Disponibilidade de crédito do setor de varejo deve ser monitorada após rombo da Americanas, diz Fitch

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Foto: www.solvencyiiwire.com

São Paulo – A agência de classificação de risco Fitch Ratings avalia que a disponibilidade de crédito do setor de varejo deve ser monitorada no curto prazo devido ao episódio de rombo contábil da Americanas, que culminou no processo de recuperação judicial da companhia.

“O evento da Americanas pode impactar o custo de crédito, mas entendemos que não deve ter um impacto negativo relevante para todo o setor”, disse a diretora da Fitch Ratings, Fernanda Rezende, em evento da agência sobre as perspectivas de risco de crédito para empresas brasileiras em 2023 .

Fitch vê ano mais difícil para exportadores de commodities e bancos

A agência de classificação de risco Fitch Ratings espera que a maioria das exportadoras devem ter geração de caixa afetada pelo cenário econômico internacional desfavorável em 2023. As empresas de commodities devem ter impacto de menores preços, mas os ratings dessas não deve ser pressionado por isso, pois a situação de caixa é confortável por conta do ciclo de alta de commodities no ano passado.

“As companhias brasileiras continuam se beneficiando da oferta de crédito doméstico por conta do cenário internacional desfavorável”, afirmou Fernanda Rezende, diretoria sênior de empresas da Fitch Ratings.

A expectativa é que o mercado de bonds continue restrito em 2023, especialmente no primeiro semestre.

A Fitch também não espera mudança de ratings no setor financeiro brasileiro, que deve se manter neutro ao ciclo de piora de qualidade de ativos.

“Vemos piora em nível de atraso nas carteiras, mas ainda abaixo do nível pré-pandemia. As medidas emergenciais se provaram importantes nas carteiras dos bancos e a médio prazo, o nível está suficiente para absorver inadimplâncias, assim como o nível de cobertura”, comentou Rapahel Nascimento, diretor do setor financeiro da Fitch.

Em sustentabilidade, a diretora Paula Carvalho era maior pressão sobre governos e companhias no atendimento aos compromissos climáticos e redução de emissão de carbono. Ela disse que muitas empresas divulgaram metas e agora será avaliado quais são as empresas que devem cumpri-las ou não.

“Em 2022, os eventos climáticos extremos trouxeram perdas de vidas e consequências econômicas e eles devem continuar acontecendo, por isso o atendimento aos compromissos ambientais pelas empresas será importante”, avalia.

A executiva espera continuar vendo integração de práticas ESG em companhias e um mercado ainda fraco de emissões rotuladas.

Os gestores de ativos enfrentarão maior pressão em relação à comprovação de indicadores de sustentabilidade. Aspectos de “greenwashing” [publicidade falsa de ações socioambientais com apelo de marketing] podem ter aspectos negativos para os consumidores, especialmente no varejo, que pode afetar as decisões de compra pelos consumidores. “Exigências da CVM, do Banco Central, exigirão novas exigências em reportes socioambientais, mas ainda não prevemos mudanças significativas no nível de dados reportados pelas companhias no curto prazo”, comentou.

Em energia, a Fitch espera melhora da hidrologia para os projetos hídricos e aumento de custo da operação para projetos eólicos. Em transmissão, a perspectiva é estável, com atenção à gestão de liquidez após reforços autorizados pelo operador.

“Esperamos novos leilões de projetos de transmissão, com uma previsão de R$ 100 bilhões de investimentos para os próximos anos, e em 2023, um leilão inédito, de margem de escoamento, para escoar 200 GW de projetos renováveis previstos em outorga”, disse Bruno Pahl, diretor sênior da área de infraestrutura da Fitch Ratings.