Com eleição do Congresso pró-mercado, Bolsa fecha na maior alta do ano de 5,54% e dólar desaba 4,05%

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São Paulo- Em dia de euforia no mercado, a Bolsa fecha na maior alta do ano de 5,54% e maior volume de R$ 54,4 bilhões, aos 116.134,46 pontos, renovando máximas e nos níveis de meados de abril com os investidores otimistas com a nova composição do Congresso pró-mercado, em que vislumbram reformas estruturais e privatizações, e que uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não será possível romper o teto de gastos.

Somado a isso, o fato de ter segundo turno entre Lula e o atual mandatário Jair Bolsonaro, uma vez que as pesquisas apontavam que haveria grande possibilidade de o ex-presidente ganhar no primeiro turno, animou o mercado.

As ações do Ibovespa avançaram com exceção dos papéis ligados à educação que como Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3), que caíram 1,59% e 0,34%. “Essas ações têm indexação mais forte ao governo Lula com a expansão do Fies [Fundo de Financiamento Estudantil]”, diz Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos.

O papel em maior destaque foi da Sabesp (SBSP3) -subiu 16,93% refletindo o desempenho do ex-ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para o governo de São Paulo. Ele quer privatizar a companhia o que agrada muito o mercado.

Outras estatais como as ações da Petrobras (PETR3 PETR4) avançaram 8,85% e 7,98% impactada também pelo aumento do petróleo no mercado internacional em meio às notícias de que a Opep pode cortar a produção em 1 milhão de barris e Banco do Brasil (BBAS3) subia 7,63%.

O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 5,54%, aos 116.134,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 5,22%. O giro financeiro foi de R$ 54,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, disse que esse ânimo na Bolsa é puxado pelas estatais, um otimismo exacerbado e pontual para a sessão de hoje.

“Apesar que sabíamos que iria ter um bom humor, não imaginávamos tanto. Mas isso acontece porque não deu Lula no 1º turno e diminuíram as incertezas com um Congresso pró-mercado e a possibilidade de uma agenda reformista no Congresso, dentro de um contexto de responsabilidade fiscal e com um respaldo das bolsas internacionais”.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que o ânimo do mercado é com o resultado das eleições em que a diferença entre os dois candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, foi menor que o apontado pelas pesquisas de intenção, além disso um Congresso mais à direita e a maioria dos governadores mais a favor do atual presidente.

“No final, o mercado não tem uma preferência em um candidato, mas fica a preocupação com a questão fiscal. Se o Lula conseguir a eleição e vai ter uma oposição mais forte e não vai ter cheque em branco para fazer o que quiser na questão fiscal, isso aí o mercado está disseminando hoje; se o Bolsonaro se reeleger, o Brasil fica bem-posicionado e a conduta na economia permanece a mesma”.

Hashimoto disse que “Lula tem de buscar mais apoio do centro-direita para abocanhar mais votos, mas por outro lado construiu uma gordura importante; Bolsonaro vai de ter de correr atrás”.

O dólar comercial fechou em queda de 4,05%, cotado a R$ 5,1760. A moeda refletiu a euforia do mercado com as eleições de ontem, com nomes que poderiam reforçar a pauta econômica liberal.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “na leitura do mercado, o Bolsonaro acabou aceitando o resultado, o discurso dele foi sereno. E vai ter que aceitar uma eventual derrota no segundo turno”.

Nagem explica que o dólar descolou do cenário internacional, e que o ponto de equilíbrio da moeda é entre R$ 5,10 e R$ 5,15.

Já o analista sênior da Moody’s Investors Service, Samar Maziad, entende que “os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil sugerem uma disputa apertada no segundo turno. Eles também deixaram claro que o próximo governo continuará a lidar com um Congresso muito fragmentado para avançar com a agenda de reformas das políticas públicas. Na nossa opinião, a retomada das reformas estruturais será fundamental para apoiar um crescimento maior no médio prazo e facilitar os esforços de consolidação fiscal, especialmente em um contexto de juros elevados no país. A manutenção da credibilidade do quadro fiscal no Brasil também será essencial para apoiar o perfil de crédito soberano.

De acordo com o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, “a leitura foi bastante positiva. O mercado está eufórico, mas a partir de amanhã as coisas devem voltar ao normal”.

Moliterno explica que os fatores externos, especialmente as incertezas sobre a Europa, além da tensão que deve envolver o segundo turno das eleições brasileiras, devem gerar volatilidade no dólar nas próximas semanas.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “as eleições são o principal fator para a queda do dólar, o resultado foi surpreendente. A melhor notícia para o mercado é a composição do congresso e da câmara, com candidatos de centro-direita que defendem a agenda liberal. Com isso, existe a tendência de medidas mais responsáveis, independente do presidente que for eleito”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda, repercutindo o resultado das eleições em primeiro turno.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,678% de 13,700% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,725%, de 12,780%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,465%, de 11,585% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,295% de 11,535%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em forte alta, com Dow Jones, Nasdaq e S&P subindo acima de 2%, à medida que os Treasuries norte-americanos se fortaleceram ao longo do pregão e fizeram com que os juros recuassem de suas máximas recentes que não eram vistas em décadas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +2,66%, 29.490,89 pontos
Nasdaq 100: +2,27%, 10.815,4 pontos
S&P 500: +2,58%, 3.678,43 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA