Lagarde confirma que BCE manterá acomodação até retomada da eurozona

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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde / Foto: Angela Morant/BCE

São Paulo – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, voltou a reafirmar que manterá a política monetária mais frouxa, com taxas de juros em níveis baixos e compras de ativos, para apoiar a economia da eurozona a atravessar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Segundo ela, os países europeus começam a enfrentar uma terceira onda da pandemia, com aumento de casos de covid-19 e reintrodução de medidas mais restritivas para conter a disseminação, o que mantém a incerteza em níveis elevados.

“Não podemos tratar essa situação como se fosse um paciente doente que queremos colocar de pé e fazê-lo andar sem estar completamente recuperado. A economia da eurozona ainda não consegue andar sozinha sem medidas de apoio do BCE. Vamos manter essas medidas até que a recuperação esteja completa”, disse ela durante evento virtual promovido pela Reuters.

Em sua última reunião, em março, o Banco Central Europeu (BCE) manteve inalterado seu programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês) de US$ 1,850 trilhão de euros, e prometeu acelerar o rimo de compras no próximo trimestre, bem como recalibrar o programa se necessário. A validade do PEPP vai até, pelo menos, março de 2022.

O BCE também vem realizando compras de ativos mensais de 20 bilhões de euros e operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês). Com relação às taxas de juros de referência, o BCE mantém a taxa básica de juros em zero, a taxa de depósitos em -0,5% ao ano e a taxa da linha mantida com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo em 0,25% ao ano.

“As taxas de juros baixas e as compras de ativos, junto com mecanismos de financiamento, estão ajudando o BCE a cumprir seu mandato [de inflação próxima, porém abaixo de 2% ao ano]”, afirmou ela, lembrando que diferente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o BCE não tem o emprego como parte de seu mandato, mas como fator secundário de sua política.

Questionada sobre as expectativas de aceleração da inflação com a reabertura da economia, Lagarde disse que o BCE não avalia dados em bases diárias ou semanais. “Não avaliamos dados em base diária ou semanal, trabalhamos com um horizonte de longo prazo, olhamos para o futuro e, com base nisso, avaliamos a necessidade de ajustar ou não nossa política”, afirmou.

Há uma grande especulação nos mercados, especialmente nos Estados Unidos, de que uma recuperação mais acelerada da economia possa levar a uma aceleração da inflação, o que pode forçar o banco central a elevar a taxa de juros. Essa expectativa fez os juros de títulos públicos darem um salto no mês passado.

Lagarde, no entanto, afastou essa possibilidade, afirmando que muitos setores ainda sentem  os efeitos da pandemia, que não está sob controle. “O setor de transportes e aqueles que dependem de contato pessoal vão levar muito mais tempo para se recuperar e precisarão de ajuda”, disse ela, acrescentando que o BCE espera mais falências e problemas de solvência neste ano do que no ano passado.

Sob esse cenário, Lagarde afirmou que a vacinação contra a covid-19 é uma das políticas mais importantes. “A vacinação é uma ferramenta essencial para superarmos a crise e não se trata de vacinar apenas na Europa, mas sim em nível global. Só assim poderemos superar, de fato, a crise”, concluiu.