Resultados do segundo trimestre não devem gerar revisões baixistas, dizem analistas

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São Paulo – Os resultados das empresas que compõem o índice Ibovespa apresentados no segundo trimestre confirmaram as estimativas e os próximos trimestres não devem gerar revisões baixistas, e reafirmam o nível barato do valuation da bolsa atualmente, comentou a Ativa Investimentos, em relatório.

Entre os destaques positivos, a corretora citou Petrobras, com um resultado histórico e dividendo recorde, Itaú e Banco do Brasil, que entregaram ótimos resultados em um momento em que os investidores se preocupam com o nível crescente da inadimplência, especialmente porque o Bradesco divulgou os seus números em uma data anterior e decepcionando as expectativas.

Outros bons resultados foram vistos em Renner e Soma, com uma série de sinais de recuperação. Magazine Luiza, com ótima geração de caixa e afastou de vez alguns rumores de dificuldades na sua gestão de caixa, e Hapvida, que apresentou melhora antes do esperado, uma vez que boa parte do mercado aguardava essa melhora mais para o fim do ano, comentou a Ativa.

Os destaques negativos, na visão da Ativa, foram Vale, Bradesco, BRF e Natura, Sabesp. “Após desapontar em seu relatório de vendas e produção com uma produção menor que esperávamos em função de problemas no seu Sistema Norte, a Vale reportou também números abaixo do consenso em função da queda do preço do minério de ferro, bem como questões envolvendo a sua operação de metais básicos. Pesou ainda negativamente no trimestre os altos custos com combustíveis. Com as maiores dificuldades, a companhia revisitou e reduziu o seu guidance de minério de ferro e cobre”, comentou.

Já o Bradesco apresentou a pior evolução de inadimplência entre seus pares no período, além de redução expressiva no índice de cobertura. Os analistas vai precisar acelerar ainda mais suas provisões enquanto diminui a expansão da carteira, afetando seu core business.

A BRF mais uma vez surpreendeu negativamente no 2T22, impactada pelo ambiente inflacionário doméstico e seu efeito de trade-down, bem como o atual patamar elevado do preço dos grãos, que ocasionou uma compressão de margens, levando ao prejuízo auferido no trimestre.

A Natura frustrou (novamente) as expectativas já pessimistas, já que suas diversas marcas não mostraram sinais de melhora, a queima de caixa chamou a atenção e acendeu uma luz amarela no mercado. A Ativa avalia que não há solução a curto prazo e o trabalho a ser feito dentro da companhia será ao longo de alguns trimestres.

E a Sabesp, apesar do aumento nas tarifas e da melhora em seu mix com o retorno das classes comercial e industrial, o aumento dos preços de insumos químicos, energia elétrica, combustíveis e inadimplência pesaram nos resultados da companhia, que divulgou números abaixo do esperado, frustrando os investidores.

SEM VALE E PETROBRAS

O BTG Pactual disse que os resultados do segundo trimestre de 2022 das companhias listadas (excluindo Petrobras e Vale) não chamaram a atenção, com receita e ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) apenas 3,5% e 2,1% acima de suas projeções, enquanto o lucro foi 5,4% menor, e os lucros das empresas domésticas sendo os mais atingidos, principalmente devido às companhias aéreas.

“A receita e o ebitda das empresas nacionais superaram nossas estimativas em 2,4% e 2,2%, enquanto seus ganhos foram 4,7% menores, impactados pelas companhias aéreas. Mas ajustando para Gol e Azul, o lucro doméstico teria superado nossa projeção em 3,0%”, escreveram os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, em análise rápida comparativa entre os resultados consolidados em comparação com as estimativas do BTG e trimestres anteriores.

No lado positivo, os analistas citaram que os bancos (principalmente Banco do Brasil) e empresas de bens de capital (lideradas pela Embraer) reportaram ganhos do segundo trimestre melhores do que o esperado.

Os exportadores de commodities se saíram melhor, com receita, ebitda e lucro superando em 4,7%, 3,5% e 35,4%. Comparando o 2T22 com o ano passado, os resultados foram fracos, prejudicados pelos exportadores de commodities.

Enquanto a receita consolidada (ex-Petrobras & Vale) cresceu 21% em base anual, o ebitda e lucro líquido caíram 2,3% e 42,6% ano contra ano. A margem ebitda caiu 387 pontos base na comparação anual, principalmente devido margens mais baixas dos exportadores de commodities (as margens das empresas domésticas também caíram em relação a 2021, mas não muito), observam.

Em relação ao ano anterior, receita e ebitda das empresas nacionais cresceram 15,4% e 9,4%, enquanto o lucro líquido caiu 20,0%, abalado por companhias aéreas e utilites. As empresas de commodities não se saíram muito melhor, com receita 22,7% maiores em relação a um ano antes, mas ebitda e ganhos 1,8% e 23,2% menores.

O relatório também aponta que os setores de Petróleo e Gás (ex-Petrobras e Vale), Agronegócio e Varejo impulsionaram, principalmente, o crescimento anual das receitas, mas que os ganhos desses setores caíram.

O principal, e de fato único, driver de anual de crescimento do faturamento foi o setor de Bancos (especialmente Banco do Brasil, e também Itaú), em grande parte devido ao maior crescimento da margem financeira (NII).

“Dadas as características únicas desses negócios, os lucros de bancos e seguradoras se beneficiam de taxas de juros mais altas que subiram mais de 10 pontos percentuais desde o início do segundo trimestre de 2021. O aumento acentuado das taxas de juros aumentaram as despesas financeiras das empresas e, assim, crescimento dos lucros”, comentaram os analistas.

FOCO EM RENTABILIDADE

As principais mensagens das teleconferências de resultados do segundo trimestre das companhias listadas na Bolsa foram foco em rentabilidade e geração de caixa; demanda de alta-renda ainda forte, apesar da desaceleração frente a uma base mais normalizada; dinâmicas favoráveis para o varejo alimentar no norte e nordeste com o Auxílio Brasil; e melhora da inadimplência devido à concessão de crédito mais conservadora, disse a XP, em relatório sobre a temporada.

A análise aponta que os setores de varejo de alta renda e atacarejo foram novamente os destaques positivos do intervalo, enquanto a Natura&Co. e Alpargatas foram os destaques negativos. “Reiteramos o Grupo Soma, Assaí e Grupo Mateus como nossas principais escolhas”, escreveram os analistas da XP.

Nesta temporada, eles observaram o reequilíbrio dos canais, com o varejo físico superando o e-commerce; aceleração do crescimento da receita, impulsionado pelo repasse de preços; melhoria da rentabilidade, embora ainda pressionada versus 2019.

A XP também apontou “ventos favoráveis sazonais que não se repetirão no segundo semestre” (antecipação do frio, reajuste de preço de remédios, Dia das Mães e Dia dos Namorados).

Para o segundo semestre, a análise mostrou visão positiva, porém cautelosa, diante da melhora marginal do cenário macro frente a desaceleração da inflação e proximidade do fim do ciclo de aperto monetário, alavancas positivas do Auxílio Brasil, 5G e Copa do Mundo, mas incertezas macro e políticas à frente.

(Atualiza nota às 19h22 com informações da XP)