Ouro tem maior alta no ano com crise do coronavírus e vira bola da vez

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São Paulo – Em períodos de instabilidade e incertezas, investidores recorrem a dois ativos chamados de “porto seguro” pelo mercado: o dólar e o ouro. Apesar das diferenças nas negociações, o movimento da valorização dos ativos é similar. Tanto que ambos foram os investimentos de maior valorização no ano em meio à pandemia do novo coronavírus. A commodity metálica, porém, é que mais sobe.

“Cresceu muito a venda do ouro. O investidor corre para ele e para o dólar como investimentos de segurança”, comenta o diretor de câmbio do grupo Ourominas, Mauriciano Cavalcante. O superintendente de câmbio do Banco Ourinvest, Bruno Foresti, destaca que, com o aumento na procura, liquidez e nas negociações, o ouro virou a “bola da vez” no mercado.

Os impactos da pandemia refletiram nos preços a partir de janeiro quando o “gráfico” começou a subir de forma “significativa”, diz o analista de investimentos da Necton Corretora, Rodrigo Baeta. “O ouro subiu forte em agosto de 2019 refletindo o acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, em linha com o dólar [à época, a moeda rompeu o patamar de R$ 4,00 e acumulou alta de 8% no mês]”, relata.

Baeta acrescenta que, após os últimos quatro meses de 2019 com o preço “de lado”, o ouro acumulou altas no primeiro quadrimestre do ano. “Em abril subiu mais de 11%, com um pico de estresse ao subir 27%”, diz. No ano, a grama de ouro subiu em torno de 60% no mercado doméstico, enquanto a moeda norte-americana acumula ganhos acima de 40%. Já no exterior, a onça troy tem ganhos ao redor de 12% no mesmo período.

Foresti reforça que a valorização da commodity no mercado doméstico é puxada pela alta do dólar em relação ao real. “A cotação do ouro depende da valorização da moeda estrangeira. Ele se valorizou lá fora [ouro em relação ao dólar] e aqui, com a forte alta do dólar contra real. No exterior, a onça chegou ao pico de US$ 1.755 nesta semana, enquanto aqui, a grama chegou perto de R$ 325 na B3 [bolsa de valores brasileira]”, explica.

Os analistas salientam que a commodity opera nas máximas históricas com a cotação acima de R$ 300, enquanto a onça cotada acima de US$ 1.750 chega ao maior valor desde 2012. Apesar de poucos negócios no Brasil, Cavalcante, do Ourominas, explica que é um dos poucos países em que é possível comprar a partir de um grama e receber o dinheiro “na hora”. Ou seja, a liquidez “é imediata”, diz.

“O ouro funciona como uma reserva de valor, é um ativo que não tende a perder esse valor.  Não há pagamentos de dividendos, por exemplo. Mas em um cenário de ‘boom’ inflacionário, ele vai preservar o seu patrimônio”, pondera Foresti, do Ourinvest.

Cavalcante reforça que o ativo é um investimento de médio e longo prazo, sendo que nos últimos 10 anos – junto ao dólar – foi um dos ativos que mais se valorizou. “No patamar de 300% de alta. Diferentemente de outras aplicações, o ouro se valoriza na crise”, comenta.

A crise, classificada como “sem precedentes” por economistas e profissionais do mercado financeiro, deverá elevar a procura por investimentos seguros e expectativa é de que a moeda norte-americana chegue ao patamar de R$ 6,30 – hoje a moeda está cotada abaixo de R$ 5,60.

Diante este cenário, o profissional do Ourominas diz que a tendência do ouro é subir mais no mercado internacional e doméstico. “Há projeções de que a onça troy chegue a US$ 2 mil até o fim do ano. Aqui, caso o dólar siga acima de R$ 5,50, poderemos ver a grama de ouro cotada a R$ 350”, diz.

Baeta, da Necton, acrescenta que a negociação do ativo em fundos de investimentos no Brasil pode ajudar na valorização da commodity. “O mercado de fundos de ouro é recente no país e é difícil de encontrar esse tipo de fundo por aqui. Mas pode ser uma porta aberta para negociações maiores no futuro”, adianta.

Já o profissional do Ourinvest avalia que, enquanto o cenário seguir conturbado, a demanda pela commodity seguirá crescente, assim como o preço. “Hoje observamos que o ouro passa a fazer parte de portfólios para diversificação de investimentos. Isso é recente. A grama saiu do patamar de R$ 197 no primeiro dia do ano para quase R$ 330. Tem espaço para subir”, finaliza.