Bolsa fecha em queda, na contramão de NY, com atenção ao exterior; dólar recua

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São Paulo- A Bolsa fechou em leve queda, no patamar dos 102 mil pontos, em movimento oposto aos índices em Nova York, em dia de divulgação de dados de inflação por lá-subiu 0,4% em fevereiro e veio em linha com a estimativa dos analistas- e com os investidores na expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantenha a taxa no mesmo patamar ou eleve em 0,25 ponto porcentual na reunião da próxima semana em meio a esse cenário de crise bancária.

Por aqui, o mercado fica na expectativa da apresentação, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, o novo arcabouço fiscal.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) tiveram forte queda de 1,78% e 1,77% acompanhando a desvalorização do petróleo no mercado internacional com a preocupação de recessão nos Estados Unidos.

O grande destaque negativo ficou para as ações da Natura (NTCO3), que caíram 17,48%, com os investidores repercutindo o balanço divulgado na véspera. A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 890,4 milhões no 4T22. “Não houve menção da operação de venda da Aesop [no balanço], desagradando o mercado”, disse uma fonte.

O principal índice da B3 caiu 0,18%, aos 102.932,28 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril tinha baixa de 0,35%, aos 103.835 pontos. O giro financeiro era de R$ 22,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo

Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, disse que a inflação nos Estados Unidos em linha com o esperado, o mercado volta a precificar uma chance em quase 90% de o Fed subir em 0,25 pp os juros na reunião de março, segundo o CME Group”.

Um analista de uma grande corretora disse que a Bolsa voltou a cair “puxada pela Petrobras, que segue o preço do petróleo no mercado internacional com o temor de recessão nos Estados Unidos, e ainda ficam às incertezas em relação à crise bancária norte-americana e a postura do Fed para a próxima reunião; pode-se manter inalterada [a taxa de juros] ou subir 0,25 pp”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, especialista em investimentos, disse que a Bolsa opera de lado com as questões internacionais ainda dominando o mercado em meio aos acontecimentos da crise bancária.

“O Fed impediu uma crise sistêmica e o mercado tem colocado no preço como o banco central dos EUA atuou nesse caso e como a inflação veio em linha com o esperado e dando uma respirada o mercado está colocando na conta, na precificação dos ativos um aumento menor de taxa de juros, próximo de 0,25 pp para a próxima reunião; por aqui fica à espera de como vai ser o arcabouço fiscal e o mercado está com boas expectativas dentro desse contexto atual, mas o que domina a narrativa do mercado está relacionada à liquidez dos bancos lá fora e como o Fed vem reagindo para controlar a pressão inflacionária sem aumentar juros a ponto de quebrar os grandes bancos”.

Segundo informações de um gestor de um grande banco de investimento, o mercado ainda está “absorvendo os dados da inflação lá fora, e aqui deve vir uma sinalização mais clara de redução da Selic para a reunião de maio”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,24%, cotado a R$ 5,2560. O driver do dia foi a preocupação com a falência de alguns bancos nos Estados Unidos e como isso pode impactar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que tende a ser menos duro.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos Nicolas Borsoi, “é um cenário sem muita definição do que fazer, uma bifurcação global. A dúvida é se algo setorial, dos bancos que atendem o setor de tecnologia, ou algo macro. A princípio, é apenas setorial, mas a incerteza segue no mercado”.

Já no âmbito doméstico, Borsoi destaca o arcabouço fiscal que, segundo o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve ser apresentado ao presidente Lula ainda esta semana.

De acordo com o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “o CPI perdeu importância neste contexto, dado que o aperto monetário poderia agravar a crise financeira. Já fica o sinal que subir os juros poderia piorar o cenário”.

O Indice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro subiu 0,4% ante projeções de 0,5%, enquanto o acumulado de 12 meses, até fevereiro, foi de 6,0% ante projeções de 6,1%.

Brigato entende que este cenário global também reflete no Brasil, fazendo com que um corte na Selic (taxa básica de juros) possa ocorrer antes do esperado.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o CPI veio praticamente igual ao esperado. A quebra do Signature e Silicon Valley Bank aconteceu muito provavelmente devido ao aumento dos juros nos Estados Unidos, que gerou uma fuga de capital”. No Brasil, observa Nagem, o Banco Central (BC) faz um trabalho que não deixa que as instituições bancárias quebrem, como ocorreu nos Estados Unidos.

Nagem acredita que o dólar tende a ceder nos próximos dias, a começar por hoje. O executivo entende que, dado o cenário atual, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai rever o aumento dos juros, na próxima semana para a faixa entre a estabilidade e 0,25 ponto percentual (pp).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta terça-feira (14), com incertezas acerca do novo arcabouço fiscal, que deve ser apresentado nos próximos dias. Além disso, ainda existem muitas dúvidas sobre a crise bancária nos EUA.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,070% de 13,000% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,230%, 12,180%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,355%, de 12,265%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,590% de 12,460% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, à medida que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro vir em linha com a previsão dos analistas em Wall Street, o que afastou gerou uma recuperação após as perdas em meio à falência do Silicon Valley Bank (SVB).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,06%, 32.155,40 pontos
Nasdaq 100: +2,14%, 11.428,1 pontos
S&P 500: +1,68%, 3.920,56 pontos

 

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA