Ação da Alpargatas despenca após prejuízo e provisão acima do esperado de Americanas

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São Paulo – A ação da Alpargatas foi a principal queda do Ibovespa no pregão desta sexta-feira, após resultados negativos da companhia no quarto trimestre. O papel ALPA4 despencou 18,67%, cotado a R$ 9,58 no fechamento. O Ibovespa fechava em leve alta às 18h14 (de Brasília).

A companhia registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 21 milhões no 4T22, revertendo lucro de R$ 303,1 milhões registrado um ano antes, informou a fabricante da Havaianas nesta quinta-feira (9/2). O lucro líquido recorrente de Havaianas atingiu R$ 81 milhões, queda de 46% na comparação com o 4T21. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente foi de R$ 152,6 milhões, queda de 15,2% na base de comparação anual.

A fabricante de calçados provisionou R$ 6,7 milhões referentes a operações com a Americanas. O valor diverge dos R$ 2,2 milhões que constavam na lista de credores da rede varejista em processo de recuperação judicial, divulgada em 25 de janeiro.

Na divulgação de resultados, a Alpargatas explica que houve um impacto de R$ 6,7 milhões em provisão para devedores duvidosos (PDD) do recebível de um cliente específico. Já nas notas explicativas, a companhia afirma que efetuou a provisão de 100% dos recebíveis do cliente Lojas Americanas.

A XP disse que os resultados da Alpargatas vieram fracos no 4T22, abaixo das suas estimativas que já eram conservadoras, devido a uma dinâmica de receita pressionada pelo cenário macroeconômico mais desafiador no Brasil, além de ajustes operacionais nas operações internacionais; baixa de estoques no Brasil, EUA e China levando a uma pressão de rentabilidade em margem bruta; e despesas com reestruturação no valor de R$ 49,3 milhões.

“Embora a companhia tenha divulgado algumas iniciativas para enfrentar os desafios operacionais e macroeconômicos, acreditamos que os efeitos positivos mais materiais devem ser vistos somente a partir do segundo trimestre. Além disso, a empresa anunciou a substituição de seu CFO pelo André Natal, um executivo conceituado no mercado e com sólida experiência na condução de ganhos de eficiências operacionais. Mantemos nossa recomendação Neutra”, escreveram os analistas Danniela Eiger, Head de Varejo e Co-Head de Equity Research, Thiago Suedt, Analista de Varejo e Gustavo Senday, Analista de Varejo da XP.

O Bradesco BBI disse que, no geral, os resultados da Alpargatas foram fracos. Em relação ao futuro, a análise acredita que o difícil cenário competitivo nos EUA e em outros mercados internacionais ainda deve ser um vento contrário às operações da companhia.

“Nas operações brasileiras, a Alpargatas enfrentou mais um trimestre de queda de volumes, impactada principalmente pelo baixo desempenho do canal supermercado, o que corrobora nossa tese de um mercado interno saturado, levando a um crescimento limitado de volumes”, comentaram os analistas do BBI, em relatório a clientes.

Por outro lado, os mercados internacionais foram negativamente impactados pelo segmento dos EUA, devido a alterações na sua estratégia de mix de canais, afetando tanto os volumes como os preços.

Volumes e perdas de margem bruta devido à baixa de estoque relacionada a mudanças na estratégia comercial dos EUA e China levaram a uma grande perda de 230 bps na margem EBITDA ante as estimativas do Bradesco BBI.

“No geral, mantemos nossa classificação Neutra com um preço-alvo de R$ 16 para 2023 com base em ventos contrários provenientes do consumo discricionário sombrio no Brasil e um cenário competitivo acirrado nas operações internacionais. A Alpargatas está sendo negociada atualmente a 14,1x PE, um desconto de 22% em relação ao PE histórico de 19x (média dos últimos 10 anos), o que acreditamos ser justo considerando o ROE mais baixo de 8,6% esperado em 2023 versus a média de 16,2% em 2018-19”, finalizaram.