Bolsa fecha estável no último pregão do ano, aos 134 mil pontos; no ano, avança 22%

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Gráfico de ações // Créditos: Pexels/Tima Miroshnichenko

São Paulo – O Ibovespa fechou o último pregão de 2023 estável, aos 134.185,24 pontos, levemente abaixo do recorde registrado no pregão anterior, quando encerrou o dia em 134.193 pontos, alta de 0,49% em relação ao pregão anterior. O recorde anterior, de 133.532 pontos, foi registrado na última terça-feira (26).

O dia foi marcado pela divulgação do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que subiu 4,72% no acumulado dos últimos 12 meses, até dezembro, perto do limite tolerado pela meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2023, de 4,75% para meta de 3,25%. Ante novembro, a alta foi de 0,40% em dezembro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tanto o resultado mensal quanto o acumulado de 12 meses ficaram acima das projeções de +0,27% e +4,60%, respectivamente, medidas pelo Termômetro CMA.

O principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3 operou de lado e com volume de negócios bem reduzido no pregão desta quinta-feira, com investidores precificando os dados de inflação, o aumento dos juros DI e preocupações do mercado com o cenário macroeconômico, no lado negativo, e otimismo com a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos, no lado positivo.

Esses movimentos deixaram a bolsa no zero a zero. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro de 2024 caiu 0,12%, aos 135.890 pontos. O giro financeiro foi de R$ 12,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Na semana, o Ibovespa subiu 1,10%, ante 132.750,72 pontos registrados na última sexta-feira (22) no mês, o avanço foi de 5,40% em relação aos 127.331,12 pontos do dia 30 de novembro; no trimestre, a alta foi de 15,14% em relação aos 116.565,17 pontos do dia 29 de setembro; no semestre, aumentou 13,65%, de 118.087,00 pontos em 30 de junho. Na comparação anual, o Ibovespa subiu 22,30%, ante 109.734,60 pontos em 29 de dezembro de 2022.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, avalia que o IPCA-15 frustrou, de certa forma, aqueles que esperavam receber mais uma notícia boa e que se alinhasse com o otimismo recente predominante de queda da inflação. “Porém, no limite, a aceleração tirou um pouco da euforia com a possibilidade de aumento da intensidade dos cortes da Selic, mas não creio que seja suficiente para uma mudança brusca de cenário da extensão do afrouxamento monetário, que em grande parte também dependerá das decisões do Fed, onde os investidores seguem aumentando as apostas para que o ciclo de baixa dos juros comece a partir do segundo trimestre de 2024”, opina.

O analista destaca que as ações das aéreas e de turismo foram destaques de perdas na sessão, após o IPCA-15 de dezembro informar alta de 9,02% no preço das passagens aéreas. As petrolíferas também apresentaram performance negativa, acompanhando o desempenho da commodity no exterior.

“Por outro lado, os papéis da MRV estiveram entre as maiores altas do dia. O movimento se deu pela repercussão do anúncio de que a subsidiária Resia concluiu a venda do empreendimento Biscayne Drive. A companhia também informou, ontem à noite, que vai recomprar até 6.082.426 ações ordinárias para cancelamento, manutenção em tesouraria ou venda posterior”, acrescenta o analista.

Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, destaca que neste último pregão do ano, o Ibovespa operou com volume financeiro bem abaixo da média, movimento explicado pela ausência dos investidores, que apresentam apetite um pouco menor, com isso, o volume e a participação deles no mercado diminuiu, explica a analista.

Ainda assim, a analista destaca que o Ibovespa conseguiu renovar a sua máxima histórica, chegando aos 134.390 pontos, superou o recorde de ontem de 134.195 pontos. Entre as ações de maior peso no índice, as principais contribuições para esse movimento positivo vêm do setor bancário, como Itaú, sem catalisadores identificados pela analista.

Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, comenta que o Ibovespa iniciou o pregão com realização de lucros, após sequência de altas dos últimos dias, e depois virou, acompanhando o exterior, após a divulgação de dados que mostraram um leve enfraquecimento do mercado de trabalho. “Isso indica que a manutenção dos juros no atual patamar está desaquecendo a economia, o que pode levar as taxas a cair antes do esperado. As falas do [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad, que reforçou que persiguirá a meta fiscal também ajudaram o índice”, avalia.

