Fluxo estrangeiro chama atenção em relação ao local; retorno do Congresso pode aumentar volatilidade

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Foto: Tracy Olson / freeimages.com

São Paulo – Nos últimos dias tem chamado atenção o forte fluxo comprador de investidores estrangeiros, aponta a Guide Investimentos, que espera que este ano pode ser similar à 2019, com maior volatilidade após o retorno do Congresso.

“Até agora, os investidores locais parecem ter sido mais abalados pelos discursos do presidente e de seus ministros, enquanto investidores estrangeiros parecem acreditar que o atual governo será parecido com o primeiro mandato do presidente Lula, independente de seus discursos”, diz a Guide, em análise a clientes, assinado por Rodrigo Fraga, Gabriel Gracia e Mateus Haag.

Segundo a B3, os estrangeiros aportaram quase R$ 10 bilhões no mercado secundário (ações já listadas) no acumulado do ano até 26 de janeiro, enquanto o investidor pessoa física retirou pouco menos de R$ 2 bilhões líquidos no mesmo período. O investidor institucional retirou pouco mais de R$ 7 bilhões.

Até agora, 2023 lembra um pouco o que aconteceu em 2019, outro ano pós-eleições. O Ibovespa vem subindo e o fluxo estrangeiro é recorrentemente positivo. Em 2019, o bom humor dos mercados com o novo governo foi abalado somente a partir de fevereiro, quando o congresso foi empossado, comenta a Guide.

Com a posse do congresso, além dos discursos, os analistas acreditam que medidas passarão a ser efetivamente apresentadas e posteriormente votadas no congresso.

AÇÕES BARATAS

“Acreditamos que o fluxo se deve ao valuation baixo das ações no Brasil além do maior crescimento econômico (menor risco de recessão) e chances de redução de juros ainda em 2023”, comentam os analistas da Guide.

Por outro lado, a situação dos mercados desenvolvidos (como EUA, Zona do Euro, Inglaterra) é bem diferente. Os EUA devem aumentar os juros pelo menos mais uma vez, as perspectivas de crescimento econômico são ruins e o valuation dos mercados é ainda muito próximo da média.

A análise aponta que outro ponto que chama atenção no Brasil é que os lucros das empresas vêm crescendo, favorecidos pela alta das commodities. “No Brasil, o lucro das empresas tem resistido bem à desaceleração econômica. Além disso, com a recente valorização do preço das commodities, é provável que as projeções de lucro continuem em alta nos próximos meses”, diz a Guide, citando que a perda com operações de crédito com a Americanas é um risco para a materialização deste cenário positivo.

Por outro lado, no exterior as projeções de lucro vêm tendo desempenho bem mais modesto, principalmente nos EUA.

Mesmo com o conflito entre Rússia e Ucrânia, as projeções de resultados do Stoxx50 seguem melhores que as do S&P500. As projeções de lucro do FTSE do Reino Unido também vem crescendo, impulsionadas pelas produtoras de commodities (o FTSE possui mais commodities em sua composição que o S&P e Stoxx).

Ao mesmo tempo que o fluxo estrangeiro tem sido positivo, o fluxo local tem sido bastante negativo. Após um início de 2022 difícil para o mercado de ações, os fundos de ações e fundos multimercado tiveram muitos resgates, enquanto fundos de renda fixa tiveram captação.

Contudo, esta situação parece ter sido revertida próximos às eleições em 2022 e o ano terminou com resgates tanto em ações e multimercados como em fundos de renda fixa (e na poupança).

Historicamente, momentos de juros altos geram captação nos fundos de renda fixa, mas isto não aconteceu em 2022, explica a corretora. “A situação parece estar associada ao risco eleitoral uma vez que os resgates aumentaram no final de 2022: os resgates nos fundos de renda fixa em dez/22 foi o maior da história segundo dados da Anbima.”