Economia mais fraca pode ser gatilho para piora do crédito, diz análise da Ativa

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Imagem: Shutterstock

São Paulo – A Ativa Investimentos avalia que a perspectiva de desaceleração econômica no segundo semestre pode ser o gatilho para que o mercado de crédito piore de maneira categórica, principalmente à pessoa física. O comentário foi feito em análise especial sobre crédito, após a divulgação de dados pelo Banco Central, em que destacou sinais de piora, mas ainda não “alarmante”.

“Em suma, a nota de crédito ainda não trouxe um desastre, mas a perspectiva não parece boa, com os indicadores dando sinais de que a situação pode ser agravar muito em breve”, escreveram os analistas da Ativa, em relatório assinado pelos economista Étore Sanchez e Guilherme Sousa e pelo analista André Coelho.

Segundo a análise, o saldo de crédito avançou com efeito de uma redução da mortalidade maior do que a expansão da concessão. Os dados da autoridade monetária mostraram que o juro da concessão mostrou forte expansão na margem, mas pelo menos o prazo não se dilatou e a inadimplência permaneceu baixa.

De acordo com o BC, a inadimplência (considerados atrasos acima de 90 dias) tem mantido-se estável há bastante tempo, com pequenas oscilações, e está em 2,7%. Nas operações de crédito para pessoas físicas, está em 3,5% e para pessoas jurídicas em 1,4%.

O endividamento das famílias, relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses, chegou ao recorde de 52,8% em maio, na série histórica iniciada em janeiro de 2005, refletindo o aumento das concessões de empréstimos. Com a exclusão do financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, ficou em 33,5% no mês.

“O nível de endividamento das famílias segue gerando preocupações, visto que com o encarecimento da dívida e a restrição da política monetária, o crédito parece uma bomba preste a estourar a toda divulgação”, comentaram.

A concessão de crédito geral seguiu avançando em termos absolutos, alcançando R$ 549 bilhões no mês de junho. Contudo, em proporção do saldo, a concessão geral segue oscilando ao redor de 11% desde março.

O avanço das concessões pode ser atribuído em grande parte ao crédito direcionado à pessoa física, sazonalmente explicado pela modalidade rural. A relação entre concessão e mortalidade subiu fortemente no mês de junho, atingindo 116%, aponta a análise.

O juro de concessões mostrou avanço, de 27,6% em maio para 28,1% em junho puxado pelo crédito livre à pessoa física (de 50,4% para 51,5%), patamar observado pela última vez em junho de 2019.

As famílias e as empresas pagaram taxas de juros mais altas em junho deste ano, segundo o BC. A taxa média de juros para pessoas físicas no crédito livre chegou a 51,5% ao ano, com aumento de 1,1 ponto percentual em relação a maio e de 11,7 pontos percentuais em 12 meses. Nas contratações com empresas, a taxa livre cresceu 0,7 ponto percentual no mês e 8,1 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 22,6% ao ano.

“Vale pontuar que o spread não tem subido proporcionalmente ao avanço da taxa de captação (referência Selic), o que, em outras palavras, quer dizer que muito em breve poderemos assistir um repasse mais do que proporcional aos consumidores, principalmente se levarmos em conta o elevado nível de endividamento”, comenta a corretora, em relatório.

A análise prevê que o o spread sobre Selic do juro de concessão livre à PF está prestes a subir, ainda freado pela inadimplência.

Com informações da Agência Brasil.