Bolsa sobe e dólar cai após governo descartar intervir na Petrobras

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São Paulo – O Ibovespa encontrou dificuldade para se firmar na faixa dos 121 mil pontos na tarde desta sexta-feira, mas ainda assim fechou em alta de 0,82%, aos 120.240,26 pontos, e interrompeu uma sequência de três semanas em queda. Na semana, a bolsa brasileira acumulou alta de 4,5%. Com isso, o índice acumula agora alta de 1,03% em 2021. Hoje, o avanço do principal índice da B3 foi puxado principalmente pela alta das ações da Petrobras e da Vale.

Os papéis da Petrobras passaram a subir mais de 3% logo pela manhã, depois de o presidente Jair Bolsonaro ter declarado durante entrevista coletiva que não haveria interferência do governo sobre os preços dos combustíveis.

“Numa resposta aos caminhoneiros e ao mercado, o presidente Bolsonaro e a equipe econômica conseguiram agradar a todos”, comentou André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora. “Aproveitaram a potencial crise da greve dos caminhoneiros para reafirmar a agenda econômica. Uma estratégia muito bem sucedida”, segundo ele.

No fim da tarde, porém, informação veiculada pela agência Reuters segundo a qual a Petrobras ampliaria o prazo para cálculo da paridade de combustível consumiu a maior parte da alta dos papéis da estatal.

As ações da Vale, por sua vez, subiram mais de 3%. Na avaliação da agência de classificação de risco de crédito Moody’s, o acordo sobre Brumadinho firmado entre a Vale e autoridades brasileiras é positivo para o crédito da mineradora por resolver, em grande parte, a incerteza relacionada aos danos coletivos.

A alta dos seus pesos-pesados garantiu ao Ibovespa uma direção clara em um dia no qual o noticiário local ameaçava trazer volatilidade ao índice.

Ontem, apenas alguns dias depois de ver seus aliados assumirem o controle tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal, Bolsonaro deixou claro que sua prioridade é a chamada pauta moral, ou “agenda de costumes”. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, manteve a defesa das reformas exigidas pelos agentes do mercado financeiro, mas sugeriu a retomada do auxílio emergencial, desde que seja acionado o “botão da calamidade pública” em decorrência da pandemia.

Os comentários de Bolsonaro e Guedes vieram à tona em um momento no qual analistas mostravam-se eufóricos com a possibilidade de, com o controle das duas casas do Congresso por seus aliados, Bolsonaro encontrar caminho livre para emplacar na metade final de seu mandato a agenda ultraliberal personificada em Guedes. Afinal, ao longo dos primeiros dois anos de governo, bastava o Palácio do Planalto encontrar algum obstáculo no Congresso para Bolsonaro vir a público se queixar do comando do Parlamento.

“Guedes parece ter dado a senha para um novo auxílio emergencial”, observou Dan Kawa, sócio-diretor da TAG Investimentos. “A pressão política parece que será grande para sua atenção. Veremos se conseguirá ter alguma contrapartida que ajude a desanuviar o quadro fiscal”, observa ele.

Enquanto isso, a safra de balanços corporativos e o otimismo com a vacina mantiveram as principais bolsas de valores do mundo no azul.

O dólar comercial fechou em queda de 1,19% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3840 para venda, em sessão volátil na primeira parte dos negócios, mas que reagiu ao otimismo externo e local. Lá fora, a divisa norte-americana perdeu terreno para as principais moedas globais após os dados mais fracos do mercado de trabalho (payroll) dos Estados Unidos. Aqui o otimismo veio das falas do presidente Jair Bolsonaro de que o governo federal não deverá interferir na política de preços de combustíveis da Petrobras.

“O decepcionante resultado do payroll confrontou o otimismo instalado após a divulgação de indicadores positivos ao longo da semana nos Estados Unidos, o que retirou o ímpeto da moeda forte”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Para o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jacomeli, o resultado “mais fraco” do payroll mostra que a atividade econômica dos Estados Unidos “não está tão boa” e é um “ingrediente a mais” para a aprovação do estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão, assunto que alimentou o otimismo externo na sessão.

O analista da Correparti acrescenta que no cenário doméstico, o alívio com a percepção de uma possível ingerência política na Petrobras, após uma reunião do presidente Jair Bolsonaro com o presidente da estatal para tratar sobre o ICMS de combustíveis, além da reafirmação do compromisso da equipe econômica com a agenda de reformas, contribuiu para que o dólar se sustentasse em queda.

Na semana marcada pela volta do Congresso e pela eleição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, a moeda recuou em 1,68%. O analista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, avalia que a euforia com a nova composição das lideranças legislativas rapidamente se dissipou.

“A abordagem mais otimista acerca dos efeitos na condução da política econômica não deve se materializar, mantendo o risco elevado no cenário. A semana deve retratar essas limitações por conta das discussões relativas ao auxílio emergencial. A expectativa é por algum sinal de acordo para viabilizar o auxílio com algum sinal de responsabilidade fiscal. A agenda envolvendo adequação dos gastos deve continuar com bases políticas bastante frágeis”, ressalta.

Na próxima semana, com destaque para dados de inflação na agenda de indicadores, Jacomeli diz que a semana tende a seguir positiva para moedas emergentes e que a inflação local pode ser “uma surpresa”, já que pode reforçar a leitura de alta da taxa Selic no curto prazo. “Atenção ao noticiário político e aos desdobramentos da negociação em torno do pacote de estímulo fiscal norte-americano”, destaca.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão sem uma direção única. Enquanto o trecho mais curto recompôs prêmios, reagindo à alta maior que a esperada do IGP-DI em janeiro e à possibilidade de nova rodada do auxílio emergencial neste ano, o trecho longo da curva a termo ensaiou queda, sob influência do dólar, após dados fracos sobre o emprego nos Estados Unidos (payroll).

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,420%, de 3,370% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,980%, de 4,875% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,31%, de 6,32%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,98%, de 6,99%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam a sessão em alta e terminaram a semana com a melhor performance desde novembro, diante da expectativa de que os dados do mercado de trabalho divulgados mais cedo acelerem os esforços para a aprovação de um pacote de estímulos amplo pelo Congresso.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,30%, 31.148,24 pontos

Nasdaq Composto: +0,57%, 13.856,30 pontos

S&P 500: +0,38%, 3.886,83 pontos