Renda variável despenca 75,1% e soma R$ 19 bilhões no primeiro semestre, diz Anbima

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São Paulo – O mercado de capitais doméstico teve movimentação de R$ 233 bilhões na primeira metade do ano, queda de 12,1% em relação ao primeiro semestre de 2021, sendo R$ 202 bilhões em renda fixa (+25,0%), R$ 19 bilhões em renda variável (-75,1%) e R$ 12 bilhões de híbridos (-56,1%).

“Com juros mais alto e um cenário de maior aversão ao risco, é natural que o fluxo se mova para um mercado mais conservador, que é o da renda fixa. O outra tendência observada no período foi a entrada de investidores institucionais, com alocações de curto prazo”, comentou José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima. “À medida que os fundamentos forem melhorando, o mercado de ações vai voltar a crescer”, acredita.

Entre os instrumentos de maior alta no período destacam-se Certificados de recebíveis do agronegócio, os CRAs (53,9%), debêntures (+35,3%) e os Certificados de recebíveis imobiliários, os CRIs (+13,4%).As maiores quedas foram do mercado de ações (-75,1%), os Fundos de Investimento Imobiliários, os FIIs (-66,7%), os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, os FIDCs (-43,5%) e as notas promissórias (-25,0%).

As notas comerciais e FIAGRO totalizaram R$ 14 bilhões e R$ 3 bilhões entre janeiro e junho de 2022, segundo a Anbima.

Na renda variável, o destaque negativo foram as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), com R$ 400 milhões no primeiro semestre de 2022, de R$ 35,7 bilhões no mesmo intervalo de 2021. Em distribuições secundárias de ações (follow-ons), houve movimentação de R$ 18,5 bilhões, de R$ 40 bilhões entre janeiro e junho de 2021.

José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, destacou que o mercado de IPOs foi prejudicado pela queda dos negócios na Bolsa, com redução da liquidez, somado ao desempenho ruim de empresas que foram a mercado no ano passado.

“A bolsa a 130 mil pontos nesse ano, que é a previsão de muitas casas de análises, pode mudar mesmo com juros a 13%. Estamos muito ativos e ocupados com assuntos de crescimento, não há perspectiva de ruptura, o mercado vai continuar. Quem vier [o próximo governo] vai ter que ter equilíbrio, a vida segue”, comentou o executivo.

A destinação dos recursos em renda variável foram para reforço de caixa e crescimento das companhias, principalmente. De um total de R$ 18 bilhões em 12 operações de emissão primária, 41,7% foram para aquisição de ativos e atividades operacionais, por exemplo.

Em renda fixa e híbridos, as debêntures tiveram movimentação de R$ 133,8 bilhões, FIDCs 18,8 bilhões, CRI 16,1 bilhões foram as maiores movimentações. As debêntures totalizaram 225 emissões no primeiro semestre, 83,5% indexadas por DI+Spread, com prazo médio de seis anos, a maior parte para o setor de energia. Do total, 49 emissões foram acima de R$ 1 bilhão e 36,7% dos recursos foram para aumentar o capital de giro das empresas.

Cristiano Cury, coordenador da Comissão de Renda Fixa da Anbima, disse que vários players novos entraram no mercado de debêntures, como institucionais que não tinham o mercado de crédito como seu principal negócio, o que deu mais profundidade ao negócio. “A realocação de passivo das empresas do mercado externo (bonds) para o mercado doméstico também explica esse crescimento do mercado de renda fixa”, comentou o executivo.

As debêntures incentivadas – que têm prazos mais longos do que as debêntures simples – totalizaram R$ 19,6 bilhões, com 47 operações no primeiro semestre. Os prazos médios desse tipo de emissão passaram de 10,6 anos em 2021 para 11,2 anos em 2022, enquanto as simples de 4,4 para 5,1.

Os subscritores das debêntures incentivadas na primeira metade de 2022 foram intermediários e demais participantes ligados à oferta (32,4%), fundos de investimento (31,2%), pessoas físicas (28,9%) e investidores institucionais (7,5%).

“O BNDES foi um grande parceiro do mercado de capitais nesta área. Hoje, o mercado deste instrumento representa mais de 15% das debêntures do semestre”, destacou Cury.

O mercado de capitais externo teve US$ 5 bilhões com 10 emissões, sendo US$ 3,9 bilhões captados por empresas e US$ 1 bilhões por instituições financeiras. Também houve uma emissão de ações de US$ 43 milhões. “Esse mercado é complementar ao mercado interno”, segundo José Lanoni.