Mercado mostra perspectivas negativas para frigoríficos; ações operam mistas após confirmação de “vaca louca”

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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

São Paulo – No pregão desta quinta-feira, as ações dos frigoríficos operam com volatilidade, após queda na véspera que já antecipava os rumores sobre a “vaca louca” no Brasil. Às 12h22 (horário de Brasília), apenas os papéis da JBS (JBSS3) subiam 2,45%, enquanto Minerva (BEEF3), BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) caíam 0,17%, 0,15% e 2,07%. O Ibovespa subia 1,07%.

Ontem (22/2), os destaques negativos do pregão da quarta-feira de Cinzas ficam com as ações de frigoríficos quando a doença da vaca louca no Brasil ainda era apenas uma suspeita. No fechamento, os papéis da Minerva (BEEF3) ficaram entre as piores quedas do Ibovespa, com baixa de 8,40%, seguida pela BRF (BRFS3, -6,70%), Marfrig (MRFG3, -4,71%) e JBS (JBSS3, -4,32%), em dia de forte queda no principal índice da B3 (-1,85%).

Após o fechamento de ontem, o governo suspendeu temporariamente as exportações de carne bovina para a China após a confirmação de um caso de mal da vaca louca em um animal em Marabá (PA). A suspensão ocorre por um protocolo de 2015 assinado pelos dois países que estabelece um autoembargo nas vendas à China quando uma nova ocorrência de vaca louca encefalopatia espogiforme bovina é identificada no Brasil. No entanto, o diálogo com as autoridades está sendo intensificado para demonstrar todas as informações e o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira, disse o Ministério da Agricultura, em nota.

ANÁLISES

A corretora Ativa avalia a notícia como muito negativa para o setor, especialmente para Minerva, porém, comenta que o mercado parece ter precificado no pregão de ontem.

“O tema é sensível, uma vez que a China representa 70% das nossas exportações de carne bovina. O caso está sendo tratado como atípico e sem risco de contágio, e a expectativa é de retomada até março, porém a China não tem obrigação de voltar a comprar e já ficou três meses fora e momentos anteriores. O Brasil pode redirecionar sua produção, mas a tarefa é complexa e pode afetar o preço de exportação e, além disso, a Minerva pode redirecionar sua produção para outros países, como Uruguai, e continuar atendendo, ainda que em uma medida menor”, disse a Ativa, em nota divulgada na manhã desta quinta-feira.

A Minerva minimizou o impacto da notícia informando que, embora realize as exportações para a China pelas unidades de Barretos (SP), Palmeiras de Goiás (GO) e Rolim de Moura (RO), agora seguirá atendendo a demanda chinesa por meio de plantas de abate no Uruguai e na Argentina, sem comprometer o seu share de mercado e o relacionamento com seus clientes.

A empresa também acredita que, “tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo.”

A Levante Ideias de Investimento lembra que no caso das vendas para a China, por meio de protocolo firmado entre o Brasil e a China em 2015, o Brasil deve promover um auto embargo e comunicar às autoridades chinesas imediatamente. Parte do material coletado deve ser enviado para um laboratório especializado no Canadá, a fim de confirmar o caso atípico e descartar definitivamente o clássico Mal da Vaca Louca, e também deve ser enviada à China uma delegação técnica a fim de discutir as condições para a continuidade de exportação do produto ao país asiático.

“Os resultados do exame canadense devem sair em cerca de cinco dias, garantindo sofrimento ao mercado ao menos até meados da próxima semana”, comenta a Levante.

A XP, em relatório sobre proteínas, estima um trimestre difícil para os frigoríficos de sua cobertura e que não vê nenhum gatilho para aumentar o otimismo no curto prazo, já que um mercado com excesso de oferta aliado à fraca demanda doméstica e internacional está mantendo os preços baixos.

“Dois fatores devem ser um problema para os frigoríficos, a nosso ver: o avanço da gripe aviária nos países latino-americanos e o caso recentemente anunciado de encefalopatia espongiforme bovina atípico (vaca-louca atípico) que deve afetar negativamente as exportações de carne bovina”, diz a análise da XP.

O BTG Pactual acredita que a temporada de resultados do 4T22 dos frigoríficos brasileiros apresentará spreads mais apertados, que se traduzirão em um ano mais fraco margens para todos os competidores.

“Como vários dos ciclos favoráveis dos anos anteriores se voltam para o sul, também acreditamos que um dos principais impulsionadores do valor do patrimônio à frente virá na forma de como as margens mais baixas afetam a alavancagem. No geral, a carne bovina brasileira continua a ser o porto mais seguro, não apenas porque os resultados do quarto trimestre devem ser menos impactados do que em outros lugares (embora ainda impactado em certa medida), mas principalmente devido a perspectivas mais brilhantes para 2023 à medida que o ciclo melhora e a demanda chinesa se recupera.

A Minerva é a principal escolha do BTG no setor, mas os analistas do banco de investimentos também esperam que a JBS entregue um trimestre fraco em que, com exceção da operação de carne bovina brasileira, todas as outras unidades de negócio da companhia devem apresentar resultados mais fracos na comparação anual.

