Ações de frigoríficos disparam após notícias de surto de peste suína africana na China

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Foto: Griszka Niewiadomski/freeimages.com

São Paulo – Os papéis dos frigoríficos operam em forte alta em meio a notícias de surto de peste suína africana (PSA) na China que podem favorecer a exportações de carne das produtoras brasileiras. As ações da Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3), BRF (BRFS3) e Minerva (BEEF3) apresentavam maiores altas, de 10,33%, 7,94%, 7,02% e 6,58%. O Ibovespa subia 0,35% às 11h11 (de Brasília) desta quinta-feira.

O Itaú BBA aponta que casos relatados de peste suína africana (PSA) na China podem estar novamente no centro das atenções, citando uma reportagem da agência “Reuters”, publicada ontem (15/3), que informou que alguns casos da doença foram relatados pelo país após o feriado do Ano Novo Chinês em janeiro. A reportagem da Reuters também observou que a doença pode afetar até 10% da produção de carne suína chinesa, contra uma queda de 30% na produção de carne suína em 2018-20.

“Acreditamos que é muito cedo para assumir consequências semelhantes às da pandemia de PSA de 2019. O fluxo restrito de notícias sobre o surto atual até agora pode indicar que este é um surto controlado e, portanto, pode ser muito cedo para assumir que o impacto será semelhante em magnitude à crise anterior em termos de mortalidade e inflação de preços de proteínas”, disse o Itaú BBA, em relatório. “Embora pareça justo supor que este será um tema quente de discussão entre os investidores, se confirmado, temos motivos para acreditar que os impactos serão mais brandos do que durante o último surto de PSA no país, e não prevemos grandes mudanças para as empresas de proteína sob nossa cobertura por enquanto.”

No caso de uma intensificação do surto, o Itaú BBA cita preferência no investimento em exportadores de carne bovina, em vez de carne suína ou de aves. “Mantemos nossa preferência pela JBS e Minerva sobre os outros nomes, já que essas empresas ainda estão sendo negociadas com uma avaliação atraente.”

“Além disso, notamos que os preços das aves em 2019 enfrentaram uma queda rápida após os ajustes acelerados na oferta global. Ainda acreditamos que é muito cedo para ficarmos otimistas nesta notícia, mas ambas as teses de investimento são sólidas, a nosso ver, e preferimos considerar este surto de PSA como um risco positivo neste momento.”

A doença, conhecida por extinguir 30% da produção de carne suína na China durante o último surto em 2019-20, tem uma alta taxa de mortalidade e foi um dos eventos mais transformadores no comércio global de proteínas na história recente.

A China levou cerca de quatro anos para recuperar sua produção de carne suína aos níveis pré-PSA. A produção de carne de porco no país caiu 11 milhões de toneladas em 2019 e 6 milhões de toneladas em 2020, já que se espalhou pela China durante a última pandemia. O país voltou a seu nível de produção pré-PSA em 2022, mas os preços da proteína na região permaneceram altos ao longo o período de recuperação.

“Notamos que os preços do frango se ajustaram rapidamente da última vez devido ao ciclo do animal, mas tanto a carne suína quanto a bovina ficaram acima da média ao longo do período de abastecimento de recuperação. Para a carne bovina, acreditamos que a PSA acelerou uma tendência de longo prazo de aumento do consumo de carne bovina na China.

A China elevou seus padrões sanitários para o processo de produção desde então, mitigando parte do potencial impacto em sua produção no país. Durante a última pandemia, a produção chinesa de carne suína concentrava-se principalmente em fazendas de pequena escala operadas por famílias.

No entanto, a consolidação acelerou significativamente após a crise da PSA. Além disso, dados os altos custos associados a regulamentações e biossegurança, juntamente com as notáveis vantagens de escala do setor, o mercado tende naturalmente a evoluir para um número reduzido de players de grande porte. Esta é uma tendência que já havia começado antes da crise da PSA, mas foi acelerada pela enfermidade. Os dez maiores produtores da China responderam por 8% da oferta em 2018, e o o governo quer que eles produzam pelo menos 50% da oferta até 2025, o que deve levar a taxas de contágio mais baixas e desacelerar a propagação de surtos da doença no futuro.