BC vê taxa básica de juros próxima ao limite mínimo, revela ata

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Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo, 22 de setembro de 2020 – O Comitê de Política Monetária (Copom) retomou, durante a reunião deste mês, a discussão sobre um potencial limite efetivo mínimo (lower bound) para a taxa básica de juros. Para a maioria dos membros do Comitê do Banco Central, tal limite seria “significativamente maior em economias emergentes do que em países desenvolvidos, devido à presença de um prêmio de risco”.

No caso do Brasil, esse prêmio de risco tende a ser maior, devido à “relativa fragilidade fiscal” e às incertezas quanto à trajetória fiscal à frente. Diante disso, o Copom avalia, segundo a ata do encontro da semana passada, que a taxa básica de juros já estaria próxima do nível a partir do qual “reduções adicionais poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos”.

A partir daí, o Copom aprofundou a discussão e avaliou também a importância dos componentes do custo de crédito e do custos operacionais do sistema financeiro, concluindo que, diante do “longo histórico da economia brasileira operando com taxa básica de juros em nível elevado, os juros baixos sem precedentes podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira”.

Diante disso, o Comitê do BC concluiu que um ambiente com juros baixos sem precedentes pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar, sem devido tempo necessário de transição para um novo ambiente, o bom funcionamento e a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais. “Assim, o Comitê concluiu que eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais”. Para o BC, caso novos cortes nos juros básicos sejam necessários, será preciso ter maior clareza sobre a atividade e a inflação no horizonte à frente, sendo que as reduções adicionais “poderiam ser temporalmente espaçadas”.

RISCOS E INCERTEZAS

O Copom também considerou, durante a reunião da semana passada, a necessidade de condicionar a condução da taxa básica de juros a outros dois fatores. O primeiro refere-se à manutenção do regime fiscal, pois a ruptura desse regime “implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia”. Já o segundo refere-se à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, “tendo em vista que a desancoragem indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo a seus benefícios”.

Em relação ao cenário internacional, o Comitê do BC avaliou que a retomada da atividade nas principais economias, ainda que desigual entre diferentes setores, combinada com a moderação na volatilidade dos ativos financeiros, tem resultado em um “ambiente relativamente mais favorável para economias emergentes”.

Contudo, o Copom ressaltou que “há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da covid-19”. Segundo o BC, uma redução abrupta e não organizada de tais estímulos bem como o aumento de casos da doença podem atrasar a recuperação da demanda, limitando o funcionamento do setor de serviço, bem como o processo de recomposição de estoques.