Carta de Bolsonaro faz Bolsa fechar em alta e dólar em queda

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São Paulo – A nota que o presidente Jair Bolsonaro dirigiu à nação, perto do fechamento, acalmando os ânimos com o Supremo Tribunal Federal (STF) provocou uma virada de direção exponencial na Bolsa, que passou da queda para alta de mais de 2%. O Ibovespa encerrou os negócios nesta quinta-feira com ganho de 1,71%, aos 115.360,86 pontos e chegou a atingir uma diferença de quase 4 mil pontos entre a máxima e mínima no interdiário.
O presidente disse na carta que “nunca teve intenção de agredir qualquer poder” e reiterou seu respeito às instituições, “forças motoras que ajudam a governar o País”.
Segundo José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, o presidente Jair Bolsonaro disse que vai respeitar a Constituição. “Acredito que o Temer pediu para Bolsonaro ter mais cautela no que fala e baixar os ânimos.
Na maior parte do pregão houve muita volatilidade e os investidores ficaram atentos ao cenário político e institucional, bloqueios nas estradas por parte de caminhoneiros bolsonaristas e preocupação com a inflação e o reflexo na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
A equipe da Ouro Preto Investimentos comentou que a Bolsa pode até corrigir um pouco as perdas que ontem como foi observado durante o pregão, mas “está muito cedo para esse movimento acontecer com força e mostrar-se mais robusto. Ainda não temos ideia para que lado tudo isso vai com o cenário local complicado”.
A equipe da Ouro Preto Investimentos também afirmou que os bloqueios dos caminhoneiros autônomos a favor do presidente Jair Bolsonaro “gera incertezas e dependendo de como a situação evoluir os mercados vão reagir mal”. Há rumores de que os caminhoneiros estão em Brasília aguardando um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
A equipe da Ouro Preto Investimetnos também comentou que a divulgação do IPCA acima do esperado e a preocupação com o cenário doméstico fez muitos analistas revisarem a Selic para cima. “A alta de 1,25 ponto porcentual estaria bem”, enfatizou a equipe.
Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, comentou que uma combinação de fatores contribui para a queda do Ibovespa.  “As incertezas em relação aos bloqueios nas estradas do país somado à crise política dão esse tom de pessimismo no mercado”.
Zuffo também ressaltou que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do esperado “está fazendo alguns players precificarem aumento maior que 1 ponto porcentual (pp)para o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]”.
Mais cedo Leonardo Santana, analista da Top Gain, afirmou que a Bolsa passava por “uma correção tímida, mas as tensões em relação à crise política-institucional ainda paira no ar”.
O analista da Top Gain destacou que deve-se aguardar os próximos passos do governo após o pronunciamento contundente do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, na véspera, defendendo a Corte e a democracia. “Os investidores ainda observam e mantêm cautela sobre como esse cenário reverberará nos daqui pra frente”.
Uma fonte que não quis se identificar afirmou que a Bolsa passa por um “ajuste técnico após a queda de ontem, mas pode voltar a ter volatilidade”.
Rodrigo Friedrich, sócio da Renova Invest, comentou que apesar do IPCA ter vindo acima do consenso do mercado-subiu 0,87% em agosto ante julho-, “não vejo como absurdo, foi por conta da alta da gasolina e não deve atrapalhar o mercado”.
Para Leonardo Santana, analista da Top Gain, o IPCA veio mais alto que a meta do teto de inflação do Banco Central (BC) para 2021- de 3,75%. “Mostrou efeito da inflação  e crise hídrica”. Santana acrescentou que havia rumor de que o movimento de paralisação dos caminhoneiros poderia provocar desabastecimento nos postos de combustíveis e nos mercados. “Não existe desabastecimento, mas a inflação está cada vez mais alta”, enfatizou.
O dólar comercial fechou em R$ 5,2270, com queda de 1,84%. Esta brusca desvalorização foi impulsionada por nota emitida pelo presidente Jair Bolsonaro, em tom apaziguador e defendendo a harmonia entre os poderes, já no final da sessão.
De acordo com o head de renda variável da Valor Investimentos, Pedro Lang, “isso diminui muito o risco institucional que estávamos vivendo nos últimos dias. O mercado interpreta isso de modo muito positivo, refletindo no dólar e juros. O investidor estrangeiro também vê isso de forma bastante positiva”. “Espero que esse seja o ponto final dessa conversa”, salienta Lang.
“Agora é torcer para a situação externa não piorar, principalmente nos Estados Unidos e China, para que haja a possibilidade do Brasil recuperar as perdas”, analisa Lang.
Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, “o Banco Central deve voltar a acelerar o ritmo da taxa de juros, principalmente após a alta do IPCA”. Rostagno pontua, porém que a situação doméstica segue inalterada: “Não houve nenhum sinal para a redução da tensão entre os poderes, deixando os investidores preocupados”, salienta.
Se a crise política preocupa, a fiscal não fica atrás: “As preocupações fiscais persistem, como a questão dos precatórios”, pondera Rostagno.
Segundo o economista da Aware Investments, Aldo Filho, o “as eleições começaram 13 meses antes, e isso afugenta o investidor estrangeiro”. Filho acredita que o mercado deve operar “de lado” até o final da semana, acompanhando o desenrolar da situação doméstica.
“O movimento de hoje do câmbio é mais um ajuste técnico em relação à alta de ontem, mas acredito que o dólar deve chegar no patamar de R$ 5,40 no curtíssimo prazo”, projeta Filho. O economista, porém, alerta sobre a briga entre os poderes: “Pode não ser apenas um mal-entendido, mas sim uma crise institucional”, analisa.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram a sessão em queda refletindo dado de inflação divulgado hoje e a possibilidade de um ajuste mais firme por parte do Banco Central (BC) para conter a escalada de preços e convergir com a inflação para o centro da meta.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,40%, de 6,985% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,245%, de 8,805%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,27%, de 10,04% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,72%, de 10,51%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram em queda com instabilidade causada pela reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) no fim do mês.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,43%, 34.879,38 pontos
Nasdaq Composto: -0,25%, 15.248,3 pontos
S&P 500: -0,46%, 4.493,28 pontos