Corte de exportações de combustíveis pela Rússia deve pressionar Petrobras a aumentar preços

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Foto: Shutterstock

São Paulo – A pressão para que a Petrobras eleve o preço do diesel cresce após o anúncio do governo russo de que irá limitar, de forma temporária, exportações de gasolina e diesel para evitar escassez no mercado interno. O Ministério da Energia russo disse separadamente que elas impediriam as exportações não autorizadas de combustíveis para motores. A decisão foi tomada em meio ao recorde do preço da gasolina no país europeu.

A Rússia é o principal exportador de diesel para o Brasil. Em agosto, o combustível representou 75% de todos os importados pelo Brasil.

Ontem, estava na agenda do presidente Lula uma reunião com o presidente da Petrobras. Especula-se que a pauta era para tratar do assunto. Em resposta a pedido da Agência CMA, a Petrobras informou que houve a reunião, mas a pauta não foi divulgada.

Em agosto, a petrolífera atingiu recorde na produção de combustíveis, sendo 3,78 bilhões só de diesel, a maior do ano. Mesmo assim, não é suficiente para atender toda a demanda interna.

Em comunicado, a Petrobras disse que “o mercado brasileiro de diesel em 2023 tem apresentado crescimento quando comparado ao ano anterior. Este crescimento da demanda nacional vem sendo atendido tanto pela Petrobras quanto pelos demais produtores e importadores diretos de diesel que atuam no mercado brasileiro. Conforme monitorado e relatado na imprensa especializada, o diesel de origem russa tem sido uma das fontes de produto importado para o Brasil.”

A empresa também não tem importado diesel da Rússia. Em relação aos preços das distribuidoras, esclarece que “a sua estratégia comercial tem como premissa a prática de preços competitivos, se valendo de suas melhores condições de produção e logística, ao mesmo tempo que evita o repasse da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.”

De acordo com o rastreador de preços vs Preços de Paridade de Importação da Genial Investimentos, o preço médio por litro praticado pelas refinarias da Petrobras foi de R$3,35 e R$3,95 para gasolina e diesel, respectivamente. “De acordo com as nossas estimativas para o preço em linha com a paridade de preços internacional, a gasolina e o diesel deveriam custar pelo menos R$3,27 por litro e R$4,49 por litro, respectivamente. Em nossa conclusão, os preços praticados nas refinarias da Petrobras estão com deságio de -13,6% no diesel e ágio de 2,3% na gasolina versus a paridade de preços do mercado internacional (vs -13,6% e -5,5% na semana passada para diesel e gasolina, respectivamente)”, comentam.

A gasolina apresentou ágio em função do aumento do preço praticado pela Petrobras, concomitante com a diminuição dos preços nos polos internacionais do combustível e, parcialmente atenuado pelo aumento do dólar na semana (1,4%). O diesel permaneceu praticamente inalterado dentro da semana.

Em relação aos preços da semana passada, os combustíveis estavam em R$3,19 e R$3,95 por litro para gasolina e diesel, respectivamente, segundo a Genial.

Em análise sobre a possibilidade de a Petrobras subir o preço de combustíveis após ‘fator Rússia’, a Suno destaca que, neste ano, a Rússia se tornou o principal fornecedor estrangeiro de diesel para o Brasil, mas que apesar disso, a Petrobras não importa diesel russo ainda que possa ser afetada por uma reação em cadeia.

Analistas do Goldman Sachs destacaram que a estatal pode ter que subir preços para impedir um eventual desabastecimento. “Com a oferta limitada da Rússia, o desconto da Petrobras para a oferta alternativa aumentaria, aumentando assim a probabilidade de um ajuste de preços para cima”, diz o relatório do banco estrangeiro.

“É muito difícil saber quando esse preço chega na bomba. Primeiro pela lógica do setor, em que as distribuidoras e a Petrobras têm estoque e estão livres para praticar preços. Depois, porque o anúncio é incompleto à medida em que não esclarece como o corte vai acontecer. Quem compra diesel, não compra igual a uma Coca-cola”, acrescenta.