PacWest e Western Alliance sofrem pressão e perdem até metade do seu valor

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São Paulo – As ações de diversos bancos regionais caíram hoje com o pânico de uma crise bancária mais duradoura repercutindo no mercado, apesar do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) garantir que o sistema é sólido e confiável.

O PacWest Bancorp é a última vítima da fuga de investidores após anunciar ontem à noite que estava procurando por mais “parceiros e investidores”. O banco californiano é especializado em empréstimos imobiliários e investimentos em construção e comércio — como a maioria dos bancos regionais.

O anúncio provocou pânico entre os investidores, principalmente após um balanço do banco que mostrou uma queda de US$ 5 bilhões nos depósitos, levando-os para US$ 28,2 bilhões no primeiro trimestre.

A corrida para retirar liquidez desses bancos é o que tem feito a maioria quebrar, como foi o caso com o Silicon Valley Bank e, mais recentemente, o First Republic Bank.

Prevendo uma futura falência do PacWest, os investidores correram para vender seus papéis aplicados, diminuindo seu valor em mais de 40%. Desde então, o banco tentou acalmar o mercado soltando um comunicado dizendo que “não experimentou fluxos de depósito fora do comum após a venda do First Republic Bank e outras notícias”.

WESTERN ALLIANCE

Outro banco que sofreu uma queda superior a 30% foi o Western Alliance Bancorporation, banco regional com sede em Phoneix, Arizona. As vendas vieram após o Financial Times reportar que o banco estaria à procura de compradores.

Pouco depois, o banco soltou um comunicado dizendo que a notícia era “categoricamente falsa”, mas seus papéis continuam a despencar.

FED E BANCOS

Os investidores têm se perguntado até onde os problemas nos bancos regionais podem se espalhar. Para alguns, as vendas de ações são uma forma de “forçar a mão” do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) depois do órgão ter elevado ontem a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual (pp) para a faixa entre 5,0% e 5,25%.

“Este episódio em particular está usando ações de bancos como forma de pressionar o Fed” para um corte de taxas mais cedo do que o se especula, disse Christopher Marinac, analista da Janney Montgomery Scott.

Ontem, o Fed disse em seu comunicado oficial que o sistema bancário dos Estados Unidos era “sólido e resiliente”.

O presidente do banco, Jerome Powell, acrescentou que os fluxos de depósitos nos bancos diminuíram e que a apreensão e venda do First Republic nesta semana pelo gigante JP Morgan deve estabilizar ainda mais o setor, pondo um possível fim no episódio de crise bancário deste ano.

PAPEL DAS TAXAS NA CRISE

Apesar das falas de Powell, muitos economistas norte-americanos vêm colocando a culpa no banco central pela falência dessas instituições. Para entender melhor da onde parte esse argumento, é preciso lembrar que taxas mais baixas geram maior rendimento de depósitos, o que não é mais o caso.

“Por muito tempo, como a taxa de juros dos Estados Unidos era baixa, muitos investidores deixavam seu dinheiro no banco para render”, explica Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

Luives conta que o aumento das taxas fez com que muitos desses clientes retirassem seus depósitos e colocassem em bancos maiores e fundos de investimento para ter mais retorno.

“Com a perda da confiabilidade no sistema causado pelas falências em março e esse aperto monetário, bancos menores terão que remunerar melhor os depósitos dos clientes”, afirma ele. “Isso, no entanto, provocará um forte ajuste no crédito”.

APERTO DO CRÉDITO

Para o estrategista sênior global do Wells Fargo, Scott Wren, “embora possa haver mais falências de bancos regionais, a conclusão mais importante disso é o aperto das condições de crédito e os efeitos colaterais na economia geral dos Estados Unidos”.

Segundo ele “a economia norte-americana depende de crédito para crescer” e, por isso, “é correto supor que o aperto das condições de crédito acelerará a desaceleração da economia e, em última análise, resultará em uma recessão que acontecerá mais cedo do que poderia acontecer de outra forma”.

MAIOR REGULARIZAÇÃO

“Por ser um sistema financeiro mais pulverizado, a regularização e monitoramento dessas instituições não são tão precisas”, comenta Luives.

O Fed também vem sendo cobrado para ter uma mão mais forte sobre o sistema bancário. Powell foi questionado desde a coletiva de imprensa da reunião passada sobre a incapacidade do banco central de ter previsto a quebra do Silicon Valley.

O vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr, ficou responsável por fazer uma avaliação da situação no mês passado e concluiu que o Fed deve fortalecer os instrumentos para garantir uma vigilância eficaz do sistema bancário dos Estados Unidos.

“Não previmos. Agora, precisamos entender o que houve de errado e consertar”, se justificou o presidente do Fed ontem.