WTI deve voltar a ficar negativo e Brent pode seguir mesma trajetória

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São Paulo – A combinação de medidas de isolamento social e restrição a viagens para conter a disseminação do novo coronavírus ao redor do mundo destruiu a demanda por petróleo, alimentou o excesso de oferta global e levou a capacidade de armazenamento à beira do colapso. A falta de elementos para dissipar essa conjuntura deve trazer de volta um pesadelo recente para o mercado de energia: os preços negativos, que dessa vez podem atingir não só o WTI como também o Brent, segundo especialistas consultados pela Agência CMA.

“O que vimos esta semana com o WTI foi uma corrida para fechar posições antes do contrato expirar. Como o petróleo implica em entrega física, ninguém naquele momento queria receber um barril em casa”, disse o chefe de estratégias de commodities da ING, Warren Patterson.

Na segunda-feira, o preço do contrato futuro do WTI com vencimento em maio – que expiraria no dia seguinte – caiu 306%, terminando a sessão negativo pela primeira vez na história, a -US$ 37,63, o que significa que foi necessário pagar para que alguém retirasse os barris das mãos dos traders.

Patterson explica que no caso do Brent – usado como referência no mercado internacional – é mais difícil que as cotações fiquem negativas, embora a Intercontinental Exchange (ICE) – bolsa onde os futuros desse tipo de petróleo são negociados – já tenha emitido um aviso de que está se preparando para o evento da reversão de preços.

“O Brent não sofre da mesma capacidade limitada de armazenamento como o WTI, que depende exclusivamente de Cushing, por isso, não há tanta urgência na cobertura de posições como no caso do petróleo norte-americano”, acrescentou Patterson, referindo-se o hub de entregas físicas do WTI em Oklahoma, nos Estados Unidos, que já beira o limite.

O estrategista da ING, no entanto, não descarta a repetição dos preços negativos do WTI para o contrato futuro atual, que expira em 19 de maio.

“Ainda há espaço para os preços caírem mais e até ficarem no negativo novamente diante da capacidade limitada de armazenamento em Cushing, que deve ficar esgotado em maio. Com o WTI negativo novamente, não há como evitar a pressão sobre o Brent, cujos preços devem ser arrastados por essa onda de baixa”, afirmou Patterson.

Embora inéditos, os preços negativos do petróleo já eram esperados diante das pressões de oferta e armazenamento do mercado atual.

“Os preços negativos estão se manifestando cada vez, como previsto em meados de março. As bolsas estavam se preparando para gerenciá-los, inclusive no WTI, com o CME informando que isso estaria pronto, se necessário”, disse o estrategista de commodities do Citigroup, Eric Lee.

No último dia 8, o CME Group – que controla a bolsa onde os futuros do WTI são negociados – divulgou nota indicando que testaria preços negativos para os futuros do petróleo.

“A CME Clearing tem um plano testado para apoiar a possibilidade de opções negativas e permitir que os mercados continuem funcionando normalmente”, disse a operadora de câmbio na ocasião, em nota.

Lee acredita ainda que esse cenário inédito de preços do petróleo não deve ser revertido no curto prazo.

Mesmo com os cortes de oferta entre grandes produtores e com a diminuição significativa de estoques a partir do segundo semestre, as próximas quatro a seis semanas serão marcadas pela dificuldade de armazenamento, provavelmente gerando realizações de preços e desconexões incomuns, incluindo o super contango e cotações negativas”, afirmou Lee.

O contango ao qual o estrategista do Citigroup se refere ocorre quando os preços à vista de commodities são inferiores aos preços futuros.