Bolsa sobe com otimismo por acordo comercial entre Estados Unidos e China

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após dois dias de queda, o Ibovespa fechou em alta de 1,26%, aos 101.248,78 pontos, refletindo a expectativa de um acordo comercial parcial entre China e Estados Unidos e com discussões sobre a possibilidade de a Selic cair mais rápido, já que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio abaixo do que o esperado em setembro, mostrando deflação. O volume total negociado hoje foi de R$ 13,1 bilhões.

Notícias de que a China estaria aberta a um acordo parcial mesmo depois que os Estados Unidos tomaram medidas contra o país nos últimos dias, como sanções a empresas chinesas, animaram os mercados hoje. Também há informações que a China elevaria compra de produtos agrícolas. Os dois países devem retomar negociações amanhã.

Ainda no cenário externo, a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve a possibilidade de mais um corte de juros em outubro no país, embora não tenha sido visto consenso entre os membros da autoridade monetária na última reunião.

Já na cena doméstica, chamou a atenção a queda do IPCA em setembro, que caiu 0,04% frente a agosto, sendo que o mercado esperava alta de 0,04%. Segundo o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, os dados alimentaram “discussões sobre qual será o piso da Selic”. O banco UBS, por exemplo, divulgou nesta tarde que espera, agora, uma Selic de 4,5% já este ano. Uma taxa de juros mais baixa torna a renda variável a Bolsa mais rentável e atrativa para investidores.

O acordo fechado sobre a cessão onerosa, que tem sido usada como “moeda de troca” para garantir a votação em segundo turno no Senado da reforma da Previdência, também ajudou a trazer alívio hoje. Ainda no quadro político local, o mercado observou rumores sobre a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, mas sem reações por enquanto. Segundo analistas, investidores têm dado menor atenção a declarações de Bolsonaro, já que frequentemente trazem ruídos.

Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram as ações da Ultrapar (UGPA3 4,56%), do Magazine Luiza (MGLU3 4,34%) e do Bradesco (BBDC4 3,99%). Já as maiores baixas foram da JBS (JBSS3 -3,92%), da Natura (NATU3 -1,79%) e da Via Varejo (VVAR3 -1,68%).

Amanhã, o foco segue nas negociações entre chineses e norte-americanos, com o mercado atento a qualquer notícia sobre a questão. “Estou com um viés mais otimista, de que pode ocorrer um acordo, mesmo que parcial, ninguém quer mais tarifas”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino. Ele lembra que um acordo poderia motivar um rali nos mercados acionários, já que a questão da guerra comercial tem sido um dos principais gatilhos entre investidores.

O dólar comercial fechou em alta de 0,31% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1030 para venda, em sessão de fortes oscilações influenciado por notícias locais e do exterior com investidores digerindo os dados de inflação do Brasil, abaixo do esperado sinalizando mais cortes da taxa básica de juros (Selic). Lá fora, o mercado aguarda pelo encontro entre Estados Unidos e China amanhã em mais uma rodada de negócios a respeito da guerra comercial.

“Os dados de inflação, que indicou uma deflação em setembro, deu respaldo para futuros cortes na taxa de juros por parte do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]. Isso pode fazer com que importantes fundos estrangeiros passem a sair do Brasil e procurem países mais atrativos, com maior rentabilidade” ressalta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

Ele acrescenta que o sentimento de mais quedas da Selic levou investidores e tesourarias de banco a recompor posições em dólar, levando a moeda a renovar máximas acima de R$ 4,11 (R$ 4,1110, +0,49%).

Aqui, enquanto o mercado aguarda o “desenrolar” da cessão onerosa para dar seguimento a reforma da Previdência no Senado, que deverá ser votada em segundo turno até dia 22, segundo senadores, lá fora, o mercado monitora a tão aguardada reunião entre norte-americanos e chineses.

“Amanhã essa reunião é o pronto-chave. Vai todo mundo acompanhar as notícias do exterior e à espera de anúncios de algum acordo. Enquanto a gente espera passar a etapa da cessão onerosa e tentar aprovar a Previdência ainda este mês”, comenta o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante. Indicadores da zona do euro e a ata da última reunião do Banco Central Europeu (BCE), no mês passado, também ficam no radar do mercado.