BTG vê gap entre papéis e recomenda compra em Vale e neutro em Petrobras

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Gráfico com movimentações de ações / Créditos: Pexels/ Alesia Kozik

São Paulo – Os analistas do BTG Pactual destacam, em relatório, uma dissociação inédita e marcante entre a Vale e Petrobras, com o desempenho da mineradora abaixo do esperado em mais de 60 pp acumulado do ano, justificada por várias razões, que incluem uma significativa redução da exposição ao risco (de-risking) político na Petrobras e uma série de lutas de baixo para cima, juntamente com uma decepcionante história macro na China até agora impactando a Vale.

“Embora existam riscos para a chamada nomeadamente política de dividendos mais agressiva da Petrobras e recuperação do preço do petróleo, acreditamos que as expectativas são tão baixas para Vale/China que o comércio parece um tanto assimétrico”, comentam.

Os analistas ainda consideram os casos de investimento altamente descontados e baratos (reconhecidamente, a Petrobras ainda parece relativamente mais barata), mas agora acreditam em um maior potencial de valorização de curto prazo na Vale.

“Portanto, acreditamos que uma recomendação comercial tática de compra em Vale e curta em Petrobras pode funcionar e avaliamos Vale com recomendação de compra e neutra em Petrobras”, escrevem os analistas Leonardo Correa, Pedro Soares, Thiago Duarte e Caio Greiner, do BTG Pactual, ao admitirem que erraram em ambas as chamadas neste ano.

Entre os argumentos favoráveis à Vale, eles citam que o posicionamento e as expectativas atingiram as mínimas do “fundo do poço” e que defenderam por semanas que o posicionamento “short/underweight” da Vale parece perigoso, e que qualquer mudança marginal no sentimento em relação à sua agenda de baixo para cima ou a China poderia ter um impacto ampliado sobre os preços das ações. A mineradora tem sido uma das maiores fontes de financiamento do Ibovespa desde o início do ano.

Outro argumento a favor da Vale é que as questões de baixo para cima devem melhorar à frente, pois acreditam que a tempestade perfeita da mineradora em relação aos resultados decepcionantes do 1T23 devem melhorar à frente:

(1) por que os embarques de minério de ferro devem expandir bem no 2T23 (+30% trimestre a trimestre) e a empresa deve entregar seu guidance de produção para o ano de 310-320 Mt;

(2) os níveis de custo de caixa C1 devem cair de US$ 25-26/t para US$ 20-21/t no final do ano devido à diluição do custo fixo e custos de combustível mais baixos;

(3) a cia deve alcançar melhores realizações de preço com uma mistura de qualidade superior por melhorias no desempenho de Carajás e Brucutu (após a obtenção da licença da Barragem do Torto).

Os analistas também acreditam que a venda de uma participação em sua unidade de metais básicos pode ser um catalisador modesto, considerando uma avaliação de cerca de US$ 25 bilhões, ou aproximadamente 35% de seu valor de mercado.

Eles também citam avaliação mais favorável, com a Vale entregando ligeiramente acima de 10% em retornos de caixa para 2023.

E, por fim, em relação à China, apontam que embora tenham ficado materialmente desapontados com os estímulos anunciados até agora pelos formuladores de políticas, eles avaliam que o país continua buscando fortalecer a atividade doméstica e esperam que todas essas medidas acabarão por somar. “A última rodada de estímulo, para os players mercado imobiliário, com vencimentos de empréstimos prorrogados por um ano (entre outros anúncios). As expectativas são tão baixas que o “comércio da China” parece assimétrico”, comentam.

Já em relação à Petrobras, os argumentos do BTG para justificar sua cautela com o papel após o rali são que avaliam que o momento atual é de realizar lucros, citando que a companhia tem sido uma das principais empresas de desempenho superior no acumulado do ano devido a redução de risco material em relação a sua política de preços de combustível, revisões em seu plano de inestimentos e politica de dividendos. “Acreditamos que o desempenho recente do preço das ações agora reflete este cenário mais benigno”, avaliam.

Eles também citam a reavaliação do rendimento, em que o mercado parece já estar precificando em um total retorno ao acionista (dividendos + recompras) em 2023 de mais de 12% (equivalente a um pagamento superior a 40% dos ganhos), o que acreditam que limita a valorização a partir deste ponto.

E, por último, argumentam que a Petrobras tem sido mais agressiva em sua política de preços de combustíveis ultimamente após a sequência de cortes de preços anunciada. Neste contexto, recentemente levantou algumas preocupações dos investidores sobre o quão de perto isso acabaria por seguir referências de preços internacionais e as implicações para a sua história de patrimônio à frente.