Crise política e PIB chinês fraco fazem Bolsa encerrar em queda; dólar cai e vai a R$ 4,12

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,27%, aos 104.728,89 pontos, após dados mais fracos do PIB chinês e em meio à crise no partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL. Analistas também têm afirmado que investidores perderam um pouco de ímpeto depois de seis altas seguidas do índice, interrompidas ontem, e seguem aguardando novidades mais relevantes. Dessa forma, o Ibovespa ainda acumulou alta de 0,86% na semana. O volume total negociado hoje foi de R$ 16,7 bilhões.

“O PSL colocou um pouco ‘de água no chopp’, mas se o mercado estivesse muito preocupado o Ibovespa mostraria uma correção maior. Acho que depois de seis dias de alta, é um movimento normal essa perda de apetite”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.

Na cena local, a disputa dentro do PSL segue no foco e traz alguns ruídos, já que Bolsonaro falhou na tentativa de tirar o deputado federal Delegado Waldir da liderança da Câmara, que ameaçou “implodir” o presidente. Bolsonaro ainda retirou a deputada Joice Hasselmann da liderança do governo. Hoje, ainda foram divulgadas notícias de que o PSL decidiu suspender cinco deputados das atividades partidárias.

Apesar de não ter tido grande impacto no mercado ainda, a crise no partido deve ficar no radar, principalmente se começar a desgastar Bolsonaro e começar a trazer preocupações sobre prazos para aprovação de reformas.

Já no exterior, os principais mercados acionários fecharam em queda depois que PIB chinês mostrou crescimento de 6,0% em base anual, abaixo da projeção de alta de 6,1% e registrando a menor alta em 27 anos.

Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram as ações da Gerdau Metalúrgica (GOAU4 -2,38%), do Bradespar (BRAP4 -2,01%) e da Cemig (CMIG4 -1,94%).

Já entre as maiores altas ficaram as ações da Eletrobras (ELET3 5,03%; ELET6 3,57%) e do Banco do Brasil (BBAS3 2,56%). O projeto de lei para viabilizar a capitalização da Eletrobras será encaminhado ao Congresso Nacional no início de novembro, disse hoje o ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque. Já o Banco do Brasil precificou sua oferta secundária de ações (follow on), a R$ 44,05 por ação, movimentando R$ 5,8 bilhões.

Na semana que vem, as atenções dos investidores devem se voltar para a votação da reforma da Previdência no segundo turno no Senado, prevista para o dia 22 de outubro, além de ser o início da temporada de balanços. “Já vamos ter balanços de grandes empresas, como da Petrobras, Ambev, e isso pode mexer com o Ibovespa”, disse o analista. A segunda-feira ainda é dia de vencimento de opções sobre ações, o que ainda pode trazer alguma volatilidade.

O dólar comercial encerrou em queda de 1,24% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1200 para venda – no maior recuo percentual desde 4 de setembro quando caiu 1,79% (R$ 4,1090) – acompanhando o enfraquecimento generalizado da moeda digerindo fatores externos e internos, como correção e fluxo.

“Lá fora, apesar do resultado misto dos indicadores da China e incertezas sobre a aprovação do Brexit [acordo de saída do Reino Unido da União Europeia], a moeda americana achou um espaço para expressivas realizações”, comenta o analista da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Ele acrescenta que, aqui, o forte fluxo de recursos estrangeiros para o País, vindo em razão da oferta subsequente de ações do Banco do Brasil, com volume estimado em cerca de R$ 5,8 bilhões, “deram amparo” doméstico para a consolidação da queda, ressalta.

Na semana, porém, a moeda se valorizou em 0,61%, tendo um dos piores desempenhos da semana, devolvendo praticamente todos os ganhos acumulados no mês, destaca a equipe econômica do Rabobank. “Parece claro que fatores idiossincráticos têm afetado desigualmente os ativos de mercados emergentes, fazendo com que a moeda brasileira fique trás de seus pares em vários períodos”, diz.

Os analistas do banco acrescentam que investidores estão “exigindo mais prêmios” para permanecer investidos em ativos de alto risco, já que o real é a moeda mais volátil em relação a maioria de seus pares emergentes.

“Mas quando se trata de fundamentos, a amplitude do movimento recente parece um pouco exagerada, já que o Brasil tem contas externas em níveis confortáveis, muitas reservas cambiais, expectativas de inflação ancoradas e espaço para flexibilização monetária”, reforça o Rabobank.

Na próxima semana, o grande evento é a votação da reforma da Previdência em segundo turno no Senado finalizando um longo processo e desgastado processo. “Por mais que esteja confirmado para terça-feira, não deixa de ter uma cautela e apreensão. A expectativa é a aprovação atrair uma entrada forte de recursos estrangeiros”, aposta o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer.

O analista da Toro Investimentos, Thiago Tavares, destaca que o mercado pode abrir na segunda-feira reagindo à decisão do Parlamento britânico que vota amanhã a proposta apresentada nesta semana do acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. Além de acompanhar o noticiário político local em meio à crise no PSL, que desgasta a relação do presidente Jair Bolsonaro com aliados do partido.