Bolsa fecha em queda com realização de lucros em meio a PIB menor e riscos fiscais; dólar recua

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São Paulo – No primeiro pregão de dezembro, a Bolsa fechou em queda atribuído, em partes, pela realização de lucros após a alta de ontem e em meio ao resultado menor da atividade econômica doméstica, riscos fiscais com a abertura da curva de juros futuros e impactando as ações da economia doméstica.

Os investidores também acompanharam a performance da Petrobras (PETR3 e PETR4), que tiveram forte queda com o temor em relação a mudança na empresa com o futuro governo. Hoje foi detalhado o plano estratégico da companhia para o quinquênio de 2023-2027. A Petrobras prevê investimentos de US$ 78 bilhões nesse período e, desse total, a companhia investirá 83% em exploração e produção, 10% em refino, 2% em gás e energia 2% em comercialização e logística e 3% em investimentos corporativos.

Os destaques de baixa ficaram para as ações de Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas S.A (AMER3), que perderam respectivamente 9,09% e 6,91%.

O principal índice da B3 caiu 1,38%, aos 110.925,60 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,62%, aos 111.255 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que alguns fatores contribuíram para o movimento de realização de lucros na Bolsa desde a abertura. “O número do PIB abaixo das expectativas-subiu 0,4% no 3º trimestre- e pressiona ciclo doméstico, mercado segue olhando pra PEC e se ventila muito rumor em relação ao total de gasto fora do teto e isso vai acabar norteando o investidor até que se tenha uma definição”.

Hashimoto comentou que a Petrobras (PETR3 e PETR4), ação de peso no índice, está devolvendo boa parte do ganho da véspera. A companhia detalhou o plano estratégico para o quinquênio 2023-2027. “Apesar de não ter mudança nenhuma estrutural, a dúvida é a visibilidade que a empresa vai ter com o novo governo; o Lula já disse que ia ter mudança na distribuição de dividendos e o investidor vai seguir acompanhando isso”.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, disse que o Ibovespa recuou com “a ampliação dos riscos fiscais, PIB com crescimento menor evidenciando que o aperto monetário começa a impactar a atividade econômica; as varejistas baixaram em meio à alta dos juros futuros, após notícias de que alguns partidos políticos ligados à direita indicaram apoio à PEC da Transição diminuindo as perspectivas de ajuste dos gastos propostos pelo novo governo”.

Apolo Duarte, sócio e head de mesa de renda variável da AVG Capital, afirmou que a Bolsa está “em um movimento de realização de lucros e devolvendo boa parte da alta da véspera”.

Duarte destacou que as empresas de varejo e consumo estão caindo forte e “um dos motivos é o PIB do terceiro trimestre mais fraco que o esperado-cresceu 0,4%- e a alta na curva de juros”. Magazine Luiza (MGLU3) está entre as maiores quedas do índice, perdia 8,21%.

O sócio e head de mesa de renda variável da AVG Capital chamou a atenção para as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) que caíam forte na sessão de hoje, após ganhos recentes. “Essa queda está ligada a um certo medo dos investidores em relação a mudanças para o ano que vem no plano de investimentos da companhia”. Mais cedo, a empresa detalhou o plano para o quinquênio 2023-2027, no evento Petrobras Day, e “esse temor não foi afastado”.

Segundo um analista do mercado financeiro de uma grande corretora que não quis se identificar, a Bolsa cai forte “impactada pelas falas da integrante do Fed, Michelle Bowman, que disse estar preocupada com a inflação nos Estados Unidos e que o mercado de trabalho por lá segue aquecido além disso os juros futuros sobem com os temores com o fiscal e reflete na Bolsa e o PIB abaixo do esperado decepcionou o mercado”.

João Abdouni, analista da Inv. disse que a Bolsa cai por um “movimento de realização de lucros após a forte alta de alta um pouco inesperada”. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) “estão operando contra o petróleo”. As ações da estatal subiram forte nos últimos dias. As varejistas caem refletindo os DIS.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa cai “com a frustação do PIB trimestral que subiu menos que o esperado, de olho na PEC da Transição prevista para ser votada na semana que vem e que traz um pouco de incerteza”.

O especialista da Valor Investimentos acrescentou que o mercado ainda “repercute as falas do Jerome Powell [presidente do banco central norte-americano] que disse que vai reduzir o ritmo da alta de juros na reunião de dezembro, mas deve manter ainda essa elevação por um período mais longo e os investidores ficam de olho nos detalhes do plano estratégico para o quinquênio 2023-2027 que a companhia mostrar no Petrobras Day”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,05%, cotado a R$ 5,1970. A moeda não teve rumo definido durante toda a sessão, refletindo uma possível desaceleração no ciclo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a negociação de um texto mais austero da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição.

Segundo o head de análise macroeconômica da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, “já havia a expectativa do Fed desacelerar o ritmo para 0,5 ponto percentual (pp) na próxima reunião. O problema é que a inflação de serviços está muito persistente. Houve um certo alívio no curto prazo”.

Quanto ao cenário doméstico, Serrano acredita que “o mercado está embarcando em um movimento de risk on, com as notícias sobre o fiscal”.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o ritmo de hoje é ditado pelo alívio do Fed que indica um ou dois aumentos neste ciclo. E que o último aumento de 0,75 pp já foi”.

“O mercado não vê maiores riscos fiscais na PEC, e a entrada do fluxo estrangeiro também está ajudando”, observa Nagem.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, sinalização de Powell de menor alta dos juros em dezembro e notícias de abrandamento da política chinesa contra a Covid-19 animam os mercados”.

“Por aqui, ativos devem acompanhar humor externo. No front político, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad afirmou que em 2023, o governo eleito votará o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, pontuou a Ajax.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta em meio a negociações sobre a PEC da Transição. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,672% de 13,680% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,980%, de 13,915%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,130%, de 13,030% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,750% de 12,650%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,2050 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, recuando dos grandes ganhos vistos na sessão anterior, enquanto os investidores aguardavam o relatório payroll amanhã, que podem determinar o ritmo do futuro aperto de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,56%, 34.395,01 pontos
Nasdaq 100: +0,13%, 11.482 pontos
S&P 500: -0,08%, 4.076,57 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil, Darlan de Azevedo / Agência CMA.