As perspectivas mais fracas para o ciclo do gado nos EUA também serão um vento contrário para a Marfrig a partir do quarto trimestre.

A BRF também deve decepcionar com a queda nas margens de exportação e resultados fracos no Brasil enquanto luta para recuperar a participação.

Ontem, a Agência SAFRAS antecipou que, caso a doença seja confirmada, as exportações brasileiras de carne bovina voltadas para o mercado da China poderiam ser suspensas automaticamente devido ao acordo com a China em casos de EEB (doença da vaca louca), seja ela típica ou atípica.

De acordo com o analista de SAFRAS & Mercado, Fernando Iglesias, a tendência é que os preços recuem no físico, e que haja uma queda acentuada no mercado futuro da B3. Dois frigoríficos de São Paulo e um de Mato Grosso do Sul, exportadores da proteína, já suspenderam os abates da semana.

Segundo Iglesias, se confirmado o caso, o mercado deve aguardar um pronunciamento da China, pois a decisão de retomar ou não as exportações brasileiras da proteína é do país. A China tem um peso muito grande nas exportações brasileiras, mais de 50% do volume exportado vai pra lá, disse.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que o caso já está sendo analisado em laboratório e deve ter resultado divulgado até o dia de hoje. A suspeita já foi submetida a análise laboratorial para a confirmação ou não e, a partir do resultado, serão aplicadas imediatamente as ações cabíveis, informou o Ministério.

O Ministério da Agricultura informou no dia 20, à tarde que está investigando uma suspeita de caso da vaca louca no Brasil. A pasta não informou o local, mas a Agência Brasil apurou que a suspeita ocorre num animal idoso em idade avançada que morreu num pasto no Pará.

Acerca do caso suspeito de Encefalopatia Espongiforme Bovina (Mal da vaca louca), todas as medidas estão sendo adotadas pelos governos. A suspeita já foi submetida a análise laboratorial para a confirmação ou não e, a partir do resultado, serão aplicadas imediatamente as ações cabíveis, informou o ministério em comunicado.

A morte em pasto aumenta as chances de que o suposto caso de vaca louca tenha se originado de forma atípica, espontaneamente na natureza, em vez de ser transmitido pela ingestão de ração animal contaminada. Isso, em tese, reduz as chances de imposições de barreiras comerciais.

Os últimos casos de vaca louca registrados no Brasil ocorreram em 2021, em Minas Gerais e no Mato Grosso. Na ocasião, os casos também foram atípicos, mas a China, maior comprador de carne do Brasil, suspendeu a compra de carne bovina brasileira por três meses, de setembro a dezembro daquele ano.

Até hoje, o Brasil não registrou casos clássicos de vaca louca, provocado pela ingestão de carnes e pedaços de ossos contaminados. Causado por um príon, molécula de proteína sem código genético, o mal da vaca louca é uma doença degenerativa também chamada de encefalite espongiforme bovina. As proteínas modificadas consomem o cérebro do animal, tornando-o comparável a uma esponja.

Além de bois e vacas, a doença acomete búfalos, ovelhas e cabras. A ingestão de carne e de subprodutos dos animais contaminados com os príons provoca, nos seres humanos, a encefalopatia espongiforme transmissível. No fim dos anos 1990, houve um surto de casos de mal da vaca louca em humanos na Grã-Bretanha, que provocou a suspensão do consumo de carne bovina no país por vários meses. Na ocasião, a doença foi transmitida aos seres humanos por meio de bois alimentados com ração animal contaminada.

GRIPE AVIÁRIA

Em 15 de fevereiro, o Ministério da Agricultura informou que, diante da recente confirmação de casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP vírus H5N1) em aves silvestres na Argentina e no Uruguai, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reforçou que o Brasil continua livre da doença, mas está aumentando o status de vigilância.

A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta principalmente aves domésticas e silvestres.Até o momento, nenhum caso de gripe aviária foi confirmado no Brasil, disse o ministério na quarta-feira (15/2).

Estamos tomando providências preventivas, reforçando nosso sistema de vigilância nas fronteiras, mas garantindo que, por ora, o Brasil continua com status livre da gripe aviária, disse Fávaro em entrevista à imprensa, ressaltando que a doença não é transmitida pela carne de aves e nem pelo consumo de ovos.

Além do aumento das medidas de vigilância ativa, que inclui o fortalecimento da fiscalização pelo Ministério da Agricultura, o ministro destacou a importância da vigilância passiva, que é a comunicação da doença por produtores e pelos cidadãos que percebam sintomas em aves caseiras ou silvestres por meio do Serviço Veterinário Oficial municipal ou pela internet na plataforma e-Sisbravet.

Segundo o governo, recentemente, foram encontradas duas aves com sintomas no Rio Grande do Sul e uma no Amazonas, mas após coleta e análises de amostras, foi descartada a hipótese de H5N1.

O risco mais alto e agudo da entrada da doença no país acontece até abril e maio, pois o risco é relacionado à migração das aves, explicou o Ministério da Agricultura.

Com informações da Agência SAFRAS.

Cynara Escobar / Agência CMA

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