistas tiveram mais um dia de queda. As ações da Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) fecharam em baixa de 4,82%, 2,96% e 2,57%, respectivamente. Nos últimos 30 dias, Magazine Luiza caiu em torno de 36%; Via ao redor de 31% e Americanas 11,5%.

Em dia de vencimento de opções sobre o índice, a Bolsa apresentou muita volatilidade na primeira metade do pregão.

O principal índice da B3 caiu 1,39%, aos 102.948,45 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,39%, aos 103.535 pontos. A mínima no interdiário foi de 102.551,17 pontos. O giro financeiro foi de R$ 45 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam queda.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de mesa de renda variável da Venice Investimentos, comentou que a questão política aliada à econômica leva a Bolsa a retroceder forte na segunda metade do pregão.

“É o terceiro dia seguido que observamos esse movimento negativo com um cenário em que os últimos indicadores de inflação têm mostrado um patamar em elevação, mas a grande preocupação dos investidores fica para 2022 em que temos alta de juros e inflação em níveis elevados e com crescimento baixo-a estagflação, sendo muito prejudicial à economia”.

E no ambiente político, segundo Hashimoto, a indefinição da PEC dos precatórios com o impasse em relação à questão orçamentária e quanto de espaço pode ser liberado para avançar nesse tema traz receio por parte dos investidores devido a um movimento populista de Bolsonaro com o Auxílio Brasil, auxílio gás e o reajuste de servidores.

Para o sócio e operador de mesa de renda variável da Venice Investimentos, os investidores também ficam preocupados com a alta de juros dos Estados Unidos. “Alguns membros sinalizando uma retirada de estímulos mais rápida que o mercado espera e isso pode trazer um enxugamento de liquidez para o mercado de renda variável”.

Rodrigo Moliterno, analista da Veedha Investimentos, afirmou que o imbróglio da PEC dos precatórios faz os investidores trabalhar na incerteza e a questão fiscal fica perdida.
“Essa situação de que a proposta vai para o Senado e com a probabilidade de ser alterada, depois volta à Câmara e o governo quer colocar tudo no texto da PEC e não há espaço está deixando o mercado bem desconfortável”.

Moliterno enfatizou que “o governo fica querendo fazer essas medidas populistas e quem sofre é o mercado. Precisamos ter uma solução para a PEC dos precatórios”. A proposta está prevista para ser votada na próxima semana.

O dólar comercial fechou em R$ 5,5260, com alta de 0,49%. A moeda norte-americana foi fortemente pressionada pela situação fiscal doméstica, tendo a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios como protagonista, mantendo uma situação de incertezas que se arrastam há meses.

Para a equipe de analistas da Ouro Preto Investimentos, “o fiscal não é resolvido e o Bolsonaro cria ainda mais incertezas com intenções populistas para 2022”. Caso o mercado tivesse a segurança que o rombo não seria maior que os R$ 90 bilhões, a situação seria diferente: “Qual vai ser a próxima classe a ser beneficiada?”, indaga a Ouro Preto.

Ainda de acordo com a Ouro Preto, o Brasil segue um movimento de descolamento dos outros emergentes: “É muito difícil o país aproveitar as boas ondas internacionais. Apesar das preocupações com a inflação global, já existe um movimento de recuperação, mas aqui ocorre o inverso”, enfatiza.

A Ouro Preto projeta que, pelo andar da carruagem, tal cenário deve perdurar até o período eleitoral do próximo ano: “Nem o aumento dos juros, que poderia ser um atrativo, está funcionando. Aqui o buraco é bem mais embaixo”, constata.

Para o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “existe uma euforia global com a possibilidade de aumento dos juros nos Estados Unidos”.

Nagem acredita, porém, que as questões domésticas continuam sendo um impeditivo: “Ainda estamos em uma crise política, com o presidente enfrentando enormes dificuldades para encontrar um partido político”, pondera.

Estas indefinições fiscais, diz Nagem, geram incertezas, principalmente nos investidores estrangeiros. “O câmbio é imprevisível, e o único consenso é que, independente das medidas, o governo está buscando dinheiro”, salienta.

Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta com incertezas acerca da tramitação da PEC dos Precatórios no Senado.

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,532% de 8,524% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,020%, de 11,990%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,990%, de 11,830% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,900% de 11,660%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com as persistentes preocupações com a inflação diminuindo o otimismo dos investidores.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos:

Dow Jones: -0,58%, 35.931,05 pontos

Nasdaq Composto: -0,33%, 15.921,6 pontos

S&P 500: -0,26%, 4.688,67 pontos