Bolsa fecha em queda pelo quinta vez seguida e vai aos 107 mil pontos; dólar sobe

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda pelo quinto dia consecutivo, em sessão marcada pela cautela dos investidores com a pressão global em combustíveis, dados de inflação e sua influência na política monetária.

O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em queda de 1,17%, aos 107.093,71 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho encerrou em baixa de 1,04%, aos 107.710pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 20,3 bilhões. No mês, o índice acumula perda de 2,68%. Em Nova York, os índices fecharam em forte queda.

No exterior, a expectativa pelo dado de inflação dos Estados Unidos que será divulgado nesta sexta-feira, com impacto no arranjo da alta de juros pelo banco central americano e novos lockdowns na China pressionaram os papéis de empresas de commodities, como a Vale (-3,23%), que têm forte peso no índice.

No Brasil, o IPCA do mês de maio abaixo das estimativas refletiu na elevação do dólar. O risco fiscal também segue no radar – o parecer final do projeto que limita o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre itens essenciais em 17% vai custar R$ 35,2 bilhões para a União em 2022, sendo R$ 17 bilhões apenas com a apenas a desoneração de PIS/Cofins e Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidentes sobre a gasolina.

Para Ricardo Leite, estrategista-chefe da Diagrama Investimentos, hoje o movimento refletiu as quedas de ações de peso, como Vale e Petrobras, seguindo o mau humor dos investidores ao redor do mundo, em meio à queda do sentimento de apetite ao risco, após o Banco Central Europeu, confirmar os planos de subir os juros por lá em julho e setembro. “Nem mesmo o IPCA vindo abaixo do consenso foi o suficiente para segurar nosso índice. No mercado de juros nacional, vimos os contratos futuros de DI fecharem em queda, refletindo o alívio do mercado para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) diante dos dados de inflação abaixo do esperado”, comentou.

As ações da Petrobras também recuaram perto de 1%, com dúvidas sobre o futuro da empresa, descompasso entre os preços de combustíveis e sua política de paridade à importação e queda das cotações de petróleo no mercado internacional.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) informou que os preços da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras às distribuidoras nas refinarias estão 19% e 15% abaixo das cotações no mercado internacional, segundo cálculos feitos com base nas cotações desta manhã.

As maiores quedas foram de CSN (-6,70%), Magazine Luiza (-5,90%), Azul(-5,22%), Locaweb (-4,99%) e Usiminas (-4,89%).

Os destaques positivos ficaram com as ações da Hapvida (+3,80%), SulAmérica (+3,13%), Rede D’Or (+3,11%) e Americanas (+2,75%). As ações de saúde ganham impulso após o Supremo Tribunal de Justiça limitar a relação de serviços que as empresas são obrigadas a prestar, o que deve enxugar custos das operadoras de planos.

As ações da Eletrobras também fecharam em alta de mais de 2% devido à oferta de capitalização, que anunciará o resultado da precificação após o fechamento.

O dólar comercial fechou em alta de 0,59%, cotado a R$ 4,9180. O movimento de hoje teve impacto direto do retrocesso da reabertura chinesa e o aumento do temor global com a inflação. No âmbito doméstico, o cenário fiscal continua nebuloso.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, começam a surgir incertezas se o risco Brasil vale a pena, mesmo com nossos juros que continuam muito altos.

Borsoi entende que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) segue ditando as regras, e que o pronunciamento da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, foi dovish (menos propenso ao aumento de juros), o que valoriza o dólar globalmente.

Corremos o risco de tomar novamente uma invertida da China, e estamos vendo que é uma reabertura bastante conturbada, e isso afeta o preço das commodties, analisa Borsoi.

Segundo a agência Reuters, as duas cidades chinesas voltaram a ficar sob alerta com a covid-19 após Xangai anunciar a realização de testes em massa e impor novas restrições, como o fechamento de locais de entretenimento.

De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, o dólar está próximo do zero, e isso demonstra cautela do mercado. Nagem também entende que o discurso de hoje da presidente do BCE, Christine Lagarde, indicou que o aumento dos juros de aproximam.

Nagem demonstrou preocupação com a questão fiscal: A judicialização da Eletrobras travaria a privatização. O mercado também teme que o (presidente, Jair) Bolsonaro não cumpra um eventual acordo com os governadores.

Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, dois pontos sustentam a volatilidade recente: a pressão internacional negativa, devido às preocupações persistentes com a inflação e medidas dos bancos centrais ao redor do mundo para tentar conter a inflação, e o outro são as ameaças fiscais no Brasil, ainda em torno dos projetos do governo para tentar diminuir o preço dos combustíveis. O mercado parece que está sem saber qual será o real impacto.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam em queda nesta quinta-feira (9) após divulgação do IPCA. O IPCA de maio registrou variação de 0,47%, abaixo da mediana esperada pelo mercado (0,60%) e mostrando um recuo em relação ao indicador de abril (1,06%).

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,380% de 13,490% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,995%, de 13,220%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,490%, de 12,685% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,470% de 12,585%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,9110 para venda.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em forte queda, com a Nasdaq recuando 2,75%, após acelerarem as perdas nas últimas horas à medida que os investidores ficavam mais pessimistas com a divulgação dos dados de inflação para maio amanhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -1,94%, 32.272,79 pontos
Nasdaq 100: -2,75%, 11.754,2 pontos
S&P 500: -2,37%, 4.017,82 pontos