Cautela externa faz bolsa fechar em queda e dólar subir

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São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 0,64%, aos 101.259,75 pontos, com investidores mais cautelosos após quatro pregões seguidos de alta e diante da prolongada espera por um pacote de estímulos econômicos nos Estados Unidos. O total volume negociado foi de R$ 22,8 bilhões. Apesar da queda de hoje, o índice ainda fechou a semana em alta de 3%, na terceira semana consecutiva de ganhos.

“A Pelosi disse que um acordo sobre o pacote está perto de acontecer, que faltam apenas alguns detalhes, mas ela deixou em aberto quando vai ser fechado e a gente já fala disso há dois meses, é cansativo”, disse o sócio e estrategista-chefe da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini. Franchini lembra que no início da pandemia foram liberados US$ 3 trilhões para combater a crise e agora republicanos falam em US$ 1,9 trilhão, enquanto democratas em US$ 2,2 trilhões.

Hoje, a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, voltou a afirmar que houve avanços e que é possível um acordo antes das eleições, no dia 3 de novembro, mas a falta de um acordo diante da proximidade do pleito deixa investidores receosos.

Também não houve uma leitura clara do debate de ontem à noite entre o presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden. Para o estrategista, o debate foi melhor e mais organizado que o anterior, e destaca que alguns analistas políticos norte-americanos dizem que o Biden acabou se saindo melhor em questões como saúde e pandemia, mas, ao mesmo tempo, Trump saiu vitorioso em outros aspectos.

Entre as ações, as de frigoríficos, como a JBS (JBSS3 -3,31%) e Marfrig (MRFG3 -3,42%), ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, ao lado da Petro Rio (PRIO3 -3,6%).

Na contramão, alguns papéis de bancos, como os do Santander (SANB11 1,08%), fecharam em alta depois de um relatório do Bradesco BBI, que apontou que o banco pode ter um dos melhores resultados trimestrais do setor. Mas as maiores altas do índice foram da Embraer (EMBR3 3,95%), Braskem (BRKM5 4,34%) e da CSN (CSNA3 2,62%).

O analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, destaca que a temporada de balanços já vem mostrando resultados positivos e que há boas expectativas resultados de setores como os de bancos, que estão mais baratos. Para Cozzolino, a alta de bancos ajudou na recuperação do Ibovespa na semana, assim como uma redução da preocupação com a situação fiscal doméstica, com declarações reiterando compromisso com o teto de gastos. “O discurso mudou um pouco”, observa.

Na semana que vem, o analista do Daycoval destaca que será importante observar a decisão de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) e como será a sua comunicação, já que podem vir novos comentários sobre a inflação e sobre o cenário fiscal. “Caso o Banco Central se coloque de forma mais dura sobre o risco fiscal, o mercado pode entender que ele vai fechar a porta para mais quedas de juros no futuro”, disse.

Ainda na semana que vem, investidores devem continuar de olho nos Estados Unidos, em possíveis estímulos e na reta final da corrida eleitoral. Além disso, serão esperadas as reuniões de política monetária do Banco do Japão e do Banco Central Europeu.

O dólar comercial fechou em alta de 0,64% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6310 para venda, em mais uma sessão de volatilidade, exibindo a cautela dos investidores locais em meio à espera de sinais quanto às tratativas de um novo pacote de estímulo fiscal nos Estados Unidos, atento ao cenário fiscal local. Na semana, a moeda caiu 0,25%.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, ressalta que a moeda, volátil, chegou a operar em queda na abertura dos negócios, mas avançou a R$ 5,63 na primeira parte refletindo o “desconforto” do mercado doméstico com a disparada da prévia da inflação de outubro, com o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subindo 0,94%, na maior alta para o mês desde 1995. O mercado projetava alta de 0,82%.

“Ajudou na manutenção do viés de alta do dólar, na segunda parte dos negócios, o sentimento de cautela nos mercados ao redor do globo, em função do impasse nas negociações do novo pacote fiscal norte-americano”, comenta.

As tratativas em torno do pacote de estímulo fiscal seguirão no radar do mercado na próxima semana, às vésperas das eleições presidenciais nos Estados Unidos, e em semana de agenda de indicadores forte. O destaque fica para as decisões de política monetária do Banco Central (BC) brasileiro, na quarta-feira, e do Banco Central Europeu (BCE), na quinta.

O mercado é unânime na aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em 2,00% pela segunda vez consecutiva, segundo levantamento prévio do Termômetro CMA. Para a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, a autoridade monetária deverá manter a taxa no atual patamar até o começo do ano que vem, quando poderá rever o ciclo em meio à inflação acelerada.

“Deve seguir em 2% por um tempo. Mas acredito que poderá voltar a subir no ano que vem com a inflação pressionada e a taxa de câmbio acomodada acima de R$ 5,00”, avalia. A equipe econômica do Bradesco destaca que, mais importante do que a decisão, será o comunicado do Copom, no qual deverá trazer uma avaliação mais recente da atividade econômica, da inflação e sobre o ambiente fiscal.

No exterior, o destaque fica para os dados de atividade da China, da Europa e dos Estados Unidos, além das prévias do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano e da zona do euro no terceiro trimestre. “Os resultados do PIB devem apontar forte crescimento em relação ao segundo trimestre. Enquanto a decisão de política monetária do BCE deve manter os estímulos existentes”, acrescentam os analistas do Bradesco.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta acelerada, mantendo a trajetória e o ritmo dos negócios praticamente desde a abertura do pregão, reagindo aos números maiores que o esperado da prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) neste mês. Os sinais de acúmulo de pressão inflacionária somados aos riscos fiscais calibraram as expectativas em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 3,47%, de 3,27% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,92%, de 4,65% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,62%, de 6,45%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,47%, de 7,37%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado norte-americano de ações terminaram o dia sem uma direção comum, com os investidores avaliando as possibilidades de uma nova rodada de estímulos antes das eleições de 3 de novembro. Na semana, os índices fecharam com perdas, interrompendo uma sequência acumulada de três ganhos para o Dow Jones e para o S&P 500 e de quatro avanços semanais seguidos para o Nasdaq.

Configura a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,10%, 28.335,57 pontos

Nasdaq Composto: +0,37%, 11.548,28 pontos

S&P 500: +0,34%, 3.465,39 pontos