Selic sobe a 6,25%, como esperado, e irá a nível "contracionista'

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Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, participa da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal, em Brasília. (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto porcentual (pp), a 6,25%, conforme o previsto pela maioria dos especialistas. O grupo sinalizou que a taxa deve subir mais 1 pp em outubro e indicou que pode ter que elevar os juros para níveis ainda mais altos para conter a inflação.
Ouça o comentário de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, a respeito da decisão no Telegram da Agência CMA.
“O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista”, disse o Copom em nota.
O grupo manteve sem alterações o balanço de riscos para a inflação – apontando que os preços podem ficar acima do esperado em caso de perturbações à trajetória de ajuste das contas públicas e obstáculos a reformas que ajudem a economia a convergir para níveis de endividamento menores, ou ficar aquém do previsto se houver reversão do movimento de alta nos preços das commodities.
No entanto, elevou as estimativas de inflação para este ano e o ano que vem a 8,3% e 4,1%, respectivamente, de 6,8% e 3,8% na reunião anterior. A elevação acontece mesmo diante de um cenário em que a Selic chegaria a 8,25% em dezembro e em 8,50% no ano que vem – níveis mais altos do que os de 7% previstos para ambos os períodos no comunicado passado.
“A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo”, disse o Copom.
“Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis”, acrescentou.
O Copom reiterou que a economia brasileira “segue mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante” no cenário de recuperação robusta ao longo do segundo semestre, mas apontou que no exterior a situação pode ficar menos favorável ao Brasil e outras economias emergentes.
“No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes”, disse o grupo.
“No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes”, acrescentou.