Mercado firma aposta em Selic a 7% ou mais em 2021 após Copom

390

São Paulo – A austeridade do Comitê de Política Monetária (Copom) em sua decisão mais recente fez com que os especialistas do mercado firmassem suas apostas para o nível da taxa básica de juros, a Selic, ao fim de 2021 – a previsão é de que a taxa termine este ano em 7% ou mais.

O Copom decidiu ontem elevar a Selic de 4,25% para 5,25% ao ano, sinalizar um aumento de mais 1 ponto porcentual em setembro e descartar a hipótese de terminar o ciclo de alta quando a taxa básica de juros atingir um nível neutro – agora, o grupo prevê que ela vai parar de subir quando estiver num nível “acima do neutro”.

O nível neutro, segundo as autoridades do Banco Central (BC), pode ser entendido como uma taxa 3 pontos porcentuais (pp) acima da inflação. Se fosse considerada a inflação atual, de 8,35% nos 12 meses até junho, a Selic precisaria estar em 11,35% para ser considerada neutra.

No entanto, existe o que o Copom considera o “horizonte relevante” para a inflação – um período de aproximadamente 18 meses à frente -, o que na prática significa que o grupo está mais preocupado com os níveis de inflação em 2022 do que em 2021. Para o ano que vem, o mercado estima que a inflação atingirá 3,88% – e neste caso, a taxa neutra de juros seria de 6,88%.

A chefe de economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá, apontou que o cenário econômico atual está elevando a preocupação de que a inflação termine este ano muito acima do centro da meta – de 3,75% -, e que a mensagem de juros mais altos adiante serve para evitar uma piora das expectativas de inflação em 2022.

“Diante da postura mais dura do Banco Central sobre o comprometimento de ancorar as expectativas e levar a inflação à meta no ano que vem, entendemos que a Selic deve seguir em elevação até atingir 7,25% ao ano em dezembro”, disse ela. O ritmo da alta seguiria em 1 pp em setembro, e diminuiria para 0,5 pp nas duas reuniões seguintes, em outubro e em dezembro.

A sócia-fundadora do escritório de investimentos AVG Capital, Andressa Bergamo, acredita que a Selic possa chegar a 7,5% até o final de 2021, permanecendo neste nível ao longo do ano que vem, e que esta perspectiva pode, no curto prazo, influenciar o mercado de renda fixa.

“Esperamos que os títulos prefixados e indexados à inflação de longo prazo apresentem uma valorização em um primeiro momento, com redução nas taxas dos títulos. Já para os títulos de curto prazo, a elevação da Selic resultará em desvalorização. Mas isso não é ruim, pois – para quem busca alocação em títulos de curto prazo neste indexadores – haverá uma boa oportunidade de compra desses ativos neste momento”, afirmou.

O Bank of America (BofA) reiterou sua previsão anterior, de que a Selic terminará o ano em 7% – com altas de 1,00 pp, 0,5 pp e 0,25 pp nas próximas três reuniões, respectivamente. O Rabobank também aposta em Selic a 7% no final deste ano, e manutenção da taxa neste nível em 2022.

PERSPECTIVA ECONÔMICA

O objetivo da decisão do Copom é conter o avanço da inflação no setor de serviços durante o processo de reabertura da economia, segundo José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

“O ponto mais importante foi o anúncio de que neste momento o copom avalia que o mais provável é que a Selic terá que caminhar para um nível acima do neutro, ao contrário do que vinha sendo dito até agora”, disse ele, acrescentando que a alta da taxa básica de juros acontece, na visão do colegiado, num momento em que a economia está com crescimento bastante robusto e em que houve piora nos componentes inerciais da inflação devido à retomada das atividades econômicas.

“Fundamentalmente o problema é que a composição da taxa de inflação está mudando numa direção desfavorável, com o aumento de uma taxa da inflação de serviços e pequena queda na taxa de inflação de outros bens industriais. Neste sentido, o Copom no comunicado chama a atenção para o fato de que vai ser preciso promover um ajuste na política monetária de tal forma a que reduza na margem o crescimento da economia no futuro”, acrescentou.

A postura mais austera do Copom visa a manter ancorada a expectativa de inflação em 2022, segundo o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo. “O movimento mais incisivo é adequado a nosso ver e tem por objetivo não deixar as expectativas de inflação desancoradas para 2022, uma vez que, para 2021, não há muito mais a fazer”, afirmou.

“A sinalização de continuidade do processo para a próxima reunião, com elevação de mesma magnitude, também nos parece prudente, ensejando que o ajuste, outrora parcial, será feito de forma mais célere, provavelmente até o fim do ano”, afirmou.

A meta de inflação para 2021 é de 3,75%, com limite de tolerância em 5,25%, mas o mercado espera que a taxa termine este ano em 6,87%, segundo a edição mais recente do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. Para 2022, a meta de inflação é de 3,50%, e a previsão atual do mercado é de que a inflação ao final do ano que vem esteja em 3,88% – taxa próxima da meta, porém maior que a prevista há um mês, de 3,77%.

Ele acrescentou que as fortes pressões inflacionárias recentes, decorrentes particularmente da crise hídrica – que levou a um aumento nos preços da energia elétrica – e da onda de frio em parte do país – que deve afetar os preços dos alimentos no curto prazo – “recomendavam uma atuação mais firme da autoridade monetária”.