Presidente do Fed reafirma apoio à economia e prevê piora em cenário no segundo trimestre

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O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Foto: Divulgação/ Federal Reserve

São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não tem pressa para retirar toda a acomodação oferecida à economia e aos mercados para mitigar os efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus e sabe que os dados do segundo trimestre devem mostrar uma deterioração sem precedentes da economia, disse o presidente do Fed, Jerome Powell em coletiva de imprensa.

“Toda a acomodação oferecida será mantida até que o Fed tenha garantias de que a recuperação econômica é sólida”, afirmou. “O prazo para essa recuperação, no entanto, é muito incerto, quase impossível de prever porque estamos lidando com um evento exógeno, que não tem relação com a economia. Quanto mais rápido controlarmos o vírus, mas rápida será a retomada econômica, mas acho difícil voltarmos aos patamares anteriores à crise”, acrescentou.

Neste sentido, Powell alertou que os dados atuais não capturam a realidade provocada pela crise do novo coronavírus. Mais cedo, o Departamento do Comércio norte-americano divulgou que a economia do país encolheu 4,8% no primeiro trimestre do ano, em taxa anualizada. No entanto, especialistas consultados pela Agência CMA lembraram que a paralisação da economia começou nas duas últimas semanas de março, com a adoção de medidas de bloqueio.

“Embora muitas estatísticas econômicas ainda não tenham chegado à realidade que estamos enfrentando, é claro que os efeitos da economia são severos. Milhões de trabalhadores estão perdendo seus empregos, espera-se que o relatório de empregos da próxima semana mostre que a taxa de desemprego suba a dois dígitos. Os gastos das famílias despencaram à medida que as pessoas ficam em casa e as medidas do confiança do consumidor caíram vertiginosamente”, disse.

“A produção manufatureira caiu acentuadamente em março e deve cair mais rapidamente este mês, pois muitas fábricas fecharam temporariamente. No geral, a atividade econômica provavelmente cairá a uma taxa sem precedentes no segundo trimestre. A inflação está sendo mantida refletindo a demanda mais fraca e os preços da energia significativamente mais baixos”, acrescentou.

Segundo chefe do Fed, tanto a profundidade quanto a duração da desaceleração econômica são extraordinariamente incertas e dependerão em grande parte da rapidez com que o vírus é controlado.

“A severidade da queda dependerá das ações políticas tomadas em todos os níveis do governo para amortecer o golpe e apoiar a recuperação quando a crise passar. A resposta do Federal Reserve é guiada por um mandato para promover o emprego máximo e preços estáveis , além de nossas responsabilidades de promover a estabilidade do sistema financeiro. Estamos comprometidos em usar toda a nossa gama de ferramentas para apoiar a economia neste momento desafiador”, afirmou.

No mês passado, o Fed cortou a taxa de juros para quase zero, passando-a para a faixa atual de zero a 0,25% ao ano. Hoje, em decisão unânime e amplamente esperada, o banco central norte-americano manteve sua política monetária inalterada.

“Declarei várias vezes hoje que esperamos manter a taxas de juros nesse nível até estarmos confiantes de que a economia resistiu aos eventos recentes e está no caminho de alcançar o máximo emprego e metas de estabilidade de preços”, afirmou.

Powell lembrou, no entanto, que a redução da taxas de juros não pode impedir a queda acentuada da atividade econômica causada pelo fechamento e pelo distanciamento social, e disse ainda que juros baixos não estimularão a economia se as taxas não resultarem em condições financeiras mais amplas ou se as famílias e as empresas não conseguirem obter crédito.

“As interrupções econômicas criaram enormes tensões nos mercados financeiros e prejudicaram o fluxo de crédito na economia. Preservar o fluxo de crédito é, portanto, essencial para mitigar os danos à economia e preparar o estágio para a recuperação. Temos adotado ações amplas e vigorosas para esses fins, para apoiar o fluxo de crédito para famílias e empresas, promover o bom funcionamento do mercado e promover a transmissão efetiva da política monetária para condições financeiras mais amplas”, afirmou.