Bolsa fecha em queda pressionada por juros e Vale; dólar avança

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda influenciada pela abertura na curva de juros futuros aqui em linha com alta das treasuries nos Estados Unidos, após o payroll forte, e pressão da Vale (VALE3). Com o estresse nos DIs, as empresas ligadas ao ciclo doméstico recuaram. Na semana, o índice caiu 1,02%.

A Vale (VALE3) caiu 1,09%. Entre as maiores quedas estão Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3) e Carrefour Brasil (CRFB3) – 3,38%, 2,64% e 1,97%, respectivamente.

Os destaques de altas ficam para as ações da IRB Resseguradora (+13,20%), BRF (ON, +1,25) e Vibra Energia (ON, 1,55%).

“A IRB refletiu a recomendação de compra por parte do Citi, BR Foods seguiu o bom momento do setor com expectativas de resultados cada vez melhores e Vibra Energia recuperou parte da queda de março, mas sem muitas novidade”, disse Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

Mais cedo, nos Estados Unidos, foi divulgado o relatório de emprego (payroll, sigla em inglês) com a criação de 303 mil vagas não agrícolas em março contra previsão de 200 mil. Já a taxa de desemprego caiu para 3,8% na comparação com 3,9% registrado em fevereiro e o salário médio por hora no setor privado somou US$ 34,69 em março, alta de 0,3% ante os US$ 34,57 registrados em fevereiro e aumento de 4,1%.

O principal índice da B3 caiu 0,49%, aos 126.795,41 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 0,57%, aos 126. 915 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,7 bilhões. Nos Estados Unidos, os índices fecharam em alta.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a a Bolsa opera em movimento oposto com os índices lá fora.

“A curva de juros está bem estressada, subindo em todos os vencimentos, em linha com a alta as treasuries de 10 anos e tudo isso conserva com o petróleo-aos US$ 91 é preocupante. As treasuries vão depender da inflação nos EUA para tomar alguma direção. A Vale cai e influencia muito no índice e a Petrobras está de lado à espera de alguma notícia para tomar direção. Com os juros futuros subindo, boa parte dos papéis da economia doméstica está caindo, o setor bancário recua um pouco. Aqui a discussão é se o payroll foi bom ou não e até que ponto o Powell vai conseguir adiante com cortar juros e quantos vão ser”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o mercado acionário mostra falta de apetite ao risco, após payroll acima das expectativas, que puxam as treasuries e a curva de juros futuros aqui.

“O mercado de trabalho nos EUA se mostra resiliente, puxa as treasuries e a nossa curva de juros. Aqui, além dos DIs que prejudicam a Bolsa, se o emprego lá fora continuar forte e a inflação da semana que vem [CPI] também vier mais forte que o esperado, vamos continuar com a saída de estrangeiros, o que é ruim para as ações que acabam realizando. Isso também segura o apetite ao risco puxado pelas treasuries”.

Em relação à Petrobras, Mota disse que o mercado fica em compasso de espera para a reunião do presidente Lula e o Ceo da Petrobras, jean Paul Prates.

“A questão da Petrobras impacta o Banco do Brasil com receio de uma interferência política [no banco]. As ações da Petrobras vão ficar voláteis em meio a uma notícia boa com o pagamento de dividendos extraordinários e a mudança no comendo da empresa. O drive principal é a reunião de segunda- feira entre Prates e Lula para ver se o Mercante será anunciado [para assumir a companhia]”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse que o payroll impacta na Bolsa.

“A criação de vagas foi forte, principalmente em construção e saúde. Os salários vieram como esperado é algo importante, pois é a grande pista se vai pressionar inflação ou não. Por mais que o mercado siga aquecido, não estamos vendo aquele aumento rápido de salários, mas abril vai ser difícil. Os mercados vão ficar bem desconfiados que não vem corte de juros em junho. As treasuries sobem”.

Para Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, o payroll , Petrobras e o fiscal por aqui pesam na Bolsa.

“A surpresa [do payroll] foi realmente de um mercado de trabalho bem mais forte que o esperado. O Powell [presidente do banco central dos Estados Unidos], no último discurso, disse que não necessariamente um número de payroll forte isolado seria suficiente para mudar os planos de corte para segundo semestre, mas imagino que vá causar um desconforto no mercado. A Petrobras está atrapalhando bastante, mas a alta das treasuries e a situação fiscal horrível do Brasil estão impactando na curva do DI e não está deixando bolsa subir”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,26%, cotado a R$ 5,0647. A moeda refletiu, especialmente na parte da tarde, o payroll, que apontou a criação de 303 mil vagas ante projeção de 200 mil. O resultado mantem as incertezas sobre os próximos passos da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Na semana, a moeda teve valorização de 1,01%.

Segundo o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, “os dados de hoje reforçam o sentimento de que o Fed não tem pressão para cortar os juros já que a economia está forte. Talvez não comecem em junho”.

Leal pontua que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado na próxima quarta, será determinante na decisão do Fed.

De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “é inegável que a criação de empregos foi forte, mas alguns sinais despertaram a atenção, como mais de metade das vagas criadas ter sido no governo e educação, enquanto na manufatura praticamente não teve criação”.

“A taxa de emprego veio em linha e os salários também, e a taxa de participação subiu, que é um sinal de que as pessoas estão voltando a procurar emprego”, explica Borsoi.

Borsoi pontua que, de maneira geral, fica uma impressão de que o Fed não irá mais iniciar o corte dos juros em junho, mas pondera: “Temos que esperar a inflação, na próxima semana”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta. O mercado reflete o payroll de março, nos Estados Unidos, que apontou a criação de 303 mil vagas ante projeções de 200 mil, o que aumenta as expectativas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Por volta das 16h55 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,949%, de 9,970% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,060% de 9,990%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,380%, de 10,285%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,705% de 10,655% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, à medida que os investidores deixaram de lado as preocupações depois de analisarem o forte relatório mensal de empregos em março, mesmo com a incerteza persistindo sobre o caminho do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para cortes nas taxas de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,80%, 38.904,04 pontos
Nasdaq 100: +1,24%, 16.248,5 pontos
S&P 500: +1,10%, 5.204,34 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA