Fluxo estrangeiro na Bolsa brasileira segue forte apesar da preocupação fiscal, diz XP

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Foto: Pexels

São Paulo – A XP avalia que apesar da preocupação fiscal que impacta os ativos brasileiros, o fluxo de investidores estrangeiros segue forte na Bolsa brasileira.

“Em nossa visão, é possível que esse fluxo siga forte em 2023 em meio a um cenário macro global ainda bastante desafiador. Além disso, o Brasil continua com um desempenho superior relativo aos mercados globais em grande parte por conta dos níveis de valuation ainda bastante atrativos, e exposição a setores commodities que são mais protegidos de inflação”, diz a estrategista de ações da XP, Jennie Li.

No entanto, a XP tem visão cautelosa para ações brasileiras em 2023 devido aos riscos globais e domésticos, citando o discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que reforçou diretrizes econômicas anunciadas durante a campanha eleitoral, como a remoção do teto constitucional de gastos, o aumento do investimento público e o papel fundamental das empresas públicas.

Ela cita que o ano de 2022 foi de bastante volatilidade nos mercados globais e que o Brasil surpreendeu se descolando do exterior como uma das melhores bolsas do mundo. O Ibovespa terminou o ano com ganhos de 4,7% em reais, e 10,1% em dólares, bem acima dos mercados globais, que caíram 20% em 2022.

Em outro relatório sobre estratégia de investimentos, o Bank of America (BofA) também ressalta o desempenho superior do Brasil em 2022, com o fim do ano e início de 2023 em baixa. “As ações do índice Ibovespa (ex-commodities) agora são negociadas com 23% de desconto em relação aos valores históricos, mas os riscos de ganho por ação (EPS, na sigla em inglês) de 2023 estão aumentando. As estimativas de EPS para 2023 caíram de +55% em janeiro de 2022 para +26% em dezembro do ano passado”, escrevem os analistas David Beker e Paula Andrea Soto, do BofA.

A análise destaca que o mercado de ativos brasileiro e de fundos hedge registraram saídas de R$ 76 bilhões e R$ 108 bilhões, respectivamente, em 2022.

Entre os destaques de alta do Brasil em 2022, segundo o BofA, estão as alta da Selic (+12%), títulos brasileiros de 10 anos (+12%), do real (+5%) e do Ibovespa (+5%). SPX e Mexbol, que tiveram melhor desempenho em 2021, caíram respectivamente -19% e -9% em 2022.

Segundo os analistas do BofA, as ações de valor e dividendos foram as melhores escolhas em 2022. Na América Latina, as ações marcadas como valor e dividendos tiveram o melhor desempenho em 2022 (+12% e +8%, respectivamente). Por outro lado, as ações de crescimento (principalmente varejo e e-commerce) tiveram o pior desempenho (-13%).

As entradas de investidores estrangeiros em 2022 resultaram em saldo positivo de R$ 101 bilhões no caixa da B3 em 2022. Os estrangeiros foram compradores líquidos em ações de caixa da B3 em dezembro, com entradas de R$ 14 bilhões.

Já os fundos de ações locais do Brasil tiveram saídas de R$ 76 bilhões em 2022 (contra entradas de R$ 20 bilhões em 2021).

As saídas de fundos de hedge locais totalizaram R$ 108 bilhões em 2022, com desaceleração do ritmo no último trimestre de 2022. Segundo o BofA, desde set-21, houve saídas a um ritmo de -R$ 2,5 bilhões/semana.

Os fundos de ações de mercados emergentes globais (GEM) tiveram entradas em 13 das últimas 16 semanas, sendo US$ 1,4 bilhão na semana passada e de US$ 69,4 bilhões em 2022.

Por fim, o relatório ressalta a volta da renda fixa, com a perda de ativos sob gestão (AUM) em equity e hedge funds no Brasil. O patrimônio local perdeu 16% de seu AUM e os fundos de hedge locais perderam 9% do AUM. Enquanto a rotação para renda fixa foi acelerada em 2022, novas contas individuais foram criadas em um ritmo mais lento no ano passado.