Brasil quer liderar o movimento global de sustentabilidade e transição energética, diz ministro

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O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira | Foto: Tauan Alencar

São Paulo – O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o Brasil está focado em liderar o movimento global de sustentabilidade, mas que isso também passa por negociar com os países desenvolvidos para atrair investimentos e de conciliá-los com a área social, devido à desigualdade existente no País. Ele também defendeu que grandes empresas, como a Vale e a Petrobras, devem liderar esse movimento de descarbonização da economia.

“Queremos discutir de forma altiva com os países desenvolvidos e liderar o sul global. Os países desenvolvidos devem monetizar os investimentos em sustentabilidade. O Brasil é o protagonista da transição energética e tem feito isso de forma prática, por meio do ministério e órgãos de Estado, e também de forma diplomática, para atrair investimentos ao país”, comentou Silveira, em painel sobre sustentabilidade dos negócios, em evento do Previ, no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira.

“O Brasil é visto como um grande celeiro de alimentos e queremos torná-lo o grande celeiro da descarbonização e das energias renováveis. Não podemos perder essa janela de oportunidade.”

Silveira disse que o Brasil tem segurança jurídica e está bem posicionado para receber investimentos e que já iniciou o processo de criar políticas públicas com foco na transição energética. Ele lembrou que o projeto Combustível do Futuro, lançado recentemente pelo governo federal para tramitação no Congresso, cria mandato para investimentos em biorrefinaria, combustível verde, combustível sustentável de aviação (SAF). “Havia uma grande expectativa de que o Brasil criasse mandado para o combustível sustentável de aviação, por nosso protagonismo no etanol. Já estamos liderando esse processo.”

“O sol, que tanto castigou nossa população, agora é uma das principais fontes de energia limpa. E nós perdemos a oportunidade de nos posicionar na industrialização da energia fotovoltaica. Não podemos perder agora as oportunidades em descarbonização no setor de transportes, em energia éolica e hidrogênio verde. O Brasil terá hidrogênio verde, que será utilizado para produzir uréia.”

Ele também destacou o investimento feito pela Raízen em etanol de segunda geração “antes de saber se o produto tinha viabilidade comercial”, e disse que isso não vai acontecer com o SAF, que terá investimentos do governo.

Após sua visita ontem às áreas afetadas pela estiagem no Norte do Brasil na comitiva liderada pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e representantes de outros oito ministérios, ele acredita que não há outro caminho, senão a transição justa e inclusiva, destacando que a região Norte demanda investimentos em transmissão que, por isso, esta foi uma das primeiras ações da sua pasta. “Estive em Parintins e demos ordem de serviço para a linha de tranmissão que vai interligar Manaus à Boa Vista.”

O ministro destacou que o Brasil historicamente já está posicionado como um país que tem 80% de sua matriz energética produzida por fontes limpas e renováveis, e defendeu que o Brasil, em momentos de crise, pode ser socorrido por países vizinhos.

Sustentabilidade vai criar valor e gerar prêmios, diz CFO da Vale

O CFO da Vale e ex-executivo da AES, Gustavo Pimenta, disse que a sustentabilidade é um negócio que vai criar valor para a mineradora, que está investindo em produtos com baixa emissão de carbono, em que espera obter prêmios por essa característica. Ele também participou do painel sobre sustentabilidade dos negócios, em evento do Previ, no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira.

Segundo o executivo, a mineradora trabalha em duas verticais, com metais de transição, e têm potencial de liderar esse segmento. “Em Carajás há um grande potencial em cobre e níquel. Somos o maior produtor de níquel na parte ocidental e, em cobre, podemos chegar a 1 milhão de toneladas, de 450 mil t atuais. Também continuamos tendo o melhor minério de ferro do mundo. Só a Vale produz minério de ferro com 65% de teor, o que é fundamental para reduzir o consumo de energia. Somos um dos maiores produtores do mundo, com foco em qualidade.”

Pimenta afirma que a mineração sustentável também engloba ações sociais e não só produtivas. “Hoje estamos investindo de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em descarbonização dos negócios, com diversas ações, como descarbonização da frota”, explica. “O maior desafio do nosso setor é a descarbonização, já que somos responsáveis por 8% das emissões de CO2 do mundo”, disse.

A Vale desenvolveu a pelota verde, que produz 80% menos de CO2 e não consome água. “Criamos soluções e produtos para ajudar nossos clientes a descarbonizar. E esperamos que esses produtos terão um prêmio, o que nos coloca numa posição muito única, e pos isso é uma parte fundamental do nosso negócio hoje”, acrescentou Pimenta.

Investimentos

No mesmo painel, José Guiherme Souza, sócio sênior e líder da área de infraestrutura da da Vinci Partners, gestora de recursos 100% brasileira, falou sobre a atuação na área de sustentabilidade. “Desde a nossa fundação, temos trabalhado com padrões de evolução de sustentabilidade. Somos a primeira gestora independente a ser signatária do PRI (Princípios para o Investimento Responsável , uma rede internacional de instituições financeiras apoiada pelas Nações Unidas) no Brasil. Nos especializamos em trazer produtos de investimento para profissionais e institucionais e gerimos R$ 25 bilhões em fundos de crédito, de ações, de renda fixa, e também na economia real. Aqui, no Rio de Janeiro, controlamos a Light por um bom tempo, e há um ano e pouco, colocamos em operação a Rio+ Saneamento, na antiga área do bloco 3 da Cedae, junto com a Águas do Brasil. Tudo isso veio para coroar o trabalho que temos feito com investidores para atender as questões ambientais, sociais e de governança”, disse.

Souza disse que a mitigação dos impactos climáticos, com as energias renováveis, e saneamento básico estão no foco dos investimentos da companhia atualmente. “No Brasil, a perda de água chega a 70%, um despedício absurdo em um momento que o mundo discute escassez hídrica”, opinou.

Neoenergia

Eduardo Capelastegui, CEO da Neoenergia, abriu o painel destacando o investimento de quase R$ 30 bilhões da companhia no Brasil e sua atuação em todos os segmentos da energia elétrica (geração, distribuição, comercialização e transmissão) e sua parceria com a Previ. Ele disse que a empresa está investindo em hidrogênio verde.

“Empresas que apostam em sustentabilidade e inovação terão diferencial. A transição energética vai começar com projetos pequenos e os clientes querem investir nisso”, comentou o CEO.