Bolsa sobe e dólar cai em dia de otimismo externo com dados de emprego nos EUA

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O cenário externo positivo após dados mais fortes do mercado de trabalho norte-americano (payroll) ajudou o Ibovespa a fechar em alta de 0,45%, aos 111.125,75 pontos. Trata-se do quinto dia consecutivo de altas, além do terceiro pregão seguido de renovação de recordes, terminando a primeira semana de dezembro com valorização de 2,67%.

Mais cedo, o índice chegou a máxima de 111.429,66 pontos, nova máxima histórica, e só não acelerou mais os ganhos em função da queda de ações de bancos, que têm grande peso no Ibovespa e sofreram realizações de lucros. O volume total negociado foi de R$ 17,9 bilhões.

“O mercado estava achando que o payroll poderia vir fraco por conta dos dados de criação de vagas do setor privado, que vieram abaixo do esperado esta semana, mas os números foram fantásticos. O payroll bombou e ajuda a afastar percepções de uma desaceleração mais forte da economia norte-americana”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

Foram criadas 266 mil vagas em novembro, sendo que o mercado previa a criação de 183,5 mil vagas. A criação de postos do trabalho em outubro também foi revisada para cima, de 128 mil para 156 mil.

Antes do payroll, os principais mercados acionários já avançavam depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem que as negociações com a China estão indo bem e que não havia discutido ainda sobre a implementação de uma nova rodada de tarifas sobre importados de Pequim, que deve entrar em vigor no próximo dia 15.

Entre as maiores altas do índice, ficaram os papéis da Via Varejo (VVAR3 7,19%) e das Lojas Americanas (LAME4 6,38%). As varejistas têm mantido um tom positivo desde os resultados da Black Friday e com boas expectativas para o fim do ano.

Na contramão, as maiores quedas foram do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,56%) e do Santander (SANB11 -1,24%). Além de uma realização de lucros, o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, acredita que o setor também refletiu a curva de juros, com contratos de juros futuros em queda mesmo com o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vindo um pouco acima do esperado hoje. Analistas estão atribuindo a alta do IPCA unicamente à pressão dos preços de carnes e acreditam que a Selic deve continuar a cair.

Na semana que vem, o foco deve ser a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, além das negociações comerciais entre China e Estados Unidos, com a proximidade do dia 15 (domingo).

“Sigo otimista com o mercado local, o risco é justamente as tarifas entrarem em vigor no dia 15 e não ter um acordo”, disse Zuffo. Já Bandeira, afirma que dada à sequência de altas pode vir uma realização de lucros, embora acredite que realizações têm sido absorvidas pelo mercado e a tendência segue de valorização.

O dólar comercial fechou em queda de 1,02% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1460 para venda, no menor de valor de fechamento desde 8 de novembro, quando encerrou a R$ 4,1420, refletindo o otimismo local ao longo da semana após indicadores mostrarem recuperação gradual da economia. Na sessão, correção e fluxo local levaram a divisa a renovar mínimas sucessivas na segunda parte dos negócios. Na semana, o dólar recuou 2,24% e pela segunda vez no ano, a moeda caiu nas cinco sessões.

“A moeda engatou uma trajetória de forte queda reagindo ao bom humor dos investidores locais e estrangeiros. O contentamento do investidor frente à pontual calmaria na disputa comercial entre Estados Unidos e China contribuiu para investidores assumirem risco”, comenta o analista da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

O destaque da sessão foi o relatório de emprego dos Estados Unidos, o payroll, com a criação de 266 mil vagas em novembro, ante expectativa de 183,5 mil postos de trabalho, enquanto a taxa de desemprego recuou a 3,5%.

Para o economista da Tendências Consultoria, Sílvio Campos, o resultado do payroll reforça a percepção de pausa no processo de corte dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) após três quedas consecutivas. “Na próxima semana, será importante observar a atualização das projeções econômicas do Fed, com destaque para a expectativa para o patamar dos juros no fim de 2020”, destaca.

Na próxima semana, tem as decisões de política monetária do Fed e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) no qual deverá cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual (pp) indo ao piso histórico de 4,50% ao ano. O analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi, destaca, porém, que o principal destaque na próxima semana será o “fluxo de notícias” sobre o acordo comercial entre Estados Unidos e China.

“Vale destacar que no dia 15 está previsto o início da cobrança de novas tarifas sobre produtos da China. Isso faz com que se espere que a assinatura do acordo aconteça antes da data”, comenta. Já a agenda de indicadores trará importantes números da balança comercial da China na abertura dos negócios na segunda-feira, além de vendas no varejo no País, e inflação nos Estados Unidos e na China.