Eu não descartaria elevar taxas em reuniões consecutivas, diz Powell

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que ainda há possibilidade do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevar as taxas básicas de juros em reuniões consecutivas.

De acordo com ele, ainda há um longo caminho para conter a inflação já que a política restritiva não teve “tempo suficiente para fazer efeito”. Powell afirmou que não espera uma leitura do núcleo da inflação (que exclui alimentos e combustível) a 2% nem nesse, nem no próximo ano.

“Eu não descartaria a possibilidade de aumentos consecutivos nas taxas de juros”, disse o presidente do Fed durante painel sobre política monetária realizado pelo Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal.

Powell estava acompanhado da presidente do BCE, Christine Lagarde, do seu homólgo do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, e de Kazuo Ueda, presidente do Banco do Japão (BoJ).

Ele afirmou que mais aumentos nas taxas ainda devem acontecer, explicando que a atual política monetária restritiva deve ter mais tempo para agir e mostrar efeito. “O mercado tem mudado de opinião muitas vezes, mas nossas previsões esperam que a inflação se manterá persistente por algum tempo”, disse.

Em sua reunião de política monetária neste mês, as autoridades do Fed deixaram a taxa de básica de juros em uma faixa entre 5% e 5,25%, depois de aumentá-la rapidamente em 10 reuniões consecutivas.

Outro aumento na reunião do Fed de 25 a 26 de julho levaria a taxa básica de juros a seu ponto mais elevado em 22 anos. A maioria das autoridades projeta mais dois aumentos este ano.

PAUSA

Questionado sobre a decisão de manter a taxa e não elevá-la mais uma vez neste mês, Powell explicou que a ideia é diminuir o ritmo das altas à medida que chegam perto do faixa final ideal.

“Estamos chegando perto do equilíbrio entre os riscos de aumentar de mais ou aumentar de menos, mas ainda os riscos pendem mais para o de menos”, explicou Powell. “A pausa é para avaliarmos melhor os dados”.

ECONOMIA RESILIENTE

De acordo com o presidente do Fed, a economia norte-americana tem sido resiliente, principalmente o mercado de trabalho. “Ainda não vemos uma redução significativa na inflação dos serviços não imobiliários, que é uma área diretamente relacionada a empregos e salários”, disse ele.

Segundo Powell, uma redução nos aumentos remunerários e no número de vagas vem sido visto, mas nada extremamente significativo. “Acredito na possibilidade de trazermos estabilidade de preços sem perdas de empregos, apenas um equilíbrio saudável entre a oferta e a demanda de mão de obra”, afirmou.

Ele ressaltou que há chances grandes de uma crise, mas não acha ela provável. “Estou falando de uma recessão, não de um hard landing”, esclareceu, se referindo ao termo usado para designar uma queda inflacionária com redução de crescimento econômico e aumento do desemprego.

ESTRESSE BANCÁRIO

“Parte da decisão da última reunião também se deve ao estresse bancário sentido desde março. Ainda não temos uma ideia clara da extensão do efeito desse acontecimento”, explicou Powell, citando a falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, dois bancos regionais importantes que despertaram um breve pânico na época de sua derrocada.

O presidente do Fed ressaltou que, no momento, o sistema bancário norte-americano está resiliente e seguro, com bancos tendo quase o dobro de sua taxa de liquidez após os eventos recentes. “Vamos fortalecer a regularização de bancos regionais”, acrescentou.

INFLAÇÃO ANTES E DEPOIS

Powell também falou sobre os auxílios fiscais oferecidos pelo governo dos Estados Unidos durante a pandemia. “Muitos desses estímulos foram para a área de construção, algo que não vemos afetando muito a inflação atual. A poupança acumulada pelas pessoas de menor renda também quase toda já se foi”, explicou.

Por fim, Powell disse não prever o núcleo da inflação do país chegando a 2% nem mesmo no próximo ano. “Mas isso não siginfica que não mudaremos nossa estratégia até lá. Se vermos os preços em um caminho concreto em direção a esse objetivo, poderemos considerar uma pausa ou até mesmo um relaxamento das taxas, mas ainda estamos longe”, concluiu.