Contra coronavírus, BCE deve cortar taxa de depósito em 0,1 pp e facilitar TLTRO

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Sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt. Foto: Divulgação/ BCE

São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deverá cortar em 0,1 ponto percentual (pp) a taxa de depósito, assim como facilitar o acesso a operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês), na próxima reunião de política monetária marcada para quinta-feira, segundo analistas consultados pela Agência CMA.

Com isso, o BCE deve manter neste encontro a taxa básica de juros em zero, reduzir a taxa de depósitos de -0,5% para -0,6% ao ano e manter a taxa da linha com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo em 0,25% ao ano.

Para o analista quantitativo do Rabobank, Bas van Geffen, a intenção da autoridade monetária é amortecer os primeiros impactos causados pela epidemia do novo coronavírus, aumentando a liquidez no mercado, prevenindo uma queda brusca na demanda e enviando “um recado de que, apesar do pouco espaço disponível para atuação, o BCE ainda está disposto a fazer o que for preciso para evitar uma crise”.

Segundo ele, o anúncio de ação coordenada feito pelo departamento do Tesouro dos Estados Unidos na semana passada, assim como a ação do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de cortar em 0,5 pp a taxa básica de juros do país deve aplicar a pressão necessária no BCE para que antecipe o corte na taxa de depósito.

“A maioria dos analistas esperava que o corte da taxa de depósitos ocorresse apenas em abril ou setembro, mas devido ao agravamento de cenário, deve vir mais cedo que o esperado”, afirma o economista chefe para a Europa da Capital Economics, Andrew Kenningham.

Van Geffen, do Rabobank, não acredita que um relaxamento da política monetária seja de fato efetivo ao principal problema da Europa no momento. “A obstrução da cadeia de suprimentos é o que vem trazendo complicações e por mais que o BCE aja, não consegue fazer com que trabalhadores na China voltem para as fábricas para abastecer as empresas europeias, por exemplo”, disse ele.

No entanto, Kenningham, da Capital Economics, o afrouxamento monetário servirá para apoiar a economia enquanto problemas ligados a indústria continuarem existindo. “A demanda tende a enfraquecer de qualquer forma durante uma crise. Motivá-la é responsabilidade do banco central”, afirmou.

TLTRO

Além de cortar a taxa de depósito, analistas esperam que o BCE anuncie uma facilitação em sua terceira série de TLTROs, ativa desde setembro.

“A ideia aqui é promover o empréstimo a pequenas e médias empresas que provavelmente terão seu fluxo de caixa afetado pelas obstruções na cadeia de suprimentos”, afirma o vice-presidente da Scotiabank Economics, Derek Holt.

“Assim, o BCE deve facilitar os termos dos TLTROs, permitindo que liquidez seja introduzida no mercado deixando os bancos mais confortáveis para emprestarem a quem está em grupos de risco”, disse Holt.

Para Kennigham, da Capital Economics, essa facilitação deve ser direcionada, por exemplo, no aumento do teto de empréstimos permitidos sob os termos do TLTRO, que no momento é de 30%.

“A Itália, uma das principais prejudicadas pelo surto, encontra-se perigosamente próxima desse teto”, afirmou.