Bolsa sobe mais de 2% puxada por otimismo externo

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São Paulo – O Ibovespa encerrou a sessão em alta de 2,28% aos 83.170,80 pontos, em dia de investidores ainda otimistas com as ajudas que os banco centrais estão dando para os principais países conseguirem mitigar os efeitos do fechamento das economias por causa do novo coronavírus.

“Aqui a gente teve uns dias que baixa descolando do exterior por ruídos políticos, mas agora a tendência é seguir o mercado externo, que vem subindo com a ajuda dos bancos centrais. Acho que ainda tem espaço para seguir subindo”, explicou Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset.

Para um gerente de mesa de operações de um grande banco, o fim do isolamento social em alguns países tem pesado positivamente nos mercados. “É um sinal de que as economias podem voltar a andar antes do esperado. Esperávamos retomada da economia só para o segundo semestre, mas já estamos começando a ver a partir de agora. isso é muito bom”, avaliou.

Zuffo também compartilha da opinião de que a expectativa com o fim do isolamento social e a queda no número de mortes também tem ajudado nos mercados, mas com um peso bem menor. “As mortes ainda estão em leve declínio. Temos que considerar a queda, mas ainda é tímida”, afirmou o especialista da SRM Asset.

Sobre a temporada de balanços, Zuffo diz que ainda não é um fator que pesa no mercado porque a pandemia foi anunciada no final do primeiro trimestre. “Agora é preciso ficar de olho no futuro, analisar o guidance das empresas e ver no que eles estão focando neste momento para aumentar as vendas”, acrescentou.

Entre as maiores altas do Ibovespa, o destaque ficou com as ações ordinárias da CSN (CSNA3), com valorização de 15,62%, seguida pelas ações ON da IRB Brasil (IRBR3), com avanço de 13,89% e os papéis ON da Cogna (COGN3), com ganho de 12,25%. Por outro lado, a maior queda do índice ficou com a ação ON da Magazine Luíza (MGLU3), com recuo de 2,28%.

O dólar comercial fechou em forte queda de 2,82% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3570 para venda, engatando o segundo recuo no menor valor de fechamento em nove dias, em sessão positiva no exterior e no mercado local em meio ao arrefecimento da crise política. A expectativa para reabertura gradual de algumas economias na Europa e de alguns estados norte-americanos sustenta o ambiente de menor aversão ao risco.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, ressalta que a melhora da moeda local refletiu também “o revés sofrido” pelo presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) após o ministro Alexandre de Moraes suspender a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal (PF).

“Destaco ainda que parte do movimento de apreciação do real esteve associado também ao forte desmonte de posições defensivas por parte de grandes players locais e estrangeiros”, diz Gomes.  O chefe da mesa de operações de uma corretora estrangeira acrescenta que esse “desmonte” está alinhado a uma nova “postura” do Banco Central (BC).

“Parece que a nova abordagem do BC no câmbio está valendo a pena. Desde que a autoridade monetária se tornou ‘agressiva’, o real finalmente melhorou. Isso deve ser aplaudido. Essa é a abordagem correta”, comenta. Nos últimos dias, a autoridade monetária atuou no mercado cambial por meio de operações de venda de dólares no mercado à vista e de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Entre sexta e segunda-feira, o BC colocou no mercado um montante ao redor de US$ 4,0 bilhões.

Hoje teve a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Para Gomes, da Correparti, apesar da falta de “novidades” já esperada pelo mercado, de maneira retórica, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que precisará adotar mais medidas para mitigar a recessão nos Estados Unidos.

“Além de a instituição adotar instrumentos de política monetária para a recuperação da demanda agregada no país ocorra de forma robusta”, ressalta.

Amanhã, o mercado deverá reagir ao resultado deste mês do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial na China, além de observar a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), bem como a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no primeiro trimestre.

“Temos formação de preço da taxa Ptax de fim de mês, o que deve gerar forte volatilidade, e é véspera de feriado, o que normalmente deixa o investidor mais cauteloso”, aposta o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello.