O que esperar dos bancos em 2021?

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São Paulo – O ano de 2021 deve ser de recuperação para os bancos, que devem seguir os bons resultados apresentados no terceiro trimestre e aumentar os lucros, indicam especialistas consultados pela Agência CMA. Ainda que a economia ande a passos lentos e ameaçada pelo risco de novos fechamentos por conta do avanço da pandemia de covid-19, o mercado mostra uma visão mais construtiva para o setor, que vêm recuperando o valor perdido durante a pandemia.  

Depois de meses difíceis na bolsa de valores, o valor de mercado dos três maiores bancos privados já voltou a subir de outubro a novembro, com crescimentos de quase 23%. O Santander encerrou novembro valendo R$ 145,6 milhões, alta de 22,48% em relação ao seu valor em outubro, seguido pela valorização de 19,88% do Bradesco, para R$ 203,8 milhões, e 19,46% do Itaú Unibanco, para R$ 266,1 milhões.

O Banco do Brasil foi o que teve o crescimento mais modesto entre os quatro grandes bancos brasileiros, de 13,62%, e fechou o mês com valor de mercado de R$ 97,02 milhões, segundo dados da B3.

“2020 era pra ter sido um ano muito bom para os bancos, havia uma dinâmica de crédito muito boa, mas com a pandemia, houve uma contração desse ritmo, os bancos se voltaram para as grandes empresas e o custo de crédito subiu muito por conta da previsão de inadimplência, que acabou não ocorrendo e que ainda terá um pico”, avalia Marcel Campos, analista do setor financeiro da XP.

No entanto, na visão dos especialistas, como o nível de provisões dos bancos está alto, a curto prazo, o que pode ocorrer é uma revisão dessas reservas, que levará a um aumento de rentabilidade e uma possível supervalorização dos papéis dos bancos.

“Estamos preocupados com o nível de inadimplência que virá, mas os bancos estão preparados para esse aumento. Os balanços indicam que eles têm mais reserva de provisão do que tem inadimplência, com suporte até três vezes o nível de inadimplência que eles têm hoje”, disse Campos. “Então, a expectativa é de que talvez possa até haver revisão de provisões, o que significa que teriam lucros bem maiores do que o mercado espera”, completou. A redução das provisões ainda levaria a um menor custo de crédito do que em 2020. 

Essa visão é compartilhada por outros analistas, como Eduardo Nishio, analista-chefe da Genial Investimentos. “Em 2021, deve haver uma provável reversão, ou uma menor necessidade de fazer provisões e os bancos devem entregar melhores resultados. Talvez ainda não como os de 2019, mas haverá uma volta de rentabilidade e de dividendos”, avalia. 

Nishio lembra que esse ano, em função da pandemia, a distribuição de lucros dos bancos aos acionistas foi limitada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até dezembro, segundo a Resolução CMN no. 4.797, publicada em 6 de abril. 

O analista Rafael Weber, sócio da RJI Gestão e Investimentos, é outro que destaca a melhor expectativa sobre dividendos para 2021. “Os bancos ainda estão defasados em relação a outros setores, o próprio Ibovespa já ficou positivo no ano, mas os papéis de bancos ainda estão no terreno negativo. Então, com essa recuperação em 2021, podem retornar a pagar dividendos maiores”, afirma. 

Após o fim da limitação do pagamento de proventos em 2021, o analista da XP acredita que os bancos podem apresentar um yield de dividendos de até 5%, um nível que considera interessante. 

RECUPERAÇÃO DE PREÇOS

Para o Credit Suisse, as instituições financeiras já tiveram uma merecida reavaliação desde o fim de setembro e aponta que a tendência deve se manter em 2021, alimentada pela recuperação da economia e expectativa de melhora significativa na rentabilidade das companhias.

Mesmo assim, os analistas Marcelo Telles, Otavio Tanganelli, Alonso Garcia e Juliana Araujo afirmam que as ações do Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil ainda estão sendo negociadas a um preço 15% abaixo de seus níveis médios de preço contábil de 12 meses no final de 2019, o que fez reiteraram a recomendação “outperform” (equivalente à compra) para as três instituições. 

Em relação ao Banco do Brasil, as ações ainda estão defasadas em relação a de seus pares do setor privado, sendo negociadas quase 30% abaixo dos níveis de dezembro de 2019 e 15% abaixo dos bancos privados, disseram os analistas, que também reiteraram a recomendação de compra das ações do banco estatal.

O sócio da RJI Gestão e Investimentos lembra que, em novembro, houve um movimento de rotação muito forte dos ativos em bolsa, com investidores voltando a comprar ações de segmentos como os de bancos, que foram mais impactados na pandemia e estavam muito defasados em relação a outros setores, como siderurgia, construção civil e mineração.

Para o analista, porém, mesmo depois desse movimento, a expectativa de lucros melhores que em 2020 cria um ambiente mais favorável para estar exposto a bancos no ano que vem. 

“A barganha estava lá no começo do ano, quando as ações dos bancos estavam valendo menos de uma vez o valor patrimonial, alguns com quedas de 35%, realmente estavam em preços de liquidação”, disse. “Os preços já subiram e a atratividade já não é a mesma, mas, pelo fato de serem grandes bancos, com estrutura de capital robusta, essas companhias são quase como portos seguros e, mesmo na crise, tiveram uma captação muito boa”, completa.

INCERTEZAS A LONGO PRAZO

Apesar da visão mais positiva no curto prazo, os analistas Mario Pierry e Giovanna Rosa, do Bank of America (BoFA), destacam que há pouca convicção em relação às perspectivas de longo prazo. 

Segundo a análise em relatório divulgado no início de dezembro, embora os investidores agora compartilhem a visão de que a dinâmica dos lucros deve melhorar nos próximos trimestres, à medida que o custo do risco tende a cair, há uma preocupação com a geração de receitas e tendências de lucratividade após 2021. Portanto, estão vendo o investimento nos papéis mais como uma negociação oportunista do que um investimento de longo prazo. 

Para Eduardo Nishio, analista-chefe da Genial Investimentos, a dinâmica de longo prazo não está muito boa porque o cenário competitivo dos bancos não está bom.  “O Banco Central está incentivando empresas de outros setores a entrar nesse mercado e oferecer o mesmo serviço que os bancos sem ter a mesma estrutura, com juros menores. E, para ter lucro, os bancos precisam ter uma volumetria maior, tomar mais risco, ter uma análise de crédito melhor, ou seja, o que era fácil antes, fica mais difícil, pois tem mais competição”, diz o analista.

A agência de classificação de risco Fitch Ratings também alerta que ainda existem riscos para os bancos latino-americanos mesmo em 2021. A agência ainda vê uma fraca recuperação econômica da região, com crescimento de 4,4% em 2021, após contração de 6,9% em 2020 e afirma que, enquanto as medidas regulatórias de tolerância amorteceram o impacto da pandemia de coronavírus no ambiente operacional, a maioria delas deve expirar entre dezembro deste ano e junho de 2021.

Para o Brasil, a Fitch Ratings avalia como negativa a perspectiva para os bancos nacionais, com 96% das instituições analisadas com essa classificação. A perspectiva é de aumento de empresas buscando proteção contra falências, especialmente no segmento de pequenos e médios negócios. No entanto, como boa parte do crédito para empresas é suportado por garantias governamentais, não espera uma deterioração profunda na rentabilidade, capitalização e liquidez em 2021.