Bolsa tem queda de 1,68% e dólar sobe em dia de aversão ao risco global com temor de juros mais altos

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São Paulo- Em dia de forte aversão ao risco global, a Bolsa recuou 1,68% com a queda das ações ligadas às commodities, como Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3), que representam quase 30% do índice, por conta da desvalorização do petróleo e do minério de ferro no mercado internacional.

A estatal petrolífera caiu respectivamente 5,64% e 5,94%. A mineradora perdeu 2,89%.

O Ibovespa também acompanhou o mau humor externo com os investidores receosos com uma elevação acima das expectativas nos juros nos Estados Unidos e na zona do euro em meio a uma inflação alta e o reflexo na economia global.

O principal índice da B3 registrou 1,68%, aos 110.430,64 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 2,02%, aos 111.900 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,1 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, disse que o aumento do temor de que o Fed eleve mais os juros acima das expectativas, após os dados do relatório Jolts, atrelado à inflação alta e, consequentemente risco de diminuição da demanda por petróleo o que levou a queda da commodity impactaram no mercado global e a Bolsa “acompanhou o cenário internacional sem fatores positivos que justificassem movimento contrário”.

Luiz Souza, operador de renda variável da SVN investimentos, comentou que o mau humor na Bolsa é atribuído a fatores externos envolvendo China, Europa e Estados Unidos.

“Com o governo chinês restringindo a circulação de pessoas, o que diminui o consumo, e limitando a produção de aço causando impacto direto nas commodities e no Ibovespa; além disso os dados de inflação alto da Alemanha [subiu 7,9% em agosto] e índice de confiança do consumidor forte nos Estados Unidos [avançou a 103,2 pontos] induzem os bancos centrais a aumentar os juros e colocar o mundo em uma recessão”.

Souza também comentou que “a gente tem a precificação direta do minério no petróleo e a nossa Bolsa é majoritariamente composta por ativos que negociam, vendem e exportam esse tipo de produto, tudo isso reflete aqui “.

O operador de renda variável da SVN investimentos disse que o grande dilema dos membros do banco central norte-americano é “conter a inflação controlando os juros, mas sem impactar a economia de uma forma brusca, já que o emprego e a confiança do consumidor estão fortes”.

Mais cedo, o Itaú BBA revisou para “neutro” as ações da Petrobras com a expectativa de que a geração de caixa não será tão forte por conta da queda do petróleo, o que “acaba tendo uma performance um pouco menor em relação a dividendos na Petrobras e não atrai quantos investidores”, completou. O dólar comercial fechou em alta de 1,54%, cotado a R$ 5,111 na venda.

Em dia de evidente aversão ao risco no mercado financeiro mundial, a moeda americana se valorizou frente ao real. As preocupações em torno de uma recessão global, as tensões entre China e Estados Unidos e a formação da Ptax configuraram um cenário de forte valorização do dólar.

A China exige que os Estados Unidos interrompam imediatamente vendas de armas a Taiwan. Antes disso, o site Politico informou que o governo do presidente Joe Biden planeja pedir ao Congresso norte-americano que autorize a venda de armas no valor US$ 1,1 bilhão (R$ 5,53 bilhões) para Taiwan.

Fernando Franklin, diretor da Amaril Franklin, destacou a questão geopolítica, mas lembrou do “IGP-M bastante abaixo do esperado”. O Indice Geral de Preços Mercado (IGP-M) caiu 0,7% em agosto, após ter registrado alta de 0,21% em julho. O mercado apostava em queda de 0,44%.

Já a Levante, em relatório, lembrou que o difícil diagnóstico acerca do fim de ciclo da economia mundial, em geral, e dos EUA, em particular, tem feito com que os mercados globais permaneçam em compasso de espera, operando de modo errático e ao sabor de dados de alta frequência, não raro destoantes.

As preocupações com a economia global, diante de um cenário iminente de recessão com a possibilidade de elevação em intensidade alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa, provocaram queda nas bolsas e nas commodities. Há ainda as dúvidas sobre a situação da China, com novos lockdowns colocando em xeque o ritmo de crescimento da economia no país asiático.

Além disso, o dólar à vista acelerou os ganhos frente ao real para formação de preço da taxa Ptax média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) de fim de mês. “Espero Ptax vendedora para capturar o prêmio de venda nesse contrato curto, mas meu cenário macro é dólar para cima”, explicou o economista Leo Nonato, parceiro da Clear.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda nesta terça-feira (30) após IGP-M bastante positivo.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,745% de 13,740% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,100%, de 13,170%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,080%, de 12,110% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,880% de 11,880%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda pelo terceiro dia consecutivo, desde os comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, durante o simpósio de Jackson Hole na última sexta-feira. Os investidores digerem os comentários de membros do Fed, que alertam para a continuidade de uma política monetária restritiva.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,96%, 31.790,87 pontos
Nasdaq Composto: -1,12%, 11.883,1 pontos
S&P 500: -1,10%, 3.986,16 pontos

 

Dylan Della Pasqua, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo/ Agência CMA