Taxas DI precificam continuidade de cortes da Selic, apesar de geopolítica delicada

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São Paulo, 3 de janeiro de 2024 – O ano começou com tensão no Brasil, especialmente com relação ao novo governo e o nível de seu compromisso com a questão fiscal. Esta incerteza, combinada a uma inflação ainda não ancorada abaixo da meta, gerou pressão de juros e uma consequente expectativa de redução da Selic por parte do Banco Central, coro engrossado por autoridades do governo federal. Hoje, com o arcabouço fiscal e reforma tributária aprovados, a Selic vem caindo em cortes de 0,50 ponto percentual, ritmo que deve ser mantido por algumas reuniões, segundo sinaliza as comunicações do Copom. Analistas ouvidos pela Agência CMA apostam em um ano de DI comportados mas, ainda, bastante influenciado pelo Fed.

2023 foi o ano em que a Selic começou a cair. Globalmente, os juros também caíam, fazendo com que a preocupação dos agentes com relação à atividade econômica e à saúde do sistema financeiro aumentasse, segundo André Alírio, analista da Nova Futura.

O mundo começava a discutir o afrouxamento da política monetária. Aos poucos foram reduzindo os riscos de novos eventos no sistema financeiro mundial. “Aqui também não houve tantos eventos corporativos quanto o mercado considerava possível e aos poucos foi-se montando um pouco das posições de juros novamente”, lembra o analista. “Ao mesmo tempo, começa-se a discutir de maneira um pouco mais séria e com intenção mais clara do governo, uma política fiscal responsável, o que manteve os juros moderados.”

No ambiente geopolítico não havia muitas novidades, mas as guerras – especialmente entre Rússia e Ucrânia – geravam impacto sobre o petróleo. “Também estes eventos relacionados à inflação, como commodities e preço de petróleo foram relevantes para a gente ter algum nível de pressão de juros em patamares razoavelmente elevados: o petróleo foi subindo no começo do ano, pressionando um pouco mais a inflação e, depois de um determinado momento, começou a ceder”, explica Alírio.

Ainda no terceiro trimestre, no entanto, o Banco Central passa a reduzir os juros nas reuniões do Copom e as expectativas dos juros futuros começam a ceder. “Muito na confiança das discussões que foram se aprofundando em relação ao arcabouço fiscal, no terceiro trimestre começa a ceder a expectativa de juros. Esse foi também o marco importante nesse processo de redução de juros futuros no Brasil”, pontua.

Eventos geopolíticos como a guerra entre Israel e Hamas marcaram o quarto trimestre de 2023, que gerou uma grande tensão em Israel – e da escalada desses conflitos, o que pressionou o barril para mais de US$100, apertando as curvas de juros. “Nos Treasuries, a combinação de vendedor com expectativa de inflação fez com que {os juros] passassem pelo menos uns dois meses muito elevados – os yelds, inclusive, batendo recordes históricos de rendimento”, diz ele.

“Isso fez com que a curva de juros voltasse a subir um pouco e o pessoal voltasse a ter um pouco mais de preocupação aos juros até essas últimas semanas de distensionamento mais profundo, continuidade desse ritmo de queda de juros e o início de discussões do Fed sobre eventuais reduções de taxa de juros”, conclui.

Para Márcio Paiva, diretor-gerente da Bloxs Capital Partners, apesar de a economia brasileira ser robusta e forte, ao mesmo tempo é muito sensível e, por isso, os juros futuros reagem repentinamente – tanto às alterações no cenário interno quanto no externo. “O comportamento da Selic é um tanto quanto histérico com relação às altas do IPCA: sobe rápido e demora a cair. Esse é um movimento protetivo à moeda e precisamos de fato ter essa cautela, por mais que tenha seus efeitos colaterais dolorosos, mas é muito melhor do que o desastre da hiperinflação. Muitos dos executivos e profissionais do mercado não lembram mais do que é viver em meio a um caos inflacionário”, comenta. Segundo ele, o mercado vai sempre tentar se antecipar aos acontecimentos futuros, normalmente atuando como ‘hedge’.

“Demoramos muitas décadas para conquistar uma moeda que viabilizasse o país. O BC tem como principal missão manter essa moeda saudável, ao menor sinal de risco inflacionário.” Paiva projeta um comportamento moderado para os DI em 2024. “Aderente às projeções da Selic, com possíveis saltos e recuos de curto prazo, como aconteceu em outubro último. Por enquanto está tudo de acordo com o script” .

Já o especialista em mercado de capitais Caio Canez de Castro que também é sócio da GT Capital entende que em 2023 o Rali dos DI foi atrelado a dados econômicos. “Acho que o controle da inflação no sentido de arrochar a economia, associado a realmente controlar o consumo, foi decisivo para que o banco Central pudesse tomar a decisão de queda de juros. Em um segundo momento, o cenário internacional ajudou”, contextualiza.

“Uma outra coisa que trouxe conforto também foi a manutenção da meta. Em algum momento, se falou de o BC perder um pouco de independência, pelo menos de controles da meta da inflação.” Castro projeta que o ritmo de cortes continue na mesma toada em 2024. “Vai depender do Fed começar a cortar os juros efetivamente”, conclui.

 

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