Inflação nos Estados Unidos assusta; Bolsa fecha em queda de 2,30% e dólar sobe

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em forte queda de 2,30% acompanhando o movimento negativo nas bolsas em Nova York, que despencaram, com o mercado decepcionado com o resultado da inflação nos Estados Unidos (CPI, sigla em inglês) referente ao mês de agosto, principalmente o núcleo que subiu 0,6% contra a expectativa de 0,3%. Na comparação mensal, o mercado esperava deflação de 0,1% e veio inflação de 0,1%.

A inflação é o temor constante do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) e o dado mostra que a autoridade monetária deve ser mais agressiva na reunião da semana que vem [20 e 21] elevando os juros a 0,75 ponto porcentual (pp) e com a atenção para a de novembro.

O dado de hoje estranhou a festa do Ibovespa que poderia ter subido mais de 1% com a alta das commodities e os dados do setor de serviços em ascensão.

O principal índice da B3 caiu 2,30%, aos 110.793,96 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 2,41%, aos 111.870 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas despencaram.

Flavio Conde, head de renda variável da Levante Ideias Investimentos, disse que o mercado se assustou com o núcleo do CPI e teve um erro na expectativa de juros para 2023 que devia ser maior que 4,25% para 5,0%. “A gente está caindo por conta dos Estados Unidos, mas menos porque começamos a subir juros antes e lá demoraram muito para reagir. Em outras épocas cairíamos mais”.

E acrescentou que “a gente está melhor no relativo que os emergentes e enquanto o petróleo e o minério estiverem em um preço bom, a gente continua sendo o destino número 1 do investidor estrangeiro”.

Luiz Souza, operador de renda variável da SVN, comentou a Bolsa reagiu mal após o resultado de inflação nos Estados Unidos devido às projeções erradas do mercado.

“Com as quedas recentes no preço do petróleo, o mercado estimava uma deflação e uma diminuição do core [núcleo] e, como não aconteceu na forma como se previa, frustrou o mercado e agora tem de corrigir todas as projeções e precificar juros mais altos”.

A partir do dado que saiu hoje, segundo Souza, para a reunião do Fed na semana que vem [20 e 21] a chance de ter um aumento de juros em 0,75 ponto porcentual é de 75% e uma elevação de 1 ponto porcentual (pp) é de 25%.

“Acredito em 0,75 pp que já está dado e o ponto importante é olhar para frente; o contrato de dezembro está subindo muito forte, já ultrapassou a marca de 0,50pp e está precificando 0,75pp”.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que o número azedou o mercado. “Esperávamos queda de 0,1% e veio alta de 0,1% no mensal e até no núcleo veio o dobro que estávamos esperando-subiu 0,6% na comparação mensal e era esperado 0,3%. Agora é olhar para onde vão as apostas, se o 0,75 pp [alta de juros] se mantém ou se aposta vai ser uma alta mais forte”

Farto acrescentou que “apesar de não acreditar em uma elevação maior pelo menos na reunião [do banco central norte-americano] da semana que vem [20 e 21], até porque passaria uma mensagem de preocupação do Fede poderia contaminar mais o mercado, então para não correr risco de perder a mão, o banco central dos EUA deve seguir na linha dos 0,75pp ainda, mas vamos observar as falas dos integrantes do Fed no decorrer da semana e indicadores”.

Segundo um analista que não quis se identificar, os números vieram piores e “acabaram machucando o mercado. Para a reunião de setembro já está dado 0,75 ponto percentual (pp), agora vamos ver os próximos encontros”. O dólar comercial fechou em alta de 1,80%, cotado a R$ 5,1890. A moeda norte-americana ganhou muita força após a divulgação da inflação norte-americana de agosto ante julho ter ficado em +0,1%, acima das projeções de -0,1%, e acendido o alerta para uma provável postura mais dura do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

O economista da Guide Investimentos, Rafael Pacheco, observa que o núcleo da inflação que exclui alimentos e energia – “foi bem ruim”, sendo o dobro do resultado esperado (0,6% ante 0,3%), o que mostra uma inflação bem disseminada: “Naturalmente teremos um Fed mais duro”, opina Pacheco.

De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o mercado está caindo na real, e o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) surpreendeu para cima. Não fazia o mínimo sentido achar que o Fed podia cortar os juros já no primeiro semestre de 2022. Foi um choque de realidade tanto lá fora quanto lá dentro”.

Leal acredita que até a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) e Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorrem na próxima quarta, o câmbio e o mercado devem apresentar volatilidade, e aproveitar para corrigir alguns exageros dos últimos dias.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “no raio-x da inflação, a gasolina teve queda de 10,60%, no comparativo entre agosto e julho, mas não foi suficiente para causar deflação. Alimentação no domicílio, conta de gás e energia elétrica e, principalmente, serviços continuam altos”.

Abdelmalack explica que o resultado não foi um banho de água fria, mas desanimador, e que um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) na reunião do Fomc já é consensual: “A leitura da inflação de serviços, que teve alta de 6,1% no acumulado de 12 meses, mostra que o cenário será desafiador para o Fed”, analisa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, reflexo imediato da alta de 0,1% do índice de preços ao consumidor em agosto, nos Estados Unidos, acima das projeções do mercado de -0,1%. Os resultados ligam o alerta para um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais hawkish (duro, propenso ao aumento dos juros) com o objetivo de controlar a inflação.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,760% de 13,740% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,145%, de 12,995%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,905%, de 11,725% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,550% de 11,320%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em forte queda, com o Nasdaq caindo mais de 5%, após a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) para agosto vir acima das previsões dos analistas, encerrando um ciclo de otimismo em Wall Street que aguardava uma desaceleração do aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -3,94%, 31.104,97 pontos
Nasdaq 100: -5,16%, 11.633,6 pontos
S&P 500: -4,32%, 3.932,69 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA