Bolsa sobe e dólar cai com otimismo por reabertura das economias

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta pelo terceiro pregão consecutivo e na máxima do dia, com ganhos de 2,73%, aos 91.046,38 pontos, refletindo a recuperação de Bolsas no exterior em meio a reabertura de economias, o que fez o índice encerrar no maior nível de fechamento desde o dia 11 de março (92.214,47 pontos).

A expectativa de uma possível volta à normalidade após o auge da crise causada pelo novo coronavírus tem impulsionado a busca por risco nos últimos dias, com investidores ignorando, por enquanto, questões como o aumento de protestos antirracistas nos Estados Unidos. O volume total negociado foi de R$ 29,6 bilhões.

O estrategista em ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, destaca a dinâmica positiva de ativos de risco nos últimos dias, “até contrariando possíveis riscos, como a piora da relação entre Estados Unidos e China e as manifestações nos Estados Unidos”. Para ele, o mercado precifica uma recuperação mais rápida, que pode ser vem “V”, mas costuma exagerar nos movimentos, tanto para cima como para baixo.

Em um cenário mais conservador, ele afirma que 88 mil pontos seria um preço justo para o Ibovespa, mas no cenário mais otimista, acredita que o índice pode buscar os 94 mil pontos. No entanto, se chegar nos 94 mil pontos alerta que o mercado pode ter entrado em uma dinâmica de “certo exagero”, sujeito a correções mais fortes posteriormente.

Para o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa, por sua vez, há um movimento de ajuste depois das fortes quedas vistas com o início da pandemia, com o índice buscando um novo patamar de equilíbrio, conforme começam a surgir sinais, como indicadores, de uma recuperação global.

“Uma hora o índice teria que se ajustar, alguns papéis caíram mais de 60% desde o início da pandemia, e a economia está começando a rodar de novo. Os investidores aproveitam para analisar o que caiu demais, o que já se recuperou”, disse. Para ele, o Ibovespa pode tentar se firmar entre os 90 e 92 mil pontos.

Nos Estados Unidos, os protestos em reação ao assassinato de George Floyd por um policial branco em Minneapolis seguem se espalhando, além de ter ocorrido um aumento da violência e de saques em algumas cidades. Já há uma onda de protestos contra o racismo em outros países também. Ontem, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que pediu a todos os governadores que utilizassem toda a tropa disponível da Guarda Nacional e da polícia para “tomarem por completo suas ruas e controlarem o caos” causado, segundo ele, pelas manifestações.

Entre as ações, o setor de bancos é um dos que tem se recuperado, já que ainda mostra forte queda no ano em função da covid-19 e de projetos de lei que preveem aumento de tributação sobre o segmento, receio que foi afastado após comentários do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Com isso, as ações estão entre as que mais colaboraram para a alta do índice hoje, caso das ações do Itaú Unibanco (ITUB4 6,72%) e do Santander (SANB11 6,25%).

Já as maiores altas do Ibovespa foram das ações da Gol (GOLL4 15,77%), da Cogna (COGN3 13,67%) e da CVC (CVCB3 19,87%). Os papéis de aviação e turismo estão entre os que mais caíram com a pandemia. Na contramão, as maiores quedas do índice foram do Magazine Luiza (MGLU3 -2,87%), da B2W (BTOW3 -2,18%) e da Minerva (BEEF3 -1,14%).

Amanhã, investidores devem ficar atentos a uma agenda de indicadores mais cheia, com dados de criação de emprego no setor privado pela ADP, nos Estados Unidos, que costumam indicar qual será a tendência do “payroll”. Além disso, serão divulgados o PMI do setor de serviços, encomendas às fábricas, entre outros. Ainda serão divulgados os PMI de serviços de diversos países, como da China, Alemanha, etc. Já no Brasil, será a vez de conhecer a produção industrial de abril.

O dólar comercial fechou em forte queda de 3,22% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2130 para venda, no maior recuo percentual em um pregão desde 8 de junho de 2018, além de encerrar no menor valor de fechamento desde 17 de abril. O bom humor no mercado externo, e o movimento de técnico de desmonte de posições no mercado doméstico sustentaram a queda da moeda, relegando os conflitos nos Estados Unidos e a curva de contaminação pelo novo coronavírus no Brasil.

“A fraqueza do dólar refletiu as expectativas positivas em torno da reabertura gradual das economias, estimulando a demanda pelo risco de parte dos investidores”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Ele acrescenta que a atuação do Banco Central (BC) ontem com a oferta de dólares no mercado à vista demonstrou o “desconforto” da autoridade monetária com a nova escalada da divisa estrangeira ante o real.

“A postura do BC reverberou no mercado hoje. Isso somado ao ambiente em Brasília respirando calmaria ajuda a justificar o abandono de posições defensivas em moeda estrangeira, o que levou o nosso risco país [medido pelos swaps de default de crédito – CDS] a cair a 254 pontos”, destaca.

Apesar do otimismo, os analistas do banco Fator ressaltam que os mercados globais têm ignorado as tensões políticas dos Estados Unidos e as incertezas sobre os efeitos da reabertura das economias.

“Até a ameaça de Donald Trump [presidente dos Estados Unidos] de usar o exército caso governadores e prefeitos não restabeleçam a ordem parece ter sido vista como bravata”, avaliam. Eles acrescentam que a campanha eleitoral informal no país usa o “sofrimento e a angústia” da população, em meio ao desemprego e à desigualdade social.

Já os economistas do banco Itaú chamam a atenção para o crescimento expressivo no número de casos confirmados de covid-19 no Brasil e em outros países emergentes, como México, India e África do Sul. Enquanto as curvas de novos casos seguem em recuo nos Estados Unidos e na Europa, além da Rússia, país que o Brasil ultrapassou recentemente no total de casos. “Nós assumimos assim a segunda pior posição global, agora atrás apenas dos norte-americanos”, acrescentam.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem a reação ao resultado do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da China, de maio, além da divulgação do PMI também de serviços dos Estados Unidos no mês passado e os números do mercado trabalho norte-americano (ADP), uma prévia do payroll que sai na sexta-feira. Aqui, tem os dados da produção industrial em abril.

“Vai efetivamente mostrar o estrago das medidas de isolamento social sobre a atividade econômica, já que os dados divulgados até agora pegaram uma pequena fatia dessas medidas em março”, diz o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz. O operador de câmbio de uma corretora local acrescenta que a agenda terá “um grande peso” amanhã.