Bolsa sobe e dólar cai em semana de eleição nos EUA

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São Paulo – Após operar em leve queda na maior parte do dia, o Ibovespa virou no fim do pregão e fechou em alta de 0,17%, aos 100.925,11 pontos, com a consolidação de uma provável vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. Com investidores vendo com bons olhos o cenário que está sendo desenhado, o índice também voltou a encerrar acima dos 100 mil pontos e fechou no maior patamar em cerca de duas semanas, desde 26 de outubro (101.013,54 pontos).

Na semana, o Ibovespa subiu 7,42%, na maior alta semanal desde 1 a 5 de junho, quando avançou 8,28% e conseguiu recompor perdas da semana anterior, quando caiu 7,22%.

Mais cedo, o índice mostrava leve queda com investidores aproveitando para embolsar lucros depois dos ganhos vistos na semana. Para o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, apesar das incertezas, a vitória de Biden já era o esperado, o que levou a esse movimento, já na semana, vê alívio conforme o quadro foi ficando mais claro.

“Os mercados reagiram bem ao longo da semana principalmente no sentido de uma incerteza estar sendo retirada do cenário, seja um candidato republicano ou democrata”, disse. Ele lembra que também há expectativas de que não haja demora para a aprovação de um pacote de ajuda econômica no país.

Hoje, Biden virou nos estados da Georgia e da Pensilvânia, o que o deixou mais perto de chegar os 270 delegados necessários e até superar esse número. No entanto, o analista lembra que a possibilidade de judicialização das eleições não pode ser descartada. “As votações estão sendo muito apertadas e Trump já está entrando com processos”, afirmou.

Já para o analista político da Levante Investimentos, Felipe Berenguer, o pleito norte americano está praticamente finalizado com a virada da Pensivânia e caso Biden confirme as vitórias na Georgia, Nevada e ainda Arizona, “as chances de contestação jurídica do resultado diminuem drasticamente”.

O estrategista-chefe da Levante, Rafael Bevilacqua, ainda reforça, em relatório, que a vitória de Biden e ainda a possível manutenção da Câmara dos Deputados como democrata e a do Senado como republicano, tem sido vista como positiva pelo mercado, pois pode “unir pontos positivos de duas políticas”. “Haverá mais entraves para as propostas democratas de elevar impostos”, afirmou.

Ainda nos Estados Unidos, os dados de emprego, conhecidos como payroll, vieram mais fortes do que o esperado pelo mercado, o que limitou a queda das Bolsas por lá e aqui.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da Suzano (SUZB3 -2,72%), da Rumo (RAIL3 -3,27%) e da Fleury (FLRY3 -2,17%). Na contramão, as maiores altas foram da Hypera (HYPE3 6,02%), da Braskem (BRKM5 5,40%) e da Iguatemi (IGTA3 5,10%).

Na semana que vem, investidores devem continuar monitorando o cenário político norte-americano e os desdobramentos das eleições no país. Além disso, o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos, que mostrou recordes diários de casos por dois dias seguidos, e na Europa também estão no radar, podendo trazer volatilidade aos mercados. No Brasil, trata-se da última semana antes das eleições municipais, o que pode limitar movimentos do Congresso. Ainda haverá a última grande leva de balanços, como os de frigoríficos, e indicadores como vendas no varejo e receita de serviços.

O dólar comercial fechou em forte queda de 2,84% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3880 para venda, no maior recuo diário desde 5 de junho (-2,86%), em meio ao forte otimismo de que a eleição nos Estados Unidos já tem um eleito: o democrata Joe Biden, já que ele segue na frente na apuração de votos em estados importantes como Pensilvânia e Geórgia. Aqui, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, declarou que a agenda de reformas voltará a ser discutida na próxima semana.

“O reforço das expectativas em torno da provável vitória de Biden, após assumir a dianteira em importantes estados do país, renovou o otimismo dos investidores e tirou a força do dólar em nível global”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho. O real foi “disparada” a moeda de melhor desempenho entre as emergentes na sessão.

Ele destaca que o resultado melhor que o esperado em outubro do relatório de empregos norte-americano, o payroll, corroborou para o enfraquecimento do dólar na primeira parte dos negócios.

Em semana marcada pela eleição norte-americana, com direito a questionamentos do presidente Donald Trump – que tenta a reeleição – quanto a legalidade da contagem de votos, a moeda teve forte recuo de 6,11%, na maior queda percentual semanal desde junho.

O estrategista-chefe da XP Investimentos, Fernando Ferreira, explica que os mercados reagem com tanto otimismo em cima da provável eleição de Biden porque investidores já haviam reduzido a exposição ao risco antes das eleições. Além disso, há também eleição para o Senado norte-americano.

“Ela é quase ou até mais relevante que a presidência. Como muito provavelmente os Democratas não terão a completa maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, a chance de conseguirem aprovar medidas impopulares, como o aumento de impostos, é praticamente eliminada, o que ajuda o mercado”, avalia.

Ainda na sessão, a promessa de Rodrigo Maia em relação à retomada da agenda de reformas já na próxima semana trouxe ainda mais otimismo aos negócios locais. “E contribuiu para que o dólar sustentasse a trajetória de queda até o fechamento”, reforça o analista da Correparti. Segundo o parlamentar, a reforma tributária será votada em dezembro. Perto do fim dos negócios, a divisa norte-americana renovou mínimas sucessivas a R$ 5,3860 (-2,88%), maior queda percentual intraday desde 2 de junho.

Na semana que vem, o mercado seguirá atento ao desfecho da eleição nos Estados Unidos, à espera do “veredicto final”, diz o analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho. “Nem tanto veredicto assim porque o mercado está de olho na judicialização da eleição. Então, tem essa incerteza”, diz.

Ele acrescenta que as notícias vindas de Brasília, a partir do andamento da agenda das reformas administrativa e tributária também estarão no radar do mercado, em semana menos pesada de indicadores econômicos. Para Carvalho, a segunda onda de contaminação da covid-19, apesar de ficar em segundo plano nesta semana, deverá voltar aos holofotes nas próximas com o avanço, principalmente, nos Estados Unidos.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, invertendo a trajetória de alta ensaiada logo na abertura do pregão. O movimento foi influenciado pelo recuo acelerado do dólar, que já testa a marca de R$ 5,40, relegando relega os números acima do esperado da inflação no atacado e no varejo brasileiro divulgados hoje, que calibraram as expectativas em relação a Selic.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,35%, de 3,45% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,90%, de 5,03% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,53%, de 6,66%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,27%, de 7,42%, na mesma comparação.]

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia sem uma direção comum, em reflexo da incerteza sobre o resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos. Na semana, no entanto, tiveram a melhor performance desde abril, embalados pela perspectiva de que um Congresso dividido poderá resultar em menos impostos e regulações mais frouxas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,24%, 28.323,40 pontos

Nasdaq Composto: +0,04%, 11.895,23 pontos

S&P 500: -0,02%, 3.509,44 pontos