Petrobras monitora impacto da crise na Ucrânia nos preços e custos

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O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna. (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

São Paulo – A diretoria da Petrobras disse que monitora a crise na Ucrânia, mas não acredita que vá impactar os clientes da companhia. “Há um forte impacto nos preços, o mercado todo está de olho e vamos seguir monitorando para ver qual será o ponto de equilíbrio nas cotações do petróleo”, disse Claudio Mastella, Diretor de Comercialização e Logística, em entrevista a jornalistas concedida na tarde desta quinta-feira.
O Diretor de Refino e Gás Natural, Rodrigo Costa Lima e Silva, também disse que a empresa acompanha o impacto da crise na Ucrânia para os mercados asiáticos e ao custo de regaseificação, mas que não espera falta do produto.
Em meio à elevação do preço dos combustíveis no País e do petróleo no mercado internacional, a administração da Petrobras buscou destacar o retorno de seus ganhos à sociedade e os investimentos na área de refino, após a apresentação de números exorbitantes em seu relatório do exercício de 2021. Na teleconferência pública de resultados para investidores e analistas, o presidente da companhia exaltou o resultado de sua gestão.
“Os números do quarto trimestre reforçam nossa trajetória de sucesso. Conseguimos atingir nossas metas, com o Pré-Sal representando 70% do total produzido, com uma produção de maior qualidade e de baixas emissões”, disse o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, na videoconferência pública de resultados da companhia.
Segundo números apresentados pelo diretor financeiro da companhia, Rodrigo Araujo, a geração de caixa operacional da companhia em 2021 foi de R$ 230,0 bilhões, ante R$ 131,2 bilhões em 2020, dos quais 57% retornaram para a sociedade. Do total, R$ 148,2 bilhões foram destinados ao pagamento de tributos, R$ 54,7 bilhões a participações governamentais e R$ 27,1 ao pagamento de dividendos aos acionistas, segundo a Petrobras.
REFINO
Os executivos avaliam que o aumento de preços dos combustíveis na Bahia é reflexo de um “mercado que começa a crescer com a entrada de um refinador internacional e isso deve continuar em 2022, com a conclusão de outros processos de desinvestimento já anunciados ainda este ano.” O executivo refere-se à Acelen, empresa criada para administrar a refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, vendida pela Petrobras para o fundo Mubadala, dos Emirados Árabes, em março de 2021, e que vem reajustando o preço do combustível bem acima da Petrobras.
Em relação à venda de ativos de refino, Araújo disse que vem conversando com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e que avalia o melhor momento para relançá-los ao mercado. Em janeiro, o órgão abriu abriu dois inquéritos administrativos para investigar supostos abusos da Petrobras no mercado de combustíveis, com o foco na infraestrutura de gás natural e petróleo da empresa e o outro sobre os preços praticados pela empresa na cadeia produtiva dos combustíveis.
Já em relação à venda da Refap, Repar e Rnest, os executivos avaliam como avançar o processo, avaliando a melhor “janela” para a operação.
A Petrobras investirá US$ 6,1 bilhões em refino até 2026. “Estamos ampliando as capacidades de produção, que agrega bastante valor com processamento de refino de valor, além de US$ 600 milhões de dólares em biorefino e parcerias com a Vibra, entre outras iniciativas, por meio das quais a Petrobras está investindo em refino”, disse Rodrigo Costa Lima e Silva, diretor executivo de refino e gás natural.
A empresa também espera avançar na otimização e venda de termelétricas previstas em seu plano estratégico e “gerar mais valor ao gás, com um produto de alta performance e maior eficiência”, comentou o Diretor de Refino e Gás Natural.
Em relação às perspectivas para a produção de diesel S-10, Silva destacou que a companhia bateu recorde no quarto trimestre e está avançando em hidrotratamento nas refinarias para acompanhar o reposicionamento no mercado até 2026.
ESTIMATIVAS FINANCEIRAS
Por fim, em relação às perspectivas para o ano, o Diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araujo, disse que a companhia avalia manter o nível de alavancagem na faixa entre US$ 55-65 bilhões em 2022, assim como o nível de pagamento de dividendos de 2021.
O executivo disse que o nível de alavancagem atual deve ser mantido em 2022. A companhia encerrou 2021 com índice em 1,09, 6,8% abaixo do registrado em 2020.
ANÁLISE
O Bank of America (BofA) elevou a estimativa de dividendos da Petrobras até 2024, após a divulgação de resultados da companhia no ano passado, destacando que, dada a nova redução do endividamento, a empresa declarou pagamentos adicionais de dividendos seguindo sua política de pagamento de 60% do fluxo de caixa livre, no valor total de R$ 37,3 bilhões (R$ 2,86 por ação), na noite desta quarta-feira (23/2).
A análise do BofA espera que um alto rendimento apoie a avaliação, citando que a política energética do Brasil em relação ao preço dos combustíveis continua a ser um desafio óbvio em um ambiente de taxas de juros crescentes, especialmente se as tensões geopolíticas aumentarem.
“A incerteza relacionada à política energética provavelmente será mais proeminente durante a campanha que antecede a eleição presidencial, em outubro. O preço da gasolina e do diesel normalmente tem sido um alvo fácil para os políticos durante as eleições e este ano provavelmente não será exceção. No entanto, mudanças no mercado downstream (a Petrobras claramente não é mais o único marcador de preço) e movimentos para encontrar outras soluções (alterações fiscais, etc.) podem limitar os riscos, em nossa opinião”, disseram os analistas do BofA, ao reiterar a recomendação da compra dos papéis da Petrobras, com preço-alvo de US$ 16,50.