Defasagem da gasolina e diesel ante PPI está em 17% e 8% nas refinarias da Petrobras, diz Abicom

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Bomba de gasolina // Crédito: engin akyurt/Unsplash

São Paulo – O acompanhamento diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) divulgado hoje mostrou que os preços do litro da gasolina e do diesel nas principais refinarias do País continuam com defasagens de 14% e 7%, respectivamente, em relação ao preço de paridade internacional (PPI). As variações de hoje representam preços por litro mais baratos nos principais polos, de R$ 0,48 na gasolina e R$ 0,26 no diesel em relação ao preço no exterior. Ontem (23), as mesmas variações correspondiam a uma diferença de -R$ 0,46 na gasolina e -R$ 0,27 no diesel.

Ainda conforme a medição de hoje da Abicom, os preços praticados nos polos operados pela Petrobras também estavam menores que o internacional em 17% (-R$ 0,57) na gasolina e 8% (-R$ 0,32) no diesel, em média. A variação do diesel apurada pela entidade nesses polos na terça-feira era de 9% (-R$ 0,33), enquanto a defasagem da gasolina era de 17% (-R$ 0,56).

O parâmetro usado para a comercialização desses combustíveis pelos importadores brasileiros é preço praticado no Golfo do México. A Abicom calcula o PPI usando como referência os valores para gasolina, óleo diesel, câmbio, RVO e frete marítimo nas cotações, considerando os fechamentos do mercado do pregão anterior ao dia da apuração.

“Com a estabilidade no câmbio e nos preços de referência do óleo diesel e da gasolina no mercado internacional no fechamento do dia útil anterior, o cenário médio de preços está abaixo da paridade para o óleo diesel e na paridade para gasolina”, comenta a Abicom, no relatório do PPI desta quarta-feira.

A taxa de câmbio Ptax, calculada diariamente pelo Banco Central, fechou na sessão de 23 de abril operando em patamar elevado (no fechamento, em R$ 5,16) e pressionando os preços domésticos dos produtos importados. A oferta apertada do petróleo segue pressionando os preços futuros da commodity, acrescentou a associação, que apontava que os futuros do Brent eram negociados acima dos US$ 88/bbl.

A medição de hoje ocorreu 120 dias após a vigência da redução linear média de R$ 0,30 por litro no diesel S10, em 27 de dezembro de 2023, e 187 dias após da validade da redução de R$ 0,12 por litro na gasolina, pela Petrobras, em 21 de outubro de 2023. Com isso, o PPI acumula aumento de R$0,06 por litro no diesel e R$ 0,30/l na gasolina desde os últimos reajustes nos preços da Petrobras.

A análise também considerou os aumentos dos preços do diesel A em R$ 0,1859 por litro, e da gasolina A em R$ 0,1594/l, pela Acelen, no Polo Aratu (BA), na última quarta (17). Os preços médios dos dois combustíveis, exceto em Aratu, operam abaixo da paridade nos demias polos analisados.

Goldman Sachs analisa impacto de possível congelamento de preços de combustíveis com alta do Brent

À luz do recente aumento de 13% nos preços do petróleo Brent em 2024, o Goldman Sachs analisa o impacto nas finanças da Petrobras a partir de um cenário ilustrativo em que a companhia não ajusta os preços do diesel e da gasolina à subida dos combustíveis no exterior

Em suma, eles calculam que, num cenário de preços congelados do diesel e da gasolina, cada aumento de US$ 10 por barril nos preços do Brent poderia levar a um aumento de cerca de US$ 3 bilhões no ebitda e de aproximadamente US$ 2 bilhões de dólares para o fluxo de caixa livre consolidado (FCF ou um aumento de US$ 1,4 bilhão para o FCF, se a Petrobras importasse combustíveis com prejuízo neste cenário).

Eles pontuam que, embora este não seja o caso base da análise, dada a governança em vigor, os efeitos de um potencial congelamento dos preços dos combustíveis tem sido uma questão frequente dos investidores.

“Mantemos nossa conclusão de que os preços mais elevados do petróleo são um resultado líquido positivo para a empresa, tanto do ponto de vista do ebitda quanto do FCF, mesmo que a Petrobras congele os preços dos combustíveis no mercado interno. O efeito das margens mais baixas de downstream num cenário sem repasses para o diesel e a gasolina deverá ser mais do que compensado por resultados mais fortes com as exportações de petróleo e a venda de outros produtos downstream (por exemplo, combustível de aviação e bunker)”, escrevem os analistas do banco.

Além disso, eles notam que, embora os preços do petróleo Brent tenham subido 13% no acumulado do ano, os preços do diesel na Costa do Golfo subiram apenas 5% no acumulado do ano, uma vez que os cracks spreads mais fracos compensaram parcialmente o impacto dos preços mais elevados do petróleo.

No caso de a Petrobras não repassar a elevação dos preços do diesel e da gasolina no futuro, os analistas do Goldman Sachs concluem que para o upstream, cada aumento de US$ 10 por barril nos preços do petróleo Brent implica em um aumento de US$ 1,7 bilhão no ebitda do segmento e de US$ 5 bilhões para o fluxo de caixa livre consolidado.

Por outro lado, para o segmento downstream (refino), cada aumento de US$ 10 por barril no petróleo Brent (sem ajuste correspondente nos preços do diesel e da gasolina) implica em uma redução de US$ 6 por barril nas margens downstream, ou para uma perda de US$ 4 bilhões no ebitda do segmento e de US$ 3 bilhões no fluxo de caixa consolidado. “Calculamos que cada aumento de US$ 10 por barril nos preços do Brent poderia levar a um aumento de US$ 3 bilhões no ebitda e a um ganho de US$ 2 bilhões para o FCF (2 pp de contribuição adicional para o rendimento de FCF).”

Se a Petrobras assumisse hipoteticamente todas as importações de gasolina e diesel para cada desconto de US$ 10 por barril em relação aos preços internacionais, o ebita da companhiaseria impactado negativamente em aproximadamente US$ 900 milhões, o que se traduziria em um impacto de aproximadamente US$ 6 milhões no FCF.

“Em suma, se contabilizarmos os cenários mencionados, o impacto do aumento de US$ 10 por barril nos preços do Brent, assumindo que os preços do diesel e da gasolina congelados, ainda poderia ser positivos em US$ 1,4 bilhão por ano para a Petrobras”, concluem.

O Goldman Sachs tem classificação de compra na Petrobras com preços-alvo baseados em um múltiplo de 2,9 vezes o EV/ebitda de 12 meses, com preços-alvo para PETR3, PETR4 de R$ 49,40 e R$ 44,90 e US$ 19,30 e US$ 17,50 para as ADRs, citando que os principais riscos para a tese de investimento incluem preços do Brent abaixo do esperado, valorização do Real e produção abaixo do esperado.