Em relação ao ano, o sócio da Nomos destaca que que o forte desempenho em 2023 do Ibovespa contrasta com o começo de ano bastante cético e de preocupações com o cenário econômico interno e externo. “Porém, ao longo dos meses foi se formando uma combinação de fatos que permitiram a guinada do Ibovespa, com atividade mais resiliente, que resultou em forte crescimento do PIB, ao mesmo tempo em que houve a desaceleração da inflação e avanço na agenda fiscal, ainda que este último fator permaneça no radar dos investidores para 2024. Esta combinação permitiu que o Copom iniciasse os cortes da Selic, o que ajuda para a migração de recursos para a Bolsa”, analisa Alexsandro Nishimura.

“O exterior também ajudou para a melhora no cenário, principalmente a partir do momento em que os indicadores passaram a mostrar que o Fed poderia parar com as altas dos juros e até mesmo antecipar o ciclo de queda, em movimento que ficou mais claro na última reunião de política monetária, a partir da qual passou-se a admitir que a redução dos juros pode ocorrer a partir de março de 2024”, completa.

Entre os destaques de alta no ano, ele destaca ações de educação e construção. “A Yduqs fechou 2023 com fortes ganhos, o setor sofreu com falta de perspectiva de incentivos nos últimos anos. Diante disso, os papéis estavam descontados e se beneficiaram da troca de governo. Já o setor de construção se beneficiou com a volta do programa Minha Casa, Minha vida e dos cortes nas taxas de juros.”

Já o varejo foi o destaque negativo no ano. “As ações do setor de varejo estiveram entre os principais destaques negativos no ano, pressionadas pelo longo período de alta nos juros e os números nada animadores do varejo no ano. Também contribuiu para o desempenho negativo do setor no ano a queda no consumo pessoal, recordes dos endividamentos das famílias e o fim dos programas de distribuição de renda pós pandemia”, finaliza.

Para 2024, a expectativa é positiva, diante o potencial de crescimento da Bolsa brasileira. “O interesse na renda variável permanece forte, sugerindo um cenário dinâmico para os investidores”, comenta Einar Rivero, consultor financeiro independente.

Para Nishimura, os investidores devem estar atentos à realização do cenário de queda dos juros por aqui e nos EUA. “No Brasil ainda deveremos observar a realização efetiva do novo arcabouço fiscal e se realmente o governo conseguirá cumprir o equilíbrio das contas. Nos EUA, o desafio é saber se as condições econômicas permitirão que o Fed inicie o ciclo de queda dos juros ao final do primeiro trimestre, com a continuidade da queda da inflação, ao mesmo tempo em que o patamar atualmente não impacte tão profundamente o crescimento do PIB”, conclui.

O dólar comercial fechou em alta de 0,42%, cotado a R$ 4,8520. A última sessão do ano foi marcada pela baixa liquidez e a formação da Ptax, na parte da manhã. Na semana, a moeda teve desvalorização de 0,17%, enquanto no mês e trimestre as quedas foram de 1,28% e 3,48%, respectivamente. No semestre, a divisa estadunidense subiu 1,34%, enquanto no ano teve decréscimo de 7,70%.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que nos últimos dias teve um movimento agressivo do câmbio no Brasil e “hoje é a Ptax de fechamento do ano em que volatilidade vai ser bem grande e quem vai decidir são os grandes players”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta. O driver da última sessão do ano foram o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação, e o IGP-M, ambos acima das expectativas do mercado, além da alta dos rendimentos das Treasuries de 10 anos.

Por volta das 16h42 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 11,644% de 11,646% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,035% de 9,990%, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,610%, de 9,540%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 9,720% de 9,645% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar futuro com vencimento em janeiro de 2024 operava em alta de 0,41%, cotado a R$ 4,8515 para a venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão poucas alterações, com os investidores em Wall Street encerrando vendo o fim de 2023 se aproximando, após 12 meses de forte recuperação.

Na semana, os índices fecharam em alta. O Dow Jones subiu 0,49%, o Nasdaq avançou 6,08% e o S&P teve alta de 4,72%. Os No mês, o Dow Jones subiu 4,90%, o Nasdaq avançou 6,08% e o S&P subiu 4,72%. No trimestre, o Dow Jones subiu 12,5%, o Nasdaq avançou 14,1% e o S&P subiu 11,5%. No semestre, o Dow Jones subiu 9,60%, o Nasdaq avançou 9,48% e o S&P teve alta de 7,36%. No ano, o Dow Jones subiu 13,7%, o Nasdaq subiu 44,2% e o S&P teve alta de 24,5%.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,14%, 37.710,10 pontos
Nasdaq 100: -0,03%, 15.095,1 pontos
S&P 500: +0,03%, 4.783,35 pontos

Com Paulo Holland, Soraia Budaibes, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA

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