Bolsa cai mais de 3% e dólar tem forte alta com auxílio fora do teto de gastos

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Foto: energepic.com / Pexels

São Paulo- A Bolsa fechou em forte queda de 3,28% e, no pior momento do dia, chegou a cair quase 4%, com os rumores de que a equipe econômica pediria demissão por não concordar com a proposta de extensão do auxílio emergencial de R$ 400 até o fim de 2022 em que parte os recursos fica fora do teto de gastos e o Ministério da Economia não sustenta essa tese.
Diante da reação do mercado e do Ministério da Economia, o ministro da Cidadania, João Roma, cancelou o anúncio do novo programa social Auxílio Brasil, previsto para hoje à 17h. A votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios foi adiada para amanhã.
O principal índice da B3 perdeu 3,28%, aos 110.672,76 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro baixou 2,57%, aos 112.355 pontos. No interdiário, a mínima atingiu 109.947,21 pontos e a Bolsa chegou a perder mais de 4 mil pontos. O volume financeiro foi de R$ 36 bilhões. Em Nova York, as bolsas operaram no positivo.
Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul, explicou que o estresse do mercado vem com os boatos de pedido de demissão da equipe econômica em não concordar com parte do auxílio emergencial ficar fora do teto de gastos. “O Auxílio Brasil estava atrelado à reforma do Imposto de Renda que está travada no Senado. Ontem, o relator disse que quer tirar os lucros e dividendos, fonte de custeio para o novo Bolsa Família, por isso está se ventilando a solução dos R$ 400- seriam o Bolsa Família antigo mais as duas parcelas chegando nesse total. Esse valor não chega no teto de gastos”.
Wickert acredita que em função da reação do mercado, “eles vão tentar uma solução intermediaria colocando o Bolsa Família no teto mesmo que seja em um valor um pouco menor”. Se o presidente continuar insistindo nesses R$ 400 reais, os ativos vão se deteriorar mais, enfatizou.
Rodrigo Franchini, sócio e responsável pela área de produtos da Monte Bravo, comentou que a Bolsa não está aproveitando o movimento positivo externo e a queda reflete o ambiente interno de incertezas.
Essa discussão do auxílio emergencial e a sequência dele por mais dois ou três meses, somado à elevação do pagamento para 2022, com uma manobra fiscal de duas parcelas complementares “vêm prejudicando esse quadro do fiscal e aumentando a margem de risco Brasil. O cenário é de queda da Bolsa, apreciação do real e isso será mantido até que a gente consiga ver um horizonte para os próximos meses”. O perfil do Planalto é ser mais populista para que o ano que vem tenha um apelo melhor nas eleições, afirmou.
Franchini reforçou que esta renovação do auxílio emergencial e expansão de valor acontecerão “só que ninguém se preocupa em dizer de onde vai sair esse dinheiro porque quando se observa o orçamento para o ano que vem a conta não fecha”.
O sócio e responsável pela área de produtos da Monte Bravo explicou que a dívida e juros mais caros encarecem preço/lucro da Bolsa.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos, comentou que a classe política pressiona cada vez para os gastos públicos por meio da extensão do auxílio emergencial e faz com que os investidores fiquem mais temerosos.
“O mercado brasileiro deve ficar descontado dos seus principais pares globais com a incerteza fiscal, sinais erráticos entre executivo e Congresso, inflação alta, Selic subindo e perspectivas de desaceleração do crescimento pressionam bastante a nossa Bolsa”.
O dólar comercial fechou a sessão em R$ 5,5950, com alta de 1,35% e foi fortemente pressionado pelo cenário fiscal incerto e turbulento, que continua a preocupar o mercado, que teme por uma quebra do teto de gastos por parte do governo.
Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “a sensação é de um looping infinito, não conseguimos sair desse pesadelo fiscal”. Para a economista, as intervenções cada vez mais frequentes do Banco Central, que tem feito leilões de dólar para injetar liquidez no mercado, visam não apenas regular o câmbio, mas também arrefecer a inflação.
Abdelmalack enxerga nisso um subterfúgio fiscal: “Da maneira que isso está sendo feito, passa-se a impressão de tentar burlar as regras fiscais”, avalia. A economista considera que isso passa, ao mercado, uma sensação de “descomprometimento fiscal do governo, gerando dúvidas”.
Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, “o Auxílio Emergencial está chegando ao fim – assim como o Auxílio Brasil está para começar -, mas é necessária uma contrapartida fiscal permanente. E isso está travado no Senado”. Na visão do economista, a equipe econômica é contra este movimento do governo, o que aumenta ainda mais as incertezas para 2022.
“Enquanto continuar esta situação, essa falta de visibilidade, é inevitável que haja um reflexo no câmbio”, pondera Beyruti, que alerta que com a chegada do final do ano, as incertezas sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios e reforma do imposto de renda “só aumentam”.
Beyruti acredita que o governo tem interesse na continuidade do auxílio devido à grande rejeição do eleitorado: “É a maior (rejeição) em um ano que antecede as eleições”, pontua.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam pressionadas apesar do adiamento do novo Bolsa Família. O governo federal iria anunciar ainda nesta terça-feira (19) o novo valor do Auxílio Brasil, de R$ 400 até o final de 2022, em uma manobra para driblar o limite do Teto de Gastos.
Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,584%, de 7,382% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,840%, de 9,365%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,890%, de 10,290% antes e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,190%, de 10,660%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial com vencimento para novembro operava em alta, cotado a R$ 5,62 para venda.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam o dia em alta mais uma vez embalados pelos resultados trimestrais corporativos, que podem dar pistas de como as empresas dos Estados Unidos estão lidando com a crise na cadeia de abastecimento e com o aumento de preços.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,56%, 35.457,31 pontos
Nasdaq Composto: +0,71%, 15.129,10 pontos
S&P 500: +0,73%, 4.519,63 pontos