Correção e animação externa melhoram mercados no último pregão do mês

629

São Paulo – Após dois pregões de fortes perdas, o Ibovespa buscou uma correção e encerrou em alta de 1,09%, aos 94.603,38 pontos, refletindo a expectativa por um acordo sobre um novo pacote de ajuda fiscal nos Estados Unidos e indicadores norte-americanos positivos. Os papéis de siderúrgicas também ampararam o índice, em meio a recomendações positivas e à alta do minério de ferro.

No entanto, investidores seguem preocupados com a situação fiscal doméstica e olharam com ceticismo as últimas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, depois da manobra fiscal que o governo propôs fazer para financiar o programa Renda Cidadã nesta semana. Neste contexto, o Ibovespa fechou outubro com queda de 4,80% – no segundo mês seguido de perdas – e o terceiro trimestre com perdas de 0,48%.

“Sempre que ocorre uma queda forte há um ajuste, alguns investidores acham que já caiu demais, e lá fora as coisas estão um pouco melhores com o pacote de mais de US$ 2 trilhões podendo sair nos Estados Unidos, apesar do debate presidencial ter sido desastroso”, disse o sócio e head de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini.

Nos Estados Unidos, as Bolsas também fecharam em alta. As negociações entre republicanos e democratas sobre o novo pacote de auxílio econômico parecem ter avançado hoje, minimizando o impacto negativo do primeiro debate entre o presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden, que foi considerado caótico. Além disso, dados mostraram uma criação de vagas acima do esperado pelo mercado no setor privado.

Já no Brasil, a situação fiscal segue sendo monitorada com desconfiança, assim como o noticiário em torno do Renda Cidadã, que deve ser custeado com recursos de precatório e do Fundeb. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse há pouco que há uma indústria de precatórios no Brasil, mas indicou discordar da proposta de financiar o programa com esses recursos, pois sabe que são dívidas “líquidas e certas”.

“Parece que o governo está acordando de que a proposta que fez não é aceitável, que vão ter que mudar a narrativa. Não faz sentido usar recursos de precatórios, é mais dívida que se joga para frente, mas não dá para confiar. O mercado está cético”, disse ainda Franchini. Para ele, o risco fiscal e o atraso da agenda de reformas, somado às eleições presidenciais norte-americanas, ainda podem trazer muita volatilidade em outubro e novas correções para baixo do Ibovespa.

O sócio da DNAinvest, Leonardo Ramos, também acredita que a proposta do governo sobre o Renda Cidadã é mais um sinal em direção ao aumento de gastos e de que a comunicação do governo não está funcionando bem, com o cenário à frente podendo piorar se não houve mudanças de postura. “Mesmo que ele volte atrás, o mercado vai ficar com um pé atrás e a comunicação está muito ruim. A agenda de reforma e privatizações também está ficando de lado”, disse.

Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa foram de siderúrgicas como a da CSN (CSNA3 7,70%), que refletiram a alta dos preços do minério de ferro e a notícia de que o Credit Suisse elevou a recomendação da CSN para compra. Os papéis da Qualicorp (QUAL3 5,16%) e da Raia Drogasil (RADL3 6,79%) também ficaram entre as maiores altas depois que a rede de drogarias anunciou que projeta a abertura de 240 lojas em 2021 e mais outras 240 em 2022.

Amanhã, investidores devem continuar atentos a discussões fiscais tanto nos Estados Unidos Unidos quanto no Brasil, além de acompanhar uma agenda de indicadores relevante principalmente no território norte-americano, com dados como os pedidos de seguro-desemprego, renda e gastos pessoais e o índice de atividade industrial.

O dólar comercial fechou em queda de 0,42% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6180 para venda, em sessão de forte volatilidade no mercado doméstico no último pregão de setembro e do terceiro trimestre em meio à formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês. Enquanto no exterior, as moedas de países emergentes se valorizaram ante o dólar, o que influenciou a moeda local no fim dos negócios.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que a moeda operou em “dois momentos bem distintos” ao longo da sessão. “Na primeira parte dos negócios, quem comandou o jogo foi a tradicional briga pela taxa Ptax. Os comprados foram claramente vencedores e conseguiram registrar taxa na casa dos R$ 5,64, mesmo com o dólar bastante desvalorizado lá fora”, comenta.

Ele acrescenta que após a formação da Ptax, a moeda acompanhou o exterior em meio ao viés positivo nos mercados emergentes diante da melhora do sentimento de risco no mercado global. “O que reduziu a demanda pela divisa norte-americana”, diz.

No mês, o dólar teve valorização de 2,56% e engatou a segunda alta mensal, enquanto no trimestre, avançou 3,35%, o terceiro seguido de alta. “Ao longo do mês, as incertezas com o [programa] Renda Brasil e com as contas públicas prevaleceram no mercado doméstico. O que deixou o dólar bastante volátil”, comenta o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz. Ao longo do mês, a moeda oscilou nos níveis entre R$ 5,21 e R$ 5,67.

Amanhã, começa o feriado prolongado na China, resultando em menor liquidez no mercado. Na agenda de indicadores, o destaque fica para números de atividade nos Estados Unidos com dados sobre renda e gastos pessoais em agosto e a leitura revisada do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria em setembro.

Para Ortiz, o dólar poderá ter “viés de alívio” em meio às declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que diz não concordar com as formas de financiamento do programa Renda Cidadã, por meio de precatórios e recursos do Fundeb. “O ministro falando isso e tendo um certo respaldo do presidente Jair Bolsonaro é uma sinalização muito boa”, diz.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, devolvendo parte dos prêmios embutidos recentemente. O ambiente externo favorável ao apetite por risco favoreceu o movimento, bem como a expectativa pelo tradicional leilão de títulos públicos, amanhã, com os investidores ajustando posições antes da oferta do Tesouro. De qualquer forma, as incertezas fiscais no Brasil inibiram a curva a termo.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,05%, de 3,17% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,51%, de 4,66% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,50%, de 6,62%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,48%, de 7,60%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram em alta uma sessão marcada pelo debate presidencial, apoiados na expectativa de que um novo pacote de alívio possa ser liberado antes das eleições de 3 de novembro. Os índices, no entanto, registraram a primeira perda mensal desde março.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento: 

Dow Jones: +1,20%, 27.781,70 pontos

Nasdaq Composto: +0,74%, 11.167,50 pontos

S&P 500: +0,82%, 3.363,00 pontos