BNDES incomoda o mercado por que faz o papel que eles deveriam fazer, diz Lula

367

São Paulo – O presidente Luís Inácio Lula da Silva disse que “um banco transparente como o BNDES incomoda o mercado, por que ele está fazendo o papel que os bancos deveriam fazer”. A afirmação foi feita durante o seu discurso na assinatura de contratos de empréstimo com o New Development Bank (NDB), o “banco dos BRICS”, sede do BNDES, no Rio de Janeiro (RJ).

Segundo Lula, nas conversas com o presidente da Arábia Saudita, durante a Conferência do Clima (COP 28), ele pediu para ele colocar dinheiro no banco dos BRICS. “E Dilma, não suba mais aqui no palco para dizer que somos um país em desenvolvimento. Somos um país do Sul Global, é mais chique e mais moderno”, acrescentou o presidente, que discursou depois da presidenta do NDB, Dilma Rousseff.

O presidente disse que o Brasil vai crescer 3%, mais do que quem achava que iríamos crescer só 0,8% e acima da expansão de outros países. “O crescimento de 3% é pouco, mas é mais do que projetavam, vamos crescer mais do que muitos outros países. O dinheiro começa a aparecer. Não podemos acreditar que não vamos crescer.”

Lula disse que “não é ruim uma pessoa ter dívida se ela ganha o suficiente para pagá-la” ou “se ela quer construir um ativo novo”.

Lula disse que “será preciso conversar com o Haddad” e sugeriu que o presidente do BNDES tomasse a iniciativa para “uma conversa entre Tesouro e BNDES”. “Não posso ficar com 1 trilhão guardado no Tesouro e o BNDES comendo pão seco sem mortadela. Vamos ter que calibrar as coisas.”

“O mercado tem que entender que não é ruim ter uma dívida por que o país está construindo um ativo. Em 2005, quando o Brasil atingiu US$ 100 bilhões em fluxo comercial, colocamos um container por seis meses pendurado num guindaste para mostrar. Esse ano, vamos chegar a US$ 100 bilhões de superávit. Quem ia imaginar quando o FHC estava na presidência e o FMI vinha todo mês no Galeão para vigiar as contas do Brasil. O juro chegou a 26%”, completou.

Lula também disse que o País não quebrou no governo anterior por que tem reservas. “Eu pensei que se um dia o Brasil tiver US$ 100 bilhões eu vou ser todo poderoso. Nós chegamos a US$ 370 bilhões de reservas, que começamos a construir a partir de 2005, e é por isso que aquele maluco que a gente tinha antes não quebrou o país. Esse dinheiro vai começar a surtir efeito. Temos credibilidade, muito maior que a que tínhamos antes”, comentou. “As pessoas perceberam a diferença de ter um governo civilizado, democrático.”

Lula pediu para que o NDB reduza “burocracias” e disse que os bancos de desenvolvimento “não podem se comportar como o mercado financeiro internacional” e defendeu que a dívida de países que foram colonizados fosse convertida em investimentos. “Nós vamos ter que aprender a negociar sem o dólar como moeda padrão. Precisamos tentar inovar. Como eu não sei, mas vocês sabem. Pra quê vocês estudaram tanto? Se vocês me ensinarem eu aprendo.”

Por fim, Lula disse que o BNDES terá que aprender “a não dizer não”. “Aprendam a construir o ‘sim’. Sem abrir mão de nenhuma exigência. Mas aprendam a dizer sim por que o país precisa disso. Sem investimento a gente não vai a lugar nenhum. Tínhamos acabado com a fome e ela voltou. Se não valorizarem a democracia, vocês já viram o que acontece.”

BANCO DOS BRICS EMPRESTA US$ 1,7 BI PARA BNDES

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloisio Mercadante, disse que os US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 8,5 bilhões) captados com o New Development Bank (NDB), o “banco dos Brics”, nesta quarta-feira, serão importantes para investimentos em transição energética. Os recursos poderão ser aplicados em concessões público-privadas, sendo US$ 500 milhões são para projetos de combate às mudanças climáticas e US$ 1,2 bilhão voltados a investimentos em infraestrutura sustentável.

“Os extremos climáticos estão exigindo respostas rápidas. O BNDES é o banco que mais investe em energia limpa”, disse Mercadante, em discurso na assinatura dos contratos, com o presidente Lula e a presidenta do NDB, Dilma Rousseff.

Ele citou um projeto anunciado na COP 28, o Arco de Restauração na Amazônia, que tem a meta de atingir, até 2030, seis milhões de hectares de florestas restauradas, em grandes áreas desmatadas ou degradadas na Amazônia, e uma linha de 1 bilhão de euros obtida na Alemanha. “A viagem internacional do presidente Lula rendeu US$ 10 bilhões para investimentos”, comentou o presidente do BNDES.

Ele também destacou o desempenho do BNDES em 2023. “A demanda por crédito aumentou em 94% e a nossa carteira de crédito para a infraestrutura atingiu R$ 52 bilhões. Nossa inadimplência é de 0,01%”, comentou.

o vice-presidente Geraldo Alckmin, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, José Mujica e o ex-presidente da Colômbia, também participaram da cerimônia.

O NDB assinou US$ 6,1 bilhões, sendo US$ 2,8 bilhões para o Brasil, ou cerca de R$ 10 bilhões. Esse ano, em Marrakesh, também foi assinado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de US$ 1,2 bilhão, que já estavam reservados, mas não haviam sido reclamados até então, afirmou Rousseff. Com isso, o NDB concluiu um investimento de US$ 2,7 bilhões para o Brasil em 2023.

“Quem conhece o Brasil é o BNDES. Acho importante essa parceria entre os bancos de desenvolvimento. Fazer parceria com os bancos nacionais de desenvolvimento é estratégico para os países do Sul Global”, discursou a presidente do NDB.

Segundo Dilma, o BIS estima uma expansão de 7% para 25% em pagamento com moedas locais. “O investimento em moedas locais é uma questão estratégica para os bancos e faz parte de uma tendência mundial de diversificação das moedas”, afirmou Roussef. “É a melhor forma de investir em project finance, pois reduz riscos. Temos maior capacidade de investimento por que também captamos em moeda chinesa.”

Os recursos anunciados nesta quarta-feira poderão ser usados pelo BNDES para financiar investimentos dos setores público e privado, em todo o território nacional. A captação para investimentos em infraestrutura sustentável poderá contemplar projetos de energia renovável, transporte e logística, saneamento, mobilidade urbana, tecnologias da informação e comunicação (TIC) e infraestrutura social, com foco em educação e saúde. Com prazo de 24 anos, a operação prevê que até 30% dos recursos sejam utilizados pelo BNDES para financiamento de debêntures nos setores definidos.

Já os projetos referentes à agenda de redução de emissões de gases do efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas serão voltados a áreas como mobilidade urbana sustentável, resíduos sólidos, energias renováveis, equipamentos eficientes, cidades sustentáveis e florestas nativas. Nesta operação, o prazo para utilização dos recursos é de 11 anos e seis meses.

Nas duas captações, os projetos apoiados deverão seguir as políticas operacionais do BNDES e serão avaliados com base em indicadores como redução de emissões de CO2 equivalente e quantidade de pessoas beneficiadas com acesso a saneamento, mobilidade urbana e infraestrutura social.

De acordo com o BNDES, as captações com o NDB têm garantia soberana da União e já foram aprovadas pelo Senado Federal.