Bolsa e dólar caem com retomada da contaminação do coronavírus

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Gráfico

São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 1,28%, aos 95.335,96 pontos, após quatro pregões seguidos de alta, em meio ao aumento de casos de coronavírus e receio de novos impactos negativos na economia. O cenário político local também traz alguma cautela para o mercado, no entanto, analistas destacam que a queda de hoje pode ser pontual em meio a um pregão de volume negociado reduzido. O volume total negociado foi de R$ 23 bilhões.

“O tema principal segue sendo o aumento de casos de covid-19 em lugares onde a economia foi reaberta, mas o volume está mais baixo. Nos últimos pregões o volume negociado superou os R$ 30 bilhões, se o volume fosse mais forte, a queda seria mais pronunciada”, disse o gestor da Rio Verde Investimentos, Eduardo Cavalheiro.

Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que houve o maior número de novos casos de coronavírus nas últimas 24 horas, totalizando 183.020, com maior aumento nas América do Norte e Sul.

O gestor ainda lembra que o Ibovespa veio de uma semana de alta, o que abriu espaço para realizações de lucros e fez o índice se descolar das Bolsas norte-americanas, que subiram puxadas por ações de empresas de tecnologia, como a Apple.

Já na cena política local, investidores monitoram o caso do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz. Ontem, o advogado Frederick Wassef anunciou que sairá da defesa de Flávio Bolsonaro, em um de esforço para evitar contaminação do caso para o presidente Jair Bolsonaro. A saída ocorre após Queiroz ter sido preso em imóvel de Wassef na cidade de Atibaia.

Entre as ações, os de bancos, que têm grande peso no índice, aceleraram queda durante à tarde, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -3,09%) e do Bradesco (BBDC4 -3,48%). Os papéis de frigoríficos também tiveram um dia negativo em meio a notícia de que a China suspendeu importações de frango de uma unidade da Tyson Foods nos Estados Unidos depois que foi confirmado que alguns funcionários possuem covid-19. No Brasil, as empresas devem ter que seguir mais regras para evitar a disseminação.

Os papéis das Minerva (BEEF3 -4,83%) e da JBS (JBSS3 -3,17%) ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, ao lado da Azul (AZUL4 -5,36%) e da RD (RADL3 -5,55%).

Na contramão, as maiores altas foram do IRB Brasil (IRBR3 16,45%), da Cogna (COGN3 4,75%) e do BTG Pactual (BPAC11 5,54%).

Na agenda de amanhã, o destaque será a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a Selic foi reduzida mais uma vez. Investidores devem ficar atentos a possíveis sinalizações sobre um novo corte da taxa. Já nos Estados Unidos, será divulgados o índice dos gerentes de compras (PMI) sobre os setores de serviços e industrial, além de vendas de imóveis residenciais novos.

Para o gestor da Rio Verde, para que o Ibovespa possa retomar a trajetória positiva e continue buscando novos patamares serão necessários fatos novos. “Acredito que o patamar atual é justo, para continuar avançando precisamos melhorar os fundamentos, a retomada de votações importantes no Congresso pode ajudar”, afirmou.

O dólar comercial fechou em queda de 0,94% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2680 para venda, engatando o segundo pregão de baixa, influenciado pelo cenário externo com a valorização das moedas de países emergentes em meio à expectativa otimista de reabertura da economia global. Porém, investidores se atentam ao número crescente de casos do novo coronavírus em países que haviam reportado queda nos dados, como os Estados Unidos.

“A moeda passou o dia perdendo de seus pares e das moedas emergentes reagindo ao processo de reabertura econômica, com investidores apostando na recuperação dos Estados Unidos, embora tenha aumentado o número de casos do novo coronavírus no país”, comenta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

Apesar de sustentar baixa por todo o pregão, o dólar exibiu oscilações operando na mínima de R$ 5,20 e máxima de R$ 5,2980. “O dólar tentou furar o piso de R$ 5,20 em um movimento de desmonte de posições defensivas. Na parte da tarde, porém, reduziu as perdas com a agenda de indicadores do dia vazia, poucos negócios e baixa liquidez”, ressalta.

O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, acrescenta que o mercado está “fissurado” com a ideia de reabertura das economias junto ao “mar de liquidez” dos bancos centrais e o suporte fiscal promovido pelos governos, o que favoreceu a valorização da moeda local.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem a divulgação da leitura preliminar do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial e de serviços dos Estados Unidos, em junho. O mercado prevê 44,0 pontos para a indústria e 46,9 pontos para serviços.

Para Ortiz, esses índices devem registrar uma melhora na margem, “mas nada extremamente substancial”, o que deve respingar positivamente nos mercados. Aqui, o destaque fica para a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) que reduziu a taxa Selic em 0,75 ponto percentual (pp), a 2,25% ao ano, renovando o menor piso histórico.

“A ata é bastante esperada e um ponto é em relação ao piso da taxa de juros. Se tiver sinalizado a duração do estímulo monetário, pode ter impacto positivo sobre o mercado. O documento será importante também para determinar a direção da taxa de câmbio”, avalia o profissional da Guide.