Presidente do BC diz não saber quando Selic começará a cair e que decisão será técnica e não política

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Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, participa da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal, em Brasília. (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

São Paulo, 25 de abril de 2023 – Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse não ter condições de prever quando a taxa Selic começará a cair, destacando que é um dos nove votos para tomar essa decisão. Campos Neto reiterou que a decisão será técnica e não política e que levará em conta três pontos: as expectativas de inflação, o hiato do produto e a inflação corrente.

 

“Nenhum presidente do Banco Central gosta de subir juros, mas temos obrigação com a meta de inflação. Não há consumo estável e planejamento de empresa com inflação alta”, explicou, acrescentando que uma das missões do BC é combater a inflação por ser uma questão social.

 

Em sua apresentação, Campos Neto defendeu o sistema de metas de inflação, que diminui a volatilidade e dá “previsibilidade para os agentes financeiros”. O presidente disse ainda que o BC tem autonomia operacional para perseguir as metas, mas quem as define é o Conselho Monetário Nacional (CMN).

 

“O Brasil não estoura a meta de inflação mais que mais que a média de outros países”, reiterou, lembrando que a meta de 3% é bem próxima da média mundial e que o choque recente da economia – pandemia e guerra na Ucrânia – trouxe dificuldades para vários países ficarem dentro da meta.

 

O presidente do BC afirmou que a piora nas expectativas é um problema e que essa desancoragem ocorre desde novembro. Campos Neto destacou a autonomia do BC e disse que países com bancos centrais mais autônomos têm inflação menor. “O BC autônomo traz segurança, gera ganho para sociedade e previsibilidade ao mercado”, completa.

 

Campos Neto disse que “nunca na história desse país houve um movimento de alta de juros tão intenso em ano eleitoral quanto o do ano passado”. O presidente frisou que se esse movimento não fosse feito a inflação estaria na casa de 10% e não de 5%. “O BC atuou de forma autônoma e com menores custos para a sociedade”, disse, reforçando que os comunicados e atas do BC sempre se basearam em questões técnicas.

 

Segundo o presidente da instituição, o Brasil está com inflação média abaixo do mundo, o que mostra o sucesso do movimento de elevar as taxas de juros. Campos Neto citou países como Argentina e Turquia, que abandonaram o sistema de metas de inflação, como economias com dificuldades. “O problema de ter um pouco mais de inflação é que acaba em inflação demais”, destacou. Acrescentando que o BC busca a suavização para ter a inflação controlada com o mínimo de custo social.

 

Campos Neto voltou a sustentar que para estar dentro da meta de inflação, o juro básico teria que ser de 26,5%, mas destacou ser óbvio que o BC não fará isso. O presidente descartou os apontamentos de que a economia brasileira estaria diante de uma recessão sem fim. Ele lembrou que decisões passadas, como a adoção do teto fiscal e a reforma da previdência, ajudaram a derrubar os juros.

 

Sobre o arcabouço fiscal, que está tramitando no Congresso, Campos Neto lembrou que este remove o risco de cauda de ter um aumento grande na trajetória da dívida, mas ressalvou que não há relação mecânica entre o fiscal e a política monetária. “A adoção do arcabouço foi um movimento na direção certa”.

 

Ao ser questionado, Campo Neto disse saber quanto custa a inflação para o mais pobre. “Sabemos o perigo que a inflação representa. A inflação é o imposto mais perverso para os mais pobres”, falou. O presidente confirmou que o objetivo prioritário do BC é combater a inflação e, entre os secundários está a meta de suavizar os efeitos e garantir a melhora das taxas de emprego.

 

O presidente da autarquia disse que o Brasil tem a menor taxa de recuperação de crédito do mundo e esse é um obstáculo no combate à inflação. Além disso, a dívida bruta do governo brasileiro é maior que a média. “Não chega a ser absurda, mas prejudica na composição dos juros”.

 

Segundo ele, o BC tem diminuído a taxa de juros real do Brasil. “Controlando a inflação, poderemos fazer ainda mais”. Para ele a taxa real de juros ainda é alta, mas não está mais elevada que a do ano passado. “O BC gosta e quer taxas de juros menores e crescimento da economia”.

 

Campos Neto destacou ainda as medidas adotadas pelo BC para reduzir os custos do crédito, mas ressaltou que redução da Selic não necessariamente determina aumento no crédito. Também contestou as acusações de que juros altos favorecem os bancos. “A rentabilidade dos aumentos não necessariamente aumenta com a alta da Selic”.

 

O presidente disse ainda que muito crédito subsidiado diminui a taxa neutra de juro, comemorou que a curva de juros já precifica uma baixa no médio prazo. Considera ainda o juro real alto no Brasil e que o BC está atuando para diminuir. Ele admitiu o erro na revisão das estatísticas de câmbio e que isso não deverá ser repetido. Campos Neto destacou o crescimento do mercado de capitais, com papel importante para crédito e poupança.

 